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Molécula que trata infecções humanas pode controlar doenças dos citros

Descoberta é do Instituto Agronômico de Campinas



 
Uma molécula já usada no tratamento das infecções bacterianas das vias aéreas humanas mostrou-se eficiente no controle de fitopatógenos dos citros, incluindo a Xylella fastidiosa. A descoberta foi feita pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), por meio do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, que já fez pedido de patente no Brasil e no exterior.

 
“O trabalho é inédito, pois apesar de essa molécula ser usada na medicina, nunca foi testada para combater doenças de planta. Ressaltamos que a dose usada na planta é bem menor que a usada em seres humanos”, diz Alessandra Alves de Souza, pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
 
A novidade é que o controle pode ser feito com o princípio ativo do medicamento, não com agrotóxicos. A pesquisadora sustenta que a importância está no novo uso do produto, que tem menor impacto ambiental e já é usado como medicamento, e portanto não seria prejudicial ao homem. “Essa molécula também é usada para combater os radicais livres e ajuda na prática de exercícios físicos”, complementa.
 
COMO FUNCIONA
 
Os pesquisadores avaliaram esta molécula como estratégia para inibir ou desagregar o biofilme bacteriano da Xylella fastidiosa, causadora da Clorose Variegada dos Citros (CVC), e o da Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico. O biofilme formado pela bactéria Xanthomonas fica na superfície das folhas e o constituído pela Xylella se instala dentro da planta.
 
De acordo com Alessandra, no caso da Xanthomonas citri, esse biofilme protege as bactérias de estresses ambientais, entre eles o calor e raios UV, e de compostos antimicrobianos que possam afetar o desenvolvimento da bactéria, dentre eles o cobre, rotineiramente utilizado no controle químico da doença.
 
A pesquisa no Centro de Citricultura do IAC buscou, portanto, encontrar uma estratégia para retardar ou inibir a formação dessa capa protetora nas folhas antes da infecção, a fim de tornar a Xanthomonas mais vulnerável. Assim a bactéria ficaria mais suscetível aos estresses ambientais e aos compostos antimicrobianos. Consequentemente, seria reduzida também a quantidade de produtos químicos e os focos da doença.

 
“Com esse objetivo, avaliamos o análogo de aminoácido, o N-acetil-cisteína, chamado NAC, um agente com propriedades antibacterianas e que reduz a formação de biofilme em várias bactérias, principalmente causadoras de doenças em seres humanos”, explica a pesquisadora.
 
A pesquisa teve duração de quatro anos. “Os resultados mostram que esta molécula não só reduziu a quantidade de bactérias (Xylella fastidiosa) capazes de colonizar o xilema das plantas, como também foi capaz de reverter os sintomas de plantas com CVC. No caso da Xanthomonas, o NAC teve efeito de desprendimento da comunidade bacteriana que vive sobre as folhas”, explica. Segundo Alessandra, a aplicação de N-acetil-cisteína com cobre reduziu em até mil vezes a concentração de bactérias nas folhas. “Daí concluímos poder se tratar de nova estratégia de manejo do Cancro Cítrico.”
 
Apesar de os estudos serem feitos em condições controladas, em laboratórios e casa de vegetação, o custo final do uso dessa molécula é bastante viável. “Lembrando que o tratamento atual para CVC é à base de inseticida, o que além de alto custo, tem um alto impacto ambiental”, diz a pesquisadora.
 
A equipe segue estudando novas formas de aplicação do NAC a fim de encontrar respostas ainda mais eficientes. Os próximos passos envolvem testes em campo para controle da CVC e testes em casa de vegetação para controle do Cancro Cítrico e HLB (Greening). O IAC oferecerá também apoio a outros grupos para testes em outras culturas. A pesquisa tem apoio dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) de Genômica para Melhoramento de Citros, sob a coordenação do pesquisador e diretor do Centro de Citricultura, Marcos Antonio Machado.
 
 

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