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Os benefícios e riscos da biotecnologia



DO "FINANCIAL TIMES"

A maior parte dos avanços tecnológicos traz benefícios e riscos, ainda que os últimos possam ser difíceis de prever. Isso é particularmente válido quando se trata de produtos agrícolas geneticamente modificados que permitem maior rendimento, resistência a pragas e qualidade superior, mas provocam medo de danos ao ambiente.

A decisão da Índia, na semana passada, de aprovar o uso do algodão geneticamente modificado reflete a crescente confiança, nos mercados emergentes, de que os benefícios potenciais superam os riscos . O Brasil talvez siga esse exemplo dentro de algumas semanas se seus tribunais federais suspenderem a liminar que proíbe o uso de soja geneticamente modificada.

A Índia e o Brasil eram os dois maiores adversários da biotecnologia agrícola que já foi adotada por outros países em desenvolvimento, como China e Argentina. Agora, outras nações talvez sigam seus exemplos, a despeito das possíveis dificuldades para exportar esse tipo de produto para a Europa, onde os consumidores resistem a alimentos geneticamente modificados. Os benefícios da nova tecnologia são grandes demais para que os países em desenvolvimento a ignorem.

Há três preocupações quanto a organismos geneticamente modificados que são bastante substantivas, tanto para a comunidade científica como para os países que aprovarem seu uso.

O primeiro é o impacto sobre a biodiversidade caso as safras geneticamente modificadas prejudiquem outras plantas ou a vida animal. A história está cheia de consequências ambientais impensadas da ação humana, como os seis coelhos levados à Austrália no passado e cujas dezenas de milhões de descendentes hoje destroem a flora e a fauna nativas.

A segunda são as consequências dos produtos geneticamente modificados na interação com outras plantas. Por exemplo, a polinização cruzada poderia transferir genes resistentes a herbicidas para outras plantas, produzindo "superervas daninhas". Se os fazendeiros forem forçados a usar mais pesticidas contra as ervas daninhas mais poderosas assim criadas, isso talvez solape o benefício ambiental do uso de safras geneticamente modificadas que necessitam de menos agrotóxicos.

A terceira consequência é o surgimento de superpragas, resistentes aos genes nas safras criadas por biotecnologia. Isso aconteceu com as gerações anteriores de pesticidas químicos, e a resistência a genes tóxicos nas safras já foi encontrada em alguns insetos.

Há técnicas de administração para impedir o surgimento de pragas resistentes,. Mas elas exigem vigilância de parte dos fazendeiros e cuidadosa monitoração das autoridades regulatórias. Os países em desenvolvimento que estão aprovando as safras geneticamente modificadas precisam criar instituições regulatórias efetivas para garantir que os benefícios não sejam apagados pelas consequências ambientais.

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Tradução de Paulo Migliacci

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