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Opinião: Ameaças e oportunidades ao cultivo do feijoeiro comum no Nordeste

Área de cultivo vem perigosamente perdendo espaço para a cultura do milho


Por *Carlos Roberto Martins, Helio Wilson Lemos de Carvalho, Inácio de Barros, Adenir Vieira Teodoro

Historicamente, o feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) se destaca com uma das principais culturas agrícolas no Brasil e no mundo. No Brasil, o destaque não se resume apenas aos aspectos econômicos e produtivos, mas, fundamentalmente, na segurança alimentar por fazer parte cotidiana da “mesa” das famílias, sobretudo aquelas mais carentes, que têm neste grão a base proteica de sua alimentação. O consumo per capita de feijão comum no Brasil vem se reduzindo ao longo dos anos, com uma estimativa atual de 17 kg/habitante/ano.

De acordo com dados do IBGE, a área de plantio com o feijoeiro comum vem diminuindo ao longo dos últimos anos, ao passo que a produção vem aumentando consideravelmente, graças ao desempenho produtivo das lavouras brasileiras. Entretanto, os rendimentos obtidos não são suficientes para atender a demanda interna do país, acarretando na necessidade de importar de outros de países como China, Argentina, Bolívia, Estados Unidos e Bélgica.

O feijoeiro comum é difundido e cultivado em todos os estados do País, sendo que o Paraná, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Goiás respondem por mais de 65% da produção brasileira. A região Nordeste contribui com uma pequena parte da produção nacional, sendo produzido principalmente em pequenas propriedades, principalmente como cultura de subsistência, mas com um cenário crescente de cultivo em sistemas de alta tecnologia.

Apesar da importância que o feijoeiro comum representa, a área de cultivo vem perigosamente perdendo espaço para a cultura do milho que por hora possibilita maior retorno econômico. A ameaça não se dá apenas em detrimento da área de cultivo, mas se reflete na oferta de alimento de base para muitas famílias, que buscam nesta leguminosa a proteína necessária ao seu dia a dia. Além disso, há uma forte ameaça à perda da diversidade das variedades disponíveis aos agricultores à medida que se substitui o cultivo por outra cultura e, ainda quando em consórcio que se exige outras variedades mais adaptadas comercialmente.

Existe um consenso na cadeia produtiva do feijoeiro comum sobre a carência generalizada de tecnologias para os sistemas de produção comumente empregados na região Nordeste. Por outro lado, há uma oportunidade eminente de fortalecer a agricultura familiar pelo aporte tecnológico na produção de feijoeiro comum com baixo uso de insumos externos, com o cultivo de feijão em sistemas de produção sustentáveis. O cultivo de feijoeiro comum no Nordeste vem sendo realizado com baixo uso tanto de tecnologia quanto de insumos, o que resulta em baixas produtividades. Notadamente, muito há de se evoluir no emprego de técnicas que permitam o controle de pragas e doenças, o melhoramento genético para geração de cultivares mais produtivas e adaptadas às condições ecorregionais, o manejo do solo e da água, bem como a condução do feijoeiro comum nas lavouras nordestinas que permitam seu cultivo em sistema de produção mais sustentável.

Estes temas e outras situações foram levantadas e debatidas em um recente evento, a 17ª Reunião da Comissão Técnica Norte/Nordeste-Brasileira de Feijão (CTNBF), realizado em Aracaju-SE, que teve por objetivo estimular a articulação entre os atores da Rede de Transferência de Tecnologia na Cadeia Produtiva do Feijão por meio do levantamento de ações, da identificação de demandas, da sistematização e do debate de informações técnico-científicas da cultura do feijoeiro comum para as regiões Norte e Nordeste do Brasil. Na ocasião houve a participação de agricultores e empresários, além de representantes da Embrapa Tabuleiros Costeiros (CPATC), Embrapa Arroz e Feijão (CNPAF), Instituto de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA), Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário (EBDA), Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), Secretaria de Estado da Agricultura de Alagoas (Seagri/AL), Banco do Nordeste (BNB), Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Sergipe (Seagri/SE), Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Sergipe (Fetase), Assessores Técnicos dos Territórios da Cidadania do Sertão Ocidental, Alto Sertão e Baixo São Francisco do Estado de Sergipe, Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Cooperafes/SE), e representantes de empresas privadas (Plantmax Sementes, e Heringer), para discutir os aspectos técnicos e arranjos estruturais da cultura do feijão nas regiões Norte e Nordeste.

Articulados em rede, estas instituições, empresas e produtores representam a sociedade em seus diversos segmentos: pesquisa científica, ensino, assistência técnica, extensão rural e setores de desenvolvimento de toda a cadeia produtiva do feijoeiro comum, que se congregam na Comissão Técnica Norte/Nordeste de Feijão – CTNBF. Esta ação está vinculada a Rede Brasileira da Produção de Feijão (coordenada pela Embrapa) e tem como finalidades a articulação entre estas instituições, o levantamento das demandas de pesquisa, a difusão das informações técnico-científicas geradas nos últimos anos, bem como, o delineamento de estratégias que permitam o avanço tecnológico da cultura do feijão nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Na reunião, os aspectos tecnológicos da cultura do feijão e o avanço científico foram apresentados e debatidos, bem como os gargalos produtivos em quatro áreas temáticas: ‘Fitotecnia’, ‘Fitossanidade’ (pragas e doenças), ‘Genética e Melhoramento’ e ‘Socioeconomia, Transferência de Tecnologia e Sementes’, onde as principais demandas de ações de transferência de tecnologias e políticas públicas também foram elencadas pelos representantes, no intuito de fortalecer a cultura do feijoeiro comum nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Todas estas informações, bem como a atualização dos aspectos técnicos da cultura do feijoeiro comum comporão um documento a ser publicado no final deste ano que estará à disposição de todos os interessados.

A 18ª Reunião da Comissão Técnica Norte/Nordeste-Brasileira de Feijão (CTNBF) acontecerá em 2014 no estado de Pernambuco, sendo coordenada pelo Instituto de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA).

* Carlos Roberto Martins, Helio Wilson Lemos de Carvalho, Inácio de Barros e Adenir Vieira Teodoro são pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros

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