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MG: sementes crioulas resgatam tradição e sustentabilidade em Juvenília

A implantação de um campo de sementes crioulas de milho em Juvenília, no semiárido mineiro, resgatou uma tradição


Foto: Pixabay

A implantação de um campo de sementes crioulas de milho em Juvenília, no semiárido mineiro, resgatou uma tradição, disseminou o conceito de produção agroecológica e ajudou a melhorar a qualidade de vida de agricultores familiares da região. A ideia de começar um campo de sementes crioulas para distribuição aos agricultores surgiu em 2018, durante uma reunião do projeto Sementes Presentes. O projeto, executado pela Emater-MG, previa a distribuição de sementes de feijão, milho, hortaliças e sorgo a agricultores familiares.

“Em todo o país existem os “guardiões” de sementes crioulas. A ideia é não deixar morrer estas sementes antigas que foram selecionadas por décadas, passadas de geração em geração e seguem até hoje preservadas por famílias de agricultores, quilombolas ou bancos de sementes”, explica o extensionista da Emater-MG Robson Danilo Ferrreira.

Segundo ele, as sementes crioulas trazem no seu potencial genético muitas características desejadas na agricultura familiar. “Não é preciso comprar sementes todos os anos, pois elas são mais resistentes à seca e a pragas, adaptam-se a solos mais fracos e não há necessidade de adubações pesadas. Algumas regiões estão voltando a usar este milho para serem mais produtivas, com menos custos”, diz.

O pontapé inicial para a implantação do campo dessas sementes veio por meio de uma parceria com a Fundação Caio Martins (Fucam), responsável por ceder um espaço, em uma antiga fazenda-escola. No local, foi abrigado o campo de sementes crioulas de milho e feijão, com cultivo em bases agroecológicas.

O primeiro passo foi fazer a análise do solo e definir uma estratégia para o plantio das primeiras sementes obtidas, por meio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Varzelândia, município vizinho. Lá estão instaladas Casas de Sementes, locais que se destinam a preservar esses tipos de variedades e que chegam a ser trabalhadas para guardar as suas características por mais de duas décadas.

De acordo com o técnico da Emater-MG, todo o processo, do plantio até a distribuição, foi feito de forma associativa com a participação dos próprios agricultores familiares, estudantes, funcionários da Fucam, técnicos da Emater-MG, da Embrapa, das secretarias estaduais de Educação e Desenvolvimento Social, Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável, prefeitura e associações comunitárias. “Isso possibilitou uma troca de saberes muito rica entre todos os envolvidos”, avalia.

O empenho mostrou resultados já na primeira colheita, em 2019, com a produção de aproximadamente quatro toneladas de milho. As sementes colhidas foram classificadas manualmente e distribuídas a mais de 300 agricultores e associações de Juvenília e de outros municípios, para que fossem reproduzidas em novos campos.

Cultura

Com a produtividade mais alta do que no cultivo da semente convencional, muitos agricultores acreditaram na ideia e viram que o cultivo agroecológico poderia ser aplicado em suas propriedades. Mas os benefícios foram muito além e contribuíram para que a comunidade ajudasse a preservar uma cultura que atravessa gerações e que constrói a história de várias comunidades tradicionais ao longo dos tempos.

“Nossa preocupação era, além de montar o campo, participar da construção desse conhecimento”, diz o coordenador técnico estadual de agroecologia da Emater-MG José Luiz Guimarãres, responsável pelo acompanhamento técnico e pela capacitação dos envolvidos na ação.

O sucesso da experiência, levou o projeto de implantação Campo de Sementes Crioulas de Milho de Juvenília para a Semana de Integração Tecnológica da Embrapa de Sete Lagoas e está gerando demandas de informações e de sementes para plantio até de outros estados.

Além disso, com adoção de medidas agroecológicas, os resultados já começaram a impactar também no meio ambiente, com economia de água, melhoria no local de trabalho e na qualidade de vida da comunidade. Conquistas importantes para o município que possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas Gerais e concentra grande parte de seus quase seis mil habitantes na zona rural.

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