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Mercado da soja

As cotações da soja, em Chicago, não sustentaram as altas ocorridas após o anúncio dos relatórios do USDA


Foto: Pixabay

As cotações da soja, em Chicago, não sustentaram as altas ocorridas após o anúncio dos relatórios do USDA no dia 31/03 e acabaram recuando um pouco nesta semana. Mesmo assim ficaram em melhor nível do que na semana passada. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (08) em US$ 14,15/bushel, contra US$ 14,02 uma semana antes.

O mercado se posicionou, durante a semana, em relação ao relatório de oferta e demanda do USDA, o qual será divulgado nesta sexta-feira (09) e que será comentado em nosso próximo boletim. Ao mesmo tempo, as exportações de soja dos EUA se mantém positivas. O país embarcou 298.252 toneladas na semana anterior, ficando dentro das expectativas do mercado. Em todo o atual ano comercial o país norte-americano exportou 54,4 milhões de toneladas até o momento, ou seja, 71% acima do realizado na mesma época do ano anterior.

Aqui no Brasil, com o câmbio oscilando entre R$ 5,60 e R$ 5,70 por dólar durante a semana, os preços da soja voltaram a subir um pouco, porém, parece terem encontrado, por enquanto, um limite. A média gaúcha ficou em R$ 164,55/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 153,00 e R$ 161,00/saco. Há cerca de um mês que os preços internos giram nestes níveis. Ou seja, a colheita, que vem sendo revisada para cima, segura os preços, porém, não está forçando baixas nos mesmos.

Na prática, existe uma demanda muito firme pela soja brasileira, em um momento em que Chicago se mantém com cotações ao redor de pouco mais de US$ 14,00/bushel (entre cinco e seis dólares acima da média dos últimos anos) e o câmbio no Brasil atinge picos praticamente históricos em valores nominais.

A colheita brasileira atingia a 78% da área total em 1º de abril, estando agora exatamente na média histórica para esta data. Muitos Estados já encerraram a mesma, caso do Mato Grosso. Já no Rio Grande do Sul a colheita continua atrasada, porém, o volume final deverá ser recorde, superando as 20 milhões de toneladas. O Estado gaúcho estaria com a colheita ao redor de 40% da área total neste início de abril, enquanto o milho atingia a 80%. Vale destacar que muitos analistas privados nacionais estão revendo para cima a safra total brasileira. Agora, em alguns casos, já se projeta uma colheita de até 137 milhões de toneladas de soja neste ano, com produtividade média de 59,3 sacos/hectare.

No Mato Grosso, o Estado deixou de produzir um milhão de toneladas, devido a problemas climáticos, com a média ficando em 57,9 sacos/hectare. No Mato Grosso do Sul igualmente houve problemas e a média caiu para 58,6 sacos, enquanto Goiás recuou para 61,4 sacos/hectare. A Bahia aumentou sua produtividade média, atingindo a 67 sacos, o Piauí ficou em 57 sacos e o Maranhão em 54,7 sacos. No Tocantins, o clima provocou perdas importantes e a produtividade igualmente ficou em 54,7 sacos.

Em Minas Gerais a mesma recuou para 62,5 sacos/hectare, enquanto São Paulo registrou 59,5 sacos, apesar de algumas áreas terem batido nos 100 sacos/hectare. No Paraná a média ficou em 61 sacos, enquanto em Santa Catarina a mesma atingiu a 62,1 sacos e o Rio Grande do Sul a 57,9 sacos/hectare, com regiões atingindo acima de 90 sacos. (cf. Rally da Safra, promovido pela Agroconsult)

Quanto às exportações, segundo a Secex o mês de março fechou com um total ao redor de 13,5 milhões toneladas (a Anec avança 14,9 milhões exportadas). Para compensar o atraso nos embarques de fevereiro, o país deveria ter embarcado 19 milhões de toneladas em março. Com isso, abril pode atingir a 15 milhões de toneladas exportadas. Segundo a Anec o Brasil exportou, em 2021, um total de 16,4 milhões de toneladas, contra 17,1 milhões no mesmo período do ano passado. Espera-se um volume total no ano ao redor de 85 milhões de toneladas. Em termos de comercialização, o volume negociado, em 02/04, atingia a 66,6% do total, ficando abaixo dos 71,5% da safra passada nesta época, porém, bem acima dos 57,1% negociados na média histórica. (cf. Datagro) Os produtores ainda esperam melhores preços o que parece ser uma aposta arriscada considerando as tendências futuras para Chicago e o câmbio no Brasil.

Já a safra futura, a de 2021/22, que ainda não foi plantada, o volume já vendido antecipadamente atingia, em 02/04, a cerca de 13% do esperado, ficando bem acima da média histórica que é de 7,4% nesta época, porém, inferior aos 19,9% negociados em 2020. Para esta nova safra, espera-se um aumento de 2,9% na área semeada, fato que, em clima normal, poderá elevar a produção final para um novo recorde, de 141,2 milhões de toneladas. Nestas condições, o volume já vendido antecipadamente fica em pouco mais de 18 milhões de toneladas, contra 27 milhões na mesma época de 2020. (cf. Datagro) No Mato Grosso, as vendas antecipadas atingiriam a 25% do total esperado. Também aqui o percentual é mais baixo do que normalmente ocorre. 

Pelo sim ou pelo não, o momento continua sendo de preços excepcionais, melhorando consideravelmente as margens de ganho para a maioria dos produtores de soja brasileiros. Mas sempre é bom lembrar que tal realidade está fora da curva e, em algum momento, entre o segundo semestre e a colheita da nova safra, este quadro pode mudar. Assim, é o momento de capitalizar visando se preparar para os períodos menos positivos, já que o mercado, assim como a economia em geral, vive de ciclos de altos e baixos.

Neste sentido, vale destacar que, além da oferta, a grande incógnita está no comportamento da demanda chinesa. Sabe-se que a sustentação do mercado mundial da soja está na China nestes últimos anos. Ora, neste momento o país asiático freou parcialmente suas compras de soja, embora o mercado julgue ser um movimento de curto prazo. De fato, apenas se os novos focos de peste suína africana, surgidos na China, se espalharem é que poderemos assistir um processo mais duradouro de menos compras chinesas, repetindo 2018 e 2019. Caso contrário, é difícil imaginar os chineses comprando menos alimentos. Isso não significa que eles continuarão a aceitar os elevados preços internacionais da soja e outras commodities. Provavelmente os chineses irão tentar reduzir tais preços, aproveitando-se de seu forte poder de barganha.

Por enquanto, em termos de peste suína, o cenário chinês é de redução no alojamento de matrizes. Em janeiro houve queda de 5% nestes alojamentos e em fevereiro recuo  de mais 4,7%. Além disso, as carcaças registram recuo de 25% em seu peso médio, ficando em 90 quilos por animal. (cf. Agrinvest Commodities) É bom lembrar igualmente que o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China solicitou aos seus especialistas, em nutrição animal, que “busquem formulações de ração que utilizem menos milho e farelo de soja”. "A China está fazendo um esforço interno a fim de substituir o uso do milho", sendo que o país asiático, no acumulado de 12 meses até fevereiro, já registra um recorde de importação de outros cereais que chega a 24,7 milhões de toneladas, volume que é 162% maior do que o registrado no ano anterior.

O movimento impacta também o consumo do farelo de soja. "A maior utilização de cereais com maior percentual de proteína está reduzindo o uso de farelo de soja. A prova disso vem através do maior uso de óleo de soja nas rações por conta do balanço energético". (cf. Agrinvest). Mesmo assim, para este ano comercial a China deverá importar um total de 100 milhões de toneladas de soja junto aos três maiores produtores e exportadores: Brasil, EUA e Argentina. Até julho a soja brasileira é a mais barata do mundo, especialmente com o atual câmbio que praticamos. A partir de julho/agosto o produto dos EUA tende a ficar mais barato na medida em que se aproxima a nova colheita daquele país. De outubro a abril a China comprou 50,3 milhões de toneladas de soja dos três principais produtores mundiais, o que significa um aumento de 16% sobre o mesmo período do ano anterior. O volume comprado nos seis primeiros meses do ano comercial atual, portanto, é recorde histórico. Já nos primeiros seis meses do ano comercial dos EUA (setembro/20 a fevereiro/21) os EUA exportaram 54,05 milhões de toneladas de soja, sendo que 64% deste total foi para a China, superando em 9% o recorde anterior que foi em 2016/17.

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