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O Ministério em busca da abertura comercial


Roberto Rodrigues, futuro ministro da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento do novo governo, será peça fundamental para o aprofundamento da abertura do comércio internacional agrícola. Aos 60 anos, 40 deles dedicados à militância no agronegócio nacional e internacional, Rodrigues tem não somente a aprovação de praticamente todos os elos das cadeias do agronegócio nacional, mas também a empatia e o apoio de lideranças importantes do agribusiness internacional.

"Creio que a presença de Roberto Rodrigues no Ministério da Agricultura representará um grande salto de qualidade no setor. É muito, muito difícil vencer as barreiras protecionistas dos países ricos, mas, pela sua experiência e competência, e pelo seu envolvimento no cooperativismo internacional, acredito que Rodrigues garantirá uma política agrícola capaz de acelerar as negociações rumo a liberação do comércio agrícola internacional", disse o italiano Ivano Barberini, que no ano passado substituiu Rodrigues na presidência da Associação Cooperativista Internacional (ACI), entidade com sede em Genebra, na Suíça.

Maior ONG

Maior organização não-governamental do planeta, a ACI foi criada há 107 anos, está presente em 102 países e tem 800 milhões de sócios individuais.

Barberini estava no Brasil quando Rodrigues foi nomeado ministro pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira. No último domingo, acompanhando da mulher, almoçou com Rodrigues na Fazenda Santa Isabel, de Rodrigues, em Guariba (SP), onde pode conhecer parte da família do futuro ministro da Agricultura.

Rodrigues é filho de Antônio José Rodrigues Filho, já falecido, engenheiro agrônomo, ex-presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), secretário de agricultura de São Paulo no governo de Roberto Sodré (1969-1971) e vice-governador paulista de Laudo Natel (1971-1975).

O italiano tomou conhecimento de que quase toda a família de Rodrigues está envolvida com a agricultura. "Nove dos meus 15 tios são agrônomos; minha mulher, Heloísa Helena, dois de meus quatro filhos, e uma nora, também são agrônomos", disse Rodrigues.

Nos quatro anos em que esteve à frente da ACI, até o ano passado, Rodrigues viajou mais de mil dias, por 79 países do mundo inteiro, e reformou a estrutura centenária da organização, afastando dois dos principais diretores, além de mudar conceitualmente as diretrizes da associação, disseminando no meio a sua tese da "Segunda Onda do Cooperativismo". As cooperativas, segundo ele, são o braço econômico da organização social. A tese, ele espera, pode vir a ser um importante instrumento contra a concentração de riquezas e a exclusão social, que ele julga serem os dois principais problemas que afligem o mundo de hoje.

Membro de mais de duas dezenas de entidades, entre elas a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), da qual presidente, já recebeu mais de 40 condecorações mundo afora, como o título de Professor Honorário da Universidade de Belgorod, na Rússia, em junho de 1999.

Rodrigues foi presidente da Comissão para o Progresso e Avanço das Cooperativas (Copac), organismo internacional do qual fazem parte a ACI, a ONU, a FAU e a OIT, entre outros, o que lhe dá um bom trânsito junto às organizações multilaterais de caráter governamental.

Professor da Unesp em Jaboticabal (SP) desde 1966, Rodrigues é o único doutor "honoris causa" em Ciências Agrárias da Unesp. Foi criador, nos anos 70, do sistema de rotação da cultura da cana-de-açúcar com soja ou amendoim, modelo testado nos anos 70 em sua fazenda em Guariba, que racionaliza a atividade rural e melhora a qualidade da terra dos canaviais. Rodrigues foi ainda um dos grandes responsáveis pela implantação do pagamento da cana de acordo com o teor de sacarose, que revolucionou o setor sucroalcooleiro e ampliou a renda de todo o complexo agroindustrial a ele ligado.

Abertura agrícola

"Sou caboclo e, na roça, diferente da cidade, onde tem luz acesa o tempo todo, você aprende que depois da meia-noite só pode amanhecer. Ainda estamos na meio da noite e teremos um caminho duro até o amanhecer", disse Rodrigues, durante almoço, no ano passado em sua fazenda. "Eu me referia à abertura do comércio internacional agrícola. Agora, espero poder ver a aurora até o fim do próximo governo."

Escritor, prosador e cantor, Rodrigues acha que o País tem que usar dois argumentos nas negociações internacionais. "Primeiro é nosso mercado interno, de 170 milhões de consumidores, cobiçado por qualquer país desenvolvido do mundo. Temos que negociar isso com a liberação comercial agrícola."

Além disso, o Brasil precisa compreender que os países ricos dão subsídios aos produtores rurais por questões políticas e sociais. "Não temos como evitar isto. Mas podemos dizer a eles que podem proteger seus agricultores, mas isso não pode gerar excedentes exportáveis, porque, aí, é predação comercial", afirma.

Edson Álvares da Costa

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