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Opinião Econômica - Lógica

Por Delfim Netto



O grande economista e estadista Luigi Einaudi (1874-1961), ao analisar a confusão austríaca dos anos 30, indagou: "Quem assumirá a responsabilidade de conservar, renovar e fazer crescer o capital nacional, se os impostos, os altos salários e a previdência social não deixarem nenhuma margem de lucro para as empresas?"

"É preciso ser lógico", respondeu. "Ou se tenta como na Rússia, com sucesso ou não - isso não importa -, construir outro sistema social, fundado em motivos diversos dos de nossa sociedade, ou é preciso resignar-se e aceitar o elemento motor da empresa privada, que é a expectativa de lucro proporcional ao investimento realizado."

Na verdade, os dois sistemas respondem à mesma estrutura interna de crescimento: a transformação do excedente produtivo em investimento, feito ou pelo setor privado ou pelo burocrático que detém o poder político. Em princípio, se os problemas de informação puderem ser superados e se for possível estabelecer incentivos que compatibilizem os valores dos indivíduos com os objetivos estabelecidos pela burocracia, o sistema deve funcionar razoavelmente. O problema é com os "ses"!

De fato, se aqueles problemas não existissem, como supõem alguns altruístas amadores, talvez a economia centralizada pudesse ser mais eficiente do que o mercado. Restaria, entretanto, resolver o problema da liberdade, isto é, como impedir que a dominação do homem pelo homem no mercado, seja substituída pela sua dominação ainda mais dramática pelo burocrata, que é o que ocorreu na prática.

Com todos os seus defeitos, o mercado assegura algumas escolhas para os indivíduos. Quando o Estado é empregador universal, não há alternativa para os inconformados!

Até agora a centralização revelou-se incapaz de atender simultaneamente às exigências de uma produção razoavelmente eficiente e o exercício mínimo da liberdade. Esta é, obviamente, uma questão empírica que não pode ser resolvida no nível teórico. O homem vem tentando fazê-lo, praticamente, ao longo da sua história. É por isso que não é proibido sonhar como os jovens generosos de hoje: nada garante que o que não foi possível até aqui, não possa sê-lo no futuro.

Não é preciso, pois, aferrar-se ao imobilismo ou pretender que toda mudança é uma ameaça. Não é preciso aceitar os defeitos do capitalismo como se fossem dogmas religiosos. Não é preciso supor que não possamos melhorar a situação dos mais carentes. Mas não é saudável ceder à tentação simplista que ignora as restrições físicas, ou ao democratismo reacionário que pensa poder calcular, pelo voto da maioria, o valor da raiz quadrada de dois!

Como disse Einaudi: "Bisogna essere logico".

Economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura

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