CI

O que causou recuo nas cotações de trigo?

A cotação do trigo, em Chicago, para o primeiro mês, fechou a quinta-feira (26) em US$ 11,43/bushel, após US$ 12,00 uma semana antes


Foto: Divulgação

A cotação do trigo, em Chicago, para o primeiro mês, fechou a quinta-feira (26) em US$ 11,43/bushel, após US$ 12,00 uma semana antes. Esse recuo ocorre mesmo com a continuidade no atraso do plantio do trigo de primavera nos EUA. Tal plantio, até o dia 22/05, atingia a 49% da área esperada, contra 83% na média histórica para esta data. Além disso, 29% das lavouras semeadas haviam germinado, contra a média histórica de 50%. Ao mesmo tempo, o USDA informou que o índice de lavouras de trigo de inverno, em boas ou excelentes condições, passou de 27% para 28% nesta última semana, contra 47% no ano passado neste mesma época.

Por outro lado, os EUA embarcaram 309.501 toneladas de trigo na semana encerrada em 19/05, ficando este volume dentro do esperado pelo mercado. O total embarcado no atual ano comercial soma 19,7 milhões de toneladas, ou seja, 21% a menos do que o registrado no mesmo período do ano anterior. Já na Ucrânia, país em guerra com a Rússia, os agricultores locais conseguiram terminar a semeadura do trigo de primavera, sendo que a área ficou 25% abaixo do registrado no ano anterior, devido justamente à guerra. A Ucrânia espera fechar a semeadura em 14,2 milhões de hectares somando todas as culturas de primavera.

E aqui no Brasil os preços do trigo se mantêm em elevação. A média gaúcha, nesta entressafra, atingiu a R$ 108,89/saco no final da presente semana, sendo que as principais praças de produção atingiram a R$ 110,00/saco. Um ano antes, a média gaúcha era de R$ 83,81/saco. Isso significa que, em termos nominais, o preço do trigo gaúcho subiu praticamente 30% nos últimos 12 meses, ou seja, bem acima da inflação oficial (12,2%), porém, ainda longe de compensar a forte elevação dos custos de produção no período. No Paraná, os preços oscilaram entre R$ 102,00 e R$ 105,00/saco, contra R$ 82,00 no final de maio do ano passado.

Com isso, a média gaúcha, em valores reais, bateu novo recorde nesta semana. Tais valores aumentam porque não há mais oferta de trigo brasileiro, especialmente o de boa qualidade, ao mesmo tempo em que Argentina e Ucrânia deverão registrar menos produção neste nova safra. E isso que a nova revalorização do Real torna o trigo importado mais barato. Entretanto, os preços internacionais do cereal, a partir da Bolsa de Chicago, continuam muito elevados. Com o pouco trigo disponível no mercado doméstico, até setembro, como se esperava, os preços do trigo tendem a continuar subindo. Os mesmos ficam regulados pela paridade de importação, a qual dependerá do câmbio no Brasil. Novas desvalorizações do Real tornam o produto importado mais caro, puxando para cima o preço interno e vice-versa. Assim, não se pode descartar a tonelada do produto subindo para R$ 2.600,00 (equivalente a R$ 156,00/saco), aumentando em 30% o valor do produto importado posto nos moinhos. Obviamente, tal quadro agravará o cenário de inflação junto aos consumidores brasileiros. 

Dito isso, o Estado de São Paulo deverá destoar dos três Estados do Sul do país, pois tende a semear 9,1% menos de trigo neste ano, com sua área final ficando em 89.900 hectares. Com isso, a produção deverá cair para 264.100 toneladas, desde que o clima colabore. Além do elevado custo de produção, pesa nessa decisão paulista o aumento na área plantada com o milho safrinha. Enfim, e como o esperado, o frio que veio com a chegada do ciclone na semana passada, no sul do Brasil, foi positivo para as lavouras de trigo da região. Mesmo no Paraná, onde já estariam semeadas 46% da área estimada para o cereal neste inverno. No Rio Grande do Sul, o plantio está apenas começando. Por outro lado, pesquisa realizada em dezembro passado no Brasil, e agora divulgada, buscando verificar o posicionamento do consumidor brasileiro quanto ao trigo transgênico, que teve aprovação para comercialização na Argentina, mostrou que mais de 70% da população não teria restrição em consumi-lo.

Diante desse resultado, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), que encomendou a pesquisa e era inicialmente contra a adoção do trigo transgênico, disse que não tem mais motivos para adotar uma postura contrária. Lembrando que a Argentina é nosso principal fornecedor de trigo e que grande parte da soja e do milho produzidos no Brasil, e em outros grandes fornecedores globais, como os Estados Unidos, é transgênica. Mas sempre houve maior preocupação da indústria sobre a aceitação do trigo, mais consumido diretamente pelas pessoas, enquanto os outros produtos são usados, em sua maioria, como matéria-prima para ração animal. 

A Argentina aprovou, em outubro de 2020, o trigo transgênico HB4, tolerante à seca e resistente a herbicida, da empresa Bioceres, mas a comercialização do produto ficou condicionada a um aval do Brasil, o que aconteceu em novembro do ano passado exclusivamente para importação de farinha produzida a partir do cereal transgênico. Agora em maio, após a autorização do órgão de biossegurança brasileiro CTNBio em 2021, o governo argentino permitiu à Bioceres a venda de sementes aos produtores argentinos. Por ora, contudo, a empresa não iniciou a comercialização, pois ela ainda está avaliando os prazos para comercializar seu trigo HB4. A avaliação ocorre enquanto há resistências de um elo importante da cadeia, os compradores de trigo, especialmente moinhos brasileiros, representados pela Abitrigo. Segundo a entidade, o Ministério da Agricultura do Brasil decidiu não convocar uma reunião do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), constituído por ministros, que teria poder de barrar a decisão do órgão técnico CTNBio sobre a farinha de trigo transgênico. Enfim, para que a farinha argentina venha a ser comercializada no Brasil, ainda há o entrave da legislação de rotulagem, que tem quase 20 anos e está “defasada”. No Brasil, a indústria é obrigada a colocar na embalagem um “T” quando há transgênico, e ainda teria de especificar a variedade de trigo que origina a farinha. Ora, a partir do momento em que mais variedades estiverem no mercado, isso seria um problema para a indústria, que manda produzir lotes de embalagens para durar meses ou às vezes anos, se a legislação não for atualizada.

As informações são da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário - CEEMA

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.