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Minas lidera lista com 126 espécies de plantas ameaçadas de extinção



Renato Fonseca
REPÓRTER

Com 126 espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, Minas Gerais aparece no topo da lista divulgada pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA), publicada ontem no «Diário Oficial da União». No país, há 472 espécies em perigo, quatro vezes mais que o levantamento anterior, de 1992, que relacionava 108. Os dados fazem parte de um estudo elaborado pela Fundação Biodiversitas, sob encomenda do órgão. Os números, porém, podem ser maiores, já que o instituto que coletou os dados contestou o documento oficial, alegando que há 1.495 espécies ameaçadas na lista entregue ao governo, há quase três anos, em dezembro de 2005.

De acordo com a coordenadora do projeto e da Fundação Biodiversitas, Gláucia Drummond, o documento apresentado não reflete a situação das espécies e deixa de proteger muitas em «situação crítica». Segundo ela, o estudo durou 12 meses e envolveu 290 botânicos, coordenados por 14 especialistas de todas as regiões do Brasil. Foram avaliadas as condições de 5.212 espécies. «Essa lista apresentada não corresponde à indicada. Nossa comunidade científica apresentou quase 1.500 espécies ameaçadas», afirma Gláucia Drummond. «Nosso estudo é biológico, e não político. O ministério tem uma lista política, já nós, uma científica», lamentou.
De acordo com a Fundação Biodiversitas, houve diversas tentativas para que ocorresse um consenso sobre o documento. «Entretanto, o MMA manteve sua posição de colocar somente essas 472 espécies em ameaça de extinção. Nós desconhecemos os critérios utilizados», acrescenta Gláucia Drummond. A lista das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, elaborada em conjunto com a comunidade científica e recomendada ao MMA, está disponível para consulta no site www.biodiversitas.org.br/florabr.
O gerente de Recursos Genéticos do MMA, Lídio Coradinn, afirmou que não havia informações suficientes para afirmar que todas as espécies apresentadas no estudo estão ou não ameaçadas. «Por isso, apresentamos outra lista com 1.079 espécies com ’deficiência de dados’, cujas informações são insuficientes para confirmar o risco», alegou Coradinn. Segundo ele, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio, técnicos do Ibama e outros cientistas vão analisar essas espécies. «Se for confirmado que realmente estão em risco, isso será levado em conta e elas serão incorporadas às outras espécies automaticamente. Por enquanto, ainda não temos essa certeza».

A Região Sudeste é a que tem o maior número de espécies sob ameaça, com 74% do total, mais do que o dobro do Nordeste, que vem em seguida. Especialistas atribuem essa maior degradação ambiental ao fato de os estados dessa região serem mais populosos, urbanizados e industrializados. O professor de Ecologia da UFMG Geraldo Wilson Fernandes acredita que as queimadas, a instalação de empresas e a especulação imobiliária ajudam a pôr em risco a vegetação e a flora nativas.
A bióloga Maria Guadalupe, da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, concorda com o professor. Segundo ela, o aumento do número de espécies ameaçadas em Minas Gerais «se deve à maior agressão ao ambiente». «Por exemplo, as atividades de carvoaria e mineração, sempre fortes no Estado, contribuem ainda mais para isso, para degradar o Cerrado e a Mata Atlântica, mais presentes nas terras mineiras. E não podemos esquecer que temos um Estado com uma grande diversidade ambiental».
O Ministério de Meio Ambiente reconheceu que há uma preocupação maior com as espécies da Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado. Com a divulgação da nova Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção, o órgão planeja desenvolver ações de conservação e recuperação. «O grande desafio agora é coibir o crime ambiental, criar mais unidades de conservação e tomar medidas para impedir o corte», afirmou Lídio Coradinn. Segundo ele, há uma série de restrições mais rígidas, principalmente para o corte. O desrespeito constitui crime ambiental, que tem como pena multas e até prisão.
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