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Na proteção da renda, a busca pelo modelo ideal


Mesmo o produtor que tem lavoura segurada ainda sente-se desprotegido. Além de índices de produtividade mais adequados a cada caso, sistema é considerado lento

O agricultor Lauro Luiz Gemniczac planeja a safra de verão como se estivesse entrando num jogo de azar. O valor apostado é a soma de tudo que vai investir para plantar e cuidar da lavoura até a colheita – cerca de R$ 1,5 mil por hectare. Como planta 1,7 mil hectares, o investimento passa facilmente de R$ 2 milhões. A recompensa? Algo em torno de 20% dessa fortuna, se todos os fatores de risco estiverem a seu favor. “Se perder um ano, levo até dez para me recuperar.”

Para dividir o risco, Lauro faz seguro agrícola. Ele relata que, ainda assim, sente-se desprotegido. Isso porque as coberturas em vigor são parciais. “Planto para colher até 3,6 toneladas por hectare, mas só posso segurar 2 toneladas.” Neste caso, é preciso quebra de mais de 45% para acionar o seguro. “E a cobertura não dá para pagar todas as despesas.”


Ele sabe do que está falando. Agricultor em Campina da Lagoa, Centro-Oeste do Paraná, perdeu 380 hectares de soja por causa de uma chuva de granizo no ano passado. O gelo chegou quando a lavoura tinha dois meses. “Estava florescendo e não sobrou nada.” O custo do plantio de uma área desse tamanho, conforme cálculos atualizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a região, chega a R$ 300 mil.

O produtor acionou o seguro imediatamente, para dar tempo de replantar a área. Perda comprovada, foi necessário mais dinheiro para o novo cultivo. No entanto, o valor segurado só deve ser descontado de suas pendências a partir de agora, dez meses depois.

“Não dá para deixar de segurar, apesar do custo do seguro passar de 3% do valor do financiamento. Mas é preciso melhorar muito. Se o produtor perde a lavoura, mesmo com seguro, não consegue cobrir tudo que gastou. E, dependendo do caso, vai passar um ano sem renda. Vai tirar dinheiro de onde?”

Os problemas relatados por Lauro estão no centro das discussões sobre as contas da agricultura brasileira. Com dívidas que chegam a R$ 130 bilhões, conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o setor não pode mais se dar o direito de ter prejuízo numa safra, sob pena de entrar no círculo vicioso das prorrogações. A estruturação do seguro rural se tornou, assim, essencial para o equilíbrio financeiro da atividade agrícola a médio e longo prazo.

A conclusão dos produtores e do governo é que o modelo ideal de seguro agrícola terá de partir de índices de produtividade mais próximos da realidade de cada produtor. Por outro lado, as seguradoras querem dividir riscos e afirmam depender da criação de um fundo, a ser acionado em casos de catástrofes que ultrapassem limites suportáveis pelo setor.

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