A formiga saúva é uma das principais pragas da agricultura brasileira. Causa grandes prejuízos nas mais diversas lavouras e atinge vários tipos de vegetais devido à capacidade de adaptação e proliferação, à complexa organização social e à grande voracidade. Elas atacam principalmente os citros (limão, laranja), as plantações de mandioca, eucalipto, arroz, cana-de-açúcar, milho e algodão. Nas pastagens, diminuem a capacidade de suporte e, em ataques mais severos, ocasionam a invasão do mato com a eliminação das gramíneas. Além disso, os buracos de seus ninhos podem causar queda de animais e até estragar tratores. Uma característica das formigas é que elas não comem as folhas que cortam, mas os fungos cultivados nas folhas.
Considerada uma praga endêmica, a formiga-cortadeira está presente em todo o território nacional e se divide em dois grupos, segundo informou o professor Heraldo Vasconcelos, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). “Existem três espécies que atacam gramíneas, mas não há ocorrência delas no Triângulo. São conhecidas como mata-pasto. O outro grupo é das que cortam folhas largas, existem na região e são conhecidas como saúva cabeça-de-vidro e saúva-limão”.
Minas Gerais tem a maior concentração de problemas com as formigas. Segundo estudiosos, isso é porque no Estado está a maioria das reflorestadoras do País. Para a produção de celulose, Minas tem 147.933 mil hectares de áreas reflorestadas, sendo 142.898 mil/hectares só de eucalipto. Por conseqüência, o Estado é líder de mercado no consumo de iscas formicidas.
Para combater a formiga-cortadeira, o Brasil investe em várias pesquisas e na compra de muitos quilos de inseticidas. No ano passado, o País gastou 8,5 milhões de toneladas de sulfulramida, princípio ativo utilizado na composição do Mirex S – formicida adotado no controle desse tipo de saúva no País. “Este número se refere apenas a essa armadilha, mas existem muitas outras que também são utilizadas”, disse Adalberto Jorge Laranjeiro, professor da Universidade de Rio Claro.
Segundo informou o pesquisador, na cana-de-açúcar elas diminuem consideravelmente a produtividade. Estudos realizados nesta cultura mostram que um formigueiro adulto (três anos) consome 3,2 toneladas de cana bruta por hectare – uma tonelada produz 120 quilos de açúcar ou 80 litros de álcool. Em outras palavras, um formigueiro nessa proporção causará perdas de 384 quilos de açúcar, um prejuízo estimado em R$ 75,84 por hectare, caso se considerar que cada tonelada custa em média R$ 23,70.
Jorge Laranjeiro acredita que as formigas sejam a principal praga, especialmente das empresas de reflorestamento de pinnus e eucaliptos, onde grandes somas de dinheiro são gastas para o controle. Neste tipo de cultura, um formigueiro adulto consome uma tonelada de folhas por ano, o equivalente a 86 árvores adultas de eucalipto. Dependendo do tamanho da infestação, o controle da praga pode custar de R$ 5 a R$ 30 por hectare/ano. Estima-se que o valor gasto no controle das formigas pode representar até 75% dos custos com o combate de pragas.
Uso de formicida granulada é o método mais eficiente
Os pesquisadores consideram que o desequilíbrio ambiental provocado pelo homem é um dos principais fatores que contribuem para que as formigas-cortadeiras proliferem e ataquem às diversas culturas. Segundo o professor Adalberto Jorge Laranjeiro, da Universidade de Rio Claro, se as áreas de reserva fossem bem cuidadas, elas não atacariam as lavouras, e não seria necessária aplicação de tanto formicida.
Acostumado a lidar com formigas e orientar produtores no combate à praga, o engenheiro agrônomo Ciro Carvalho de Morais, da Emater/Uberlândia, lamenta que o controle natural tenha diminuído devido à extinção de alguns predadores naturais como o tamanduá-bandeira e o mirim. “A preservação da reserva natural é importante, pois ajuda na preservação de animais que auxiliam no controle das formigas, o produtor deve ter esta consciência ecológica”, disse.
Para Morais, quando o controle é à base de formicidas, ele deve ser sistemático, realizado pelo produtor com a colaboração de seus vizinhos. “Não adiante muito o produtor realizar o combate, e seu vizinho não fazer nada, pois quando há a revoada ela vai para a outra propriedade”.
Conforme informou Morais, são três os métodos básicos de combate, cada qual com suas características de uso: utilização de pós, o uso da termonebulização e as iscas formicidas granuladas, sendo este último o método mais prático, mais barato e eficiente que se tem hoje, além de ser o de menor impacto ambiental por ter seu uso localizado.
Para que o combate se torne eficiente, é importante que seja feito antes da aração do solo e do primeiro plantio, caso contrário, o produtor corre sérios riscos de ter prejuízos. O engenheiro alerta ainda para os cuidados que o produtor deve tomar para evitar contaminação. “Para cada tipo de formicida, existe um tipo diferente de equipamento de segurança”, afirmou.