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Merenda escolar abre mercado para pequenas propriedades

Oito comunidades já conseguiram comercializar nas escolas de Mato Grosso do Sul conforme prevê a Lei da Alimentação Escolar


Oito comunidades já conseguiram comercializar nas escolas de Mato Grosso do Sul conforme prevê a Lei da Alimentação Escolar

Campo Grande - Onze quilômetros separam a propriedade de Adão Soares do Amaral, na saída de Campo Grande, dos alunos da escola estadual Arthur Vasconcelos Dias, no bairro Estrela do Sul, onde ele levou pela primeira vez uma remessa de alimentos para a merenda escolar. Este é mais novo canal de comercialização conquistado pelo produtor, que tem crescido na atividade desde que iniciou há cerca de dois anos mesmo sem entender de hortas. Seu negócio era com as estradas brasileiras: foi caminhoneiro por muitos anos. “Estava cansado da profissão, queria acompanhar o crescimento dos meus netos, minha família”, relembra Amaral.

Ele conta que começou a trabalhar com a produção rural, estimulado pelo projeto Pais - Produção Agroecológica Integrada e Sustentável, que na capital de Mato Grosso do Sul conta com a parceria entre Sebrae, Fundação Banco do Brasil, Agraer e Prefeitura Municipal de Campo Grande. “Entrei na associação dos produtores como presidente e começamos a articular com o Sebrae”, conta.

Hoje sua propriedade produz alface, tomate, abobrinha, couve, banana, melancia, maracujá e ovos, todos sem agrotóxicos. Mas, no início, foram muitas dificuldades. “Como eu não entendia de horta, as pragas tomavam conta e não podia passar agrotóxico. Cheguei a plantar cinco vezes a mesma coisa e não vingava”. Agora, ele comemora: “quando vejo tudo verdinho e sem veneno, penso que o projeto vai ter que ampliar logo. Já está ficando pequeno para gente”.

Mais vegetais

Na escola, enquanto os professores se animam com a oportunidade de ter alimentos saudáveis na merenda, o diretor Ionedes Moreira, da escola estadual Dr. Arthur de Vasconcelos Dias, comemora a inclusão de mais vegetais na dieta dos alunos. “Assim eles são incentivados a comer verdura”, relata.

Segundo Ionedes, os produtos agroecológicos, provenientes da agricultura familiar, correspondem a 20% dos alimentos consumidos pelos 1,1 mil alunos alunos da instituição e tendem a aumentar. É que a Lei Nº 11.947, que rege a comercialização de produtos da agricultura familiar, prevê que instituições públicas de ensino comprem, no mínimo, 30% dos produtos da merenda escolar dos produtores das pequenas propriedades da região.

Mas nem tudo são folhas e frutos, segundo a consultora do Sebrae em Mato Grosso do Sul, Cláudia Matos. Ela diz que o grande desafio do projeto é comercializar toda a produção excedente das cerca de 350 unidades produtivas Pais existentes no estado. “Muitas escolas receiam que o agricultor de pequenas propriedades não consiga manter um padrão médio de quantidade de produtos”, explica.

Canal de escoamento

No entanto, o acompanhamento de perto tem permitido a abertura deste mercado. “A lei prevê e queremos garantir que haja de fato este canal de escoamento para quem produz nos assentamentos, quilombolas, comunidades indígenas e na agricultura familiar, como diz na legislação”, expõe.

Para a merenda escolar, o limite de venda é de R$ 9 mil anuais por produtor. “É um valor considerável se comparado hoje com a receita média de vendas do agricultor, que é de R$ 500 por mês. Dá quase 50% a mais de ganho só com a merenda”, avalia o gerente de Agronegócio do Sebrae no Mato Grosso do Sul, Marcus Rodrigo de Faria.

Segundo Marcus, o trabalho está apenas começando. “Demos início em agosto às negociações e a expectativa é que todos possam participar”, diz. Até o momento, oito comunidades do projeto conseguiram comercializar nas escolas por meio da Lei. A previsão é que outras entregas sejam feitas no início de setembro na rede de ensino de Campo Grande.

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