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Novas variedades despertam o interesse de pequenos produtores gaúchos pelo arroz-de-sequeiro


Arroz, no Rio Grande do Sul, é sinônimo de cultura irrigada. Dos 961 mil hectares cultivados na atual safra, 952 mil hectares estiveram ao longo de quase todo o ciclo de crescimento da planta inundados por uma lâmina de cerca de 10 centímetros de água. Nesse ambiente, o Estado deve colher este ano 5,5 milhões de toneladas de grãos do tipo agulhinha - reconhecidamente o melhor do país. Mas, aos poucos, outro tipo de arroz - que dispensa o caríssimo processo artificial de alagamento - vai ocupando espaço na paisagem gaúcha e na mesa dos consumidores.

Velho conhecido dos gaúchos, o arroz-de-sequeiro acabou desprezado pela baixa qualidade do grão. De 35 mil hectares, a área cultivada no Estado caiu para 9 mil hectares. Nos últimos 15 anos, no entanto, o aspecto do grão mudou muito. O surgimento de variedades do tipo agulhinha adaptadas a áreas secas - desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para as chamadas terras altas do Centro-Oeste - tornou o cereal mais bonito e mais palatável.

No prato, a diferença entre o arroz irrigado tradicional e o de sequeiro de última geração praticamente desapareceu. Na lavoura, porém, a diferença entre o custo de produção de um e de outro se acentuou. Enquanto investe-se em média R$ 1,4 mil para plantar um hectare de arroz irrigado por inundação, no seco cultiva-se a mesma área com apenas R$ 600, segundo a Emater.

A vantagem despertou o interesse dos arrozeiros. Primeiro, dos grandes fazendeiros do Centro-Oeste. Atualmente, seduz pequenos produtores gaúchos de feijão, milho e sorgo. Segundo a Emater, mais de 17 municípios já produzem "o arroz das terras altas" no Estado. De início, a intenção era oferecer aos agricultores familiares "uma alternativa técnica, econômica e social", como explica o agrônomo Fernando Alves, que trabalha há mais de 10 anos com arroz-de-sequeiro. "Queríamos propiciar a essas famílias uma cultura de subsistência de custo baixo", lembra Alves.

De acordo com o pesquisador, a lavoura pode ser feita com pouca mão-de-obra. Requer 60 quilos de sementes por hectare. E se desenvolve melhor nas margens de arroios e açudes ou em áreas temporariamente alagadas pelas chuvas. Chega a render até 5 mil quilos por hectare no Estado, embora a produtividade média se situe entre 2 mil e 3,5 mil quilos por hectare. "O rendimento de engenho melhorou. A indústria já mistura esse arroz com o de lavouras irrigadas. A cor e o aspecto são semelhantes", explica Alves.

O pesquisador adverte, contudo, que esse grão não deve disputar área com o arroz irrigado. A Emater recomenda essas variedades para terras cultivadas com milho e sorgo, por exemplo. Outra vantagem, apontada pelo agrônomo Emílio Maia de Castro, da Embrapa de Goiânia (GO), que há 17 anos pesquisa o arroz de sequeiro, é o preço, similar ao do cereal irrigado.

Exposto com destaque pela Emater na Fazenda do Sobrado, em São Lourenço do Sul, durante a 13ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, na semana passada, o "arroz das terras altas" chamou a atenção do público e das autoridades que compareceram à festa. A Emater espera, agora, que a nova geração de variedades de sequeiro também caia no gosto dos produtores.

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