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ONU convoca reunião sobre aumento global do preço dos alimentos

Preços do trigo registraram as maiores altas em dois anos nesta semana depois que a Rússia proibiu a exportação de grãos


A FAO, agência da ONU responsável pela agricultura e segurança alimentar, convocou nesta sexta-feira uma reunião extraordinária com líderes globais para discutir o recente aumento no preço mundial de alimentos.

O encontro ocorrerá em 24 de setembro provavelmente em Roma, segundo a organização.

“Nas últimas semanas, mercados globais de cereais tiveram uma brusca alta nos preços internacionais do trigo devido à preocupação quanto à falta do produto”, disse a FAO em um comunicado.

“O propósito de organizar o encontro é que países exportadores e importadores realizem discussões construtivas para que as reações à situação atual do mercado sejam apropriadas.”

Nesta semana, protestos motivados, entre outras razões, pela alta de 30% no preço do pão nos últimos 12 meses deixaram sete mortos em Maputo, capital de Moçambique.

Rússia

O anúncio também ocorreu um dia depois do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, ampliar o prazo de proibição da exportação de grãos colhidos no país, o que aumentou o temor de que os preços de alimentos continuem a subir.

A Rússia produz entre 8% e 10% do trigo mundial e costuma exportar cerca de um terço disso.

O país, também um dos maiores produtores mundiais de cevada e centeio, foi atingido por uma forte seca neste ano. A onda de calor provocou incêndios e destruiu plantações em vastas áreas do país.

A cotação de cereais nos mercados internacionais atingiu o seu maior nível em quase dois anos no mês passado, refletindo a situação na Rússia.

Putin não disse quando o veto à exportação de grãos, inicialmente programado para ocorrer entre o meio de agosto e o fim deste ano, seria cancelado, mas disse que isso não aconteceria antes das colheitas no próximo ano.

Calcula-se que em 2010 serão colhidas 60 milhões de toneladas de grãos na Rússia, mas o país precisa de quase 80 milhões só para o consumo interno, segundo analistas. Outros grandes produtores de grãos também tiveram colheitas ruins neste ano.

Com isso, desde o início de julho, o preço do trigo para compras futuras nos mercados internacionais subiu cerca de 50%.

Segurança alimentar

Para o economista da FAO Abdolreza Abassian, os “preços de alimentos, especialmente o do trigo, são muito importantes para a segurança alimentar e até para a estabilidade política dos países”.

Segundo ele, a situação atual evidencia um grave problema: "Um grande país exportador com uma enorme influência no mercado (Rússia) pode tomar decisões unilaterais como essa. Isso causa distúrbios no mercado”.

A FAO, porém, diz que a situação atual é muito diferente da crise alimentar de anos atrás. Os alimentos hoje estão mais baratos, e a produção e os estoques, mais altos do que entre 2007 e 2008, quando o aumento nos preços gerou protestos em várias regiões do mundo.

Habitantes de países pobres costumam gastar entre 60% e 70% da sua renda com comida. Isso os torna mais sensíveis a mudanças nos preços dos alimentos. A situação piora com a especulação nos mercados futuros e com a estocagem de produtos por consumidores preocupados.

No Brasil, como os preços das grandes compras de grãos costumam ser definidos com antecedência, as altas globais só devem ser sentidas a partir do fim deste ano.

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