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Monsanto prevê falta de semente transgênica


A liberação da soja transgênica no Brasil poderia desencadear um movimento de demanda por sementes muito superior à oferta. Especialistas informaram que o sistema de abastecimento de sementes no Brasil não é dos melhores e com a eventual liberação por parte do governo na próxima safra dos transgênicos não haveria semente suficiente para atender a procura dos produtores.

"No caso da soja transgênica ser liberada no Brasil a partir do ano que vem a Monsanto não teria sementes suficientes para abastecer o mercado interno, pois perdemos a oportunidade de multiplicar a semente básica para ter a semente certificada e fiscalizada para vender", afirma o presidente da empresa no Brasil, Richard Greubel.

Seriam necessários de dois a três anos para que fosse gerado um volume suficiente de sementes capaz de atender à demanda. "Baseado em outros países onde a tecnologia já foi comercializada teremos uma demanda grande, pois o preço é justo e traz muitos benefícios", afirma.

Para ele, a responsabilidade por uma eventual falta de sementes transgênicas no mercado interno é exclusivamente do governo. "A pesquisa no Brasil está totalmente paralisada. Ela é completamente legal, mas não conseguimos a aprovação para iniciarmos pesquisas. E isso vale também para a Embrapa e todas outras empresas", diz Greubel.

Faltam pesquisas

Segundo o executivo, não existem pesquisas suficientes no País para determinar se os produtos transgênicos são ou não bons ou se causam impactos no ambiente, no entanto, a Monsanto não consegue autorização para fazer essas pesquisas. "Enquanto isso o Brasil continua importando milho da Argentina, algodão dos Estados Unidos, países que já dominam essa tecnologia."

No que se refere aos "royalties", a Monsanto passará a cobrar dos produtores de soja do Brasil a partir de 2004, mesmo que o cultivo comercial não seja liberado. "Não pretendemos cobrar nenhum tipo de 'royaltie' dos produtores de soja brasileiro que cultivaram ilegalmente o grão no Brasil este ano", diz.

De acordo com o executivo, apesar de a Monsanto não produzir a semente, a tecnologia adotada na produção é da multinacional norte-americana e foi contrabandeada da Argentina. "Esse gene foi licenciado na Argentina há oito anos e foi aprovado em 1996. Em 1998 os produtores brasileiros começaram a comprar a semente, plantar no Brasil e multiplicar. Toda a produção de agora foi multiplicada no Brasil porque foi mais barato multiplicar aqui."

Cobrança de "royalties"

A partir do momento que o cultivo comercial for liberado no Brasil existirão duas formas de realizar a cobrança de royalties por parte da empresa. "Podemos cobrar quando o produtor for comprar a semente ou quando ele for entregar o grão à empresa processadora ou trading."

O preço dos "royalties" a serem pagos pelo produtor de soja transgênica com tecnologia da Monsanto ainda não está definido. "Hoje, o produtor tem um ganho entre R$ 200 e R$ 500 por hectare a mais utilizando essa tecnologia. A Monsanto irá cobrar algo justo, de tal forma que a maior parte do valor fique com o produtor", afirma Greubel.

Segundo o executivo, um bom negócio para o produtor seria receber R$ 2 para cada R$ 1 investido. Com isso, Greubel considera que seria possível ter clientes fixos. "Eles e nós ficaríamos contentes e todos sairiam ganhando", afirma ele.

O presidente da Monsanto não quis falar qual seria o valor pago pelo produtores a partir do momento que o cultivo comercial for liberado no Brasil. "Prefiro não falar exatamente o preço porque a decisão ainda não foi tomada, mas com certeza será algo justo para o produtor."

Variedade ideal

A empresa se declara contra a ilegalidade. "É ruim para o produtor que não cultiva a variedade ideal, ruim para o governo que não consegue certificar e obviamente ruim para nós. Gastamos mais de R$ 1,1 milhão no ano passado com informações, mas sempre falando para não cultivar de forma ilegal."

A polêmica gerada a respeito da rotulagem dos produtos transgênicos no Brasil não é encarada como problema pela multinacional de biotecnologia Monsanto. "A rotulagem é uma decisão individual. Existem países em que a rotulagem não é necessária e em outros o governo e a sociedade consideram isso um instrumento importante", diz Greubel.

Segundo ele, os produtos da empresa foram testados e não têm nenhum problema de segurança. "Já são oito anos sem problemas com a tecnologia em qualquer parte do mundo. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Comissão Européia informaram que esses alimentos são seguros", diz.

Para Greubel, a decisão de exigir a rotulagem dos produtos geneticamente modificados não está relacionada com a segurança do alimento, mas sim na informação ao cliente.

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