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Os desafios da Dow para garantir competitividade

A conta mundial da gigante norte-americana Dow Chemical com matéria-prima e energia ficava em torno de US$ 8 bilhões em 2002



A conta mundial da gigante norte-americana Dow Chemical com matéria-prima e energia ficava em torno de US$ 8 bilhões em 2002. Este ano vai estar em aproximadamente US$ 32 bilhões. Em 2007, o faturamento da empresa somou US$ 54 bilhões, ante US$ 49 bilhões anteriores. As altas constantes na receita não são acompanhadas pelo lucro, que faz o caminho inverso com o impacto da elevação dos custos. No segundo trimestre deste ano a Dow informou queda de 26,8% nos ganhos, para US$ 761 milhões. Os reajustes nos preços não têm sido suficientes para equacionar essa conta e, para mudar esse cenário, a Dow desenvolve em ritmo acelerado ações múltiplas que incluem fechamento de fábricas, vendas de divisões, associações e aquisições.

Um dos principais focos é crescer nas operações de maior valor agregado. A mais recente compra anunciada, em 10 de julho, da fabricante de especialidades químicas Rhom and Haas, que mantém cinco fábricas no Brasil, é considerada estratégica nesse sentido. Mas as ações vão além: parcerias em produtos commoditizados, proximidade do cliente e busca pela sustentabilidade.

É nesse quesito que o Brasil oferece uma das maiores contribuições futuras, na avaliação do presidente da Dow para a América Latina, Pedro Suarez. "É preciso procurar novos modelos de negócios", afirma o engenheiro químico, na Dow desde 1979 e na terceira passagem pela operação brasileira. "Os projetos para utilizar fontes renováveis para produzir químicos e plásticos só estão começando ", diz Suarez nesta entrevista à Gazeta Mercantil.

Gazeta Mercantil - A Dow se desfez de alguns negócios, vários no Brasil. Como está a operação brasileira hoje?
O Brasil é o país mais importante que temos na América Latina, a região como um todo está crescendo, mas sem dúvida a estabilidade econômica e política do Brasil, com a diversidade de produtos e mercados que atendemos, nos da possibilidades enormes para crescer e estamos incorporando recursos tanto humanos como de capital para continuar crescendo. A Dow tem 52 anos no Brasil e nos últimos três quebramos recorde de venda todos os anos. Estamos aproximadamente com US$ 2,5 bilhões de faturamento aqui (em 2007, alta de 14%). O Brasil é cerca de 40% de tudo que a companhia movimenta na América Latina

Gazeta Mercantil - Que operações foram vendidas ou fechadas aqui?
Vendemos a unidade de polietileno em Cubatão (SP), saímos da PQU (Petroquímica União), fechamos uma unidade de celulose em Camaçari (BA), vendemos a unidade de vinil acetato em Cabo (PE) e está em andamento a venda de uma unidade em Camaçari para a Unigel. Antes fizemos tudo o que podíamos em redução de custo, inovação, procuramos coisas diferentes e as ações não deram resultados. Temos feito isso nos últimos dois anos no Brasil, avaliado quais os negócios que estarão conosco de forma sustentável.

Gazeta Mercantil - Deve haver nova venda ou fechamento?
Não vejo nenhuma no momento. Os negócios têm de evoluir, os cenários mudam muito rápido e as companhias têm de atuar muito rápido também para investir o dinheiro no lugar certo. Hoje não temos nenhum plano de fechar mais nenhuma unidade, mas nossa estratégia é crescer saudável

Gazeta Mercantil - E novos negócios? Estão previstos investimentos no País?
Anunciamos a expansão da unidade de TDI (diisocianato de tolueno, usado na produção de poliuretanos) em Camaçari. Temos também investido no negócio Dow AgroSciences, como na compra da Agromen, uma unidade de sementes, um investimento muito importante. Nosso objetivo é crescer em sementes e estamos trabalhando para crescer nas áreas onde temos foco, somos estratégico, somos fortes.

Gazeta Mercantil - Algumas notícias informaram a possível venda da Dow. Existem negociações nesse sentido?
De jeito nenhum. Nada. Acho importante ver os fatos. Fizemos dois anúncios muito importantes que têm há ver com a estratégia da empresa. Um foi o acordo de joint venture com a PIC (Petrochemical Industries Company) e anunciamos um acordo para a possibilidade de compra da Rhom and Haas. Se alguém ainda tem especulações então não tenho nenhum comentário. Acho que estão assistindo outro canal.

Gazeta Mercantil - Como estão os negócios mundiais?
Como uma companhia que está integrada até os intermediários mas não até o petróleo, evidentemente a Dow tem sofrido bastante com o aumento do custo da matéria-prima básica, o petróleo e o gás. Globalmente essa conta na Dow em 2002 era de US$ 8 bilhões e este ano vai ficar acima de US$ 32 bilhões. Pode ser que baixe, mas definitivamente não vai baixar nos números que tínhamos antes. Vai ser um número alto. Por isso, repensamos nossa estratégia para o futuro. Estamos fazendo joint-ventures, particularmente nos produtos commodities, que são mais cíclicos. Investimentos para estar mais próximos dos clientes e também investimos nas especialidades, produtos de performance. Isso tem orientado a estratégia global da companhia.

Gazeta Mercantil - Como estão as parcerias?
A associação com a PIC acreditamos que será fechada até o final do ano. Toda operação de polietileno está indo nessa joint venture, que é uma operação mais comoditizada. É uma forma de melhorar a rentabilidade. Mas nos últimos 2 ou 3 anos temos lançado também unidades de negócios muito especializadas, em mercado definido, em que vendemos produtos e soluções para o mercado. Um exemplo é a Dow Automotive que está crescendo de modo excelente no Brasil. Aumentamos a oferta de produtos e soluções. Na Dow Coating juntamos toda experiência e expertise na área de tintas com o intuito de ter um contato mais produtivo e rico com os clientes e desenvolver produtos conjuntamente. A América Latina oferece para a Dow uma oportunidade fantástica de desenvolver esses produtos por estar em crescimento e temos uma companhia como a Dow com uma proposta de sinergia com o cliente para solução dos problemas.

Gazeta Mercantil - Quais os principais projetos de pesquisa e desenvolvimento da Dow no Brasil?
O grande diferencial do Brasil são os produtos que podem ser feitos com insumos renováveis. Definitivamente o Brasil tem um potencial imenso nesse aspecto. Os insumos que utilizamos todos esses anos não garantem mais as margens que tínhamos no passado, então temos de procurar energia alternativa, inovar. E aí entra o Brasil com uma força enorme por ter uma competitividade global em vários segmentos, mas particularmente nesse. E o mundo está acordado para isso. O projeto mais importante para nós hoje é a produção de polietileno a partir de cana-de-açúcar. Nosso conceito é de um projeto integrado. Tem duas condições importante para fazer um investimento forte nesses produtos: ter mercado consumidor crescendo e inovando e uma integração dos insumos que seja competitiva globalmente. Montamos a joint venture (Crystalsev) e estamos dentro dos planos de começar a produzir álcool no final de 2009 e polietileno no fim de 2011. E o projeto tem uma contribuição de sustentabilidade enorme porque, líquido, vamos capturar 2 quilos de por quilo de polietileno produzido, vamos produzir 250 mil toneladas de polietileno. Vamos também produzir eletricidade capaz de atender uma população de 500 mil habitantes. E estamos trabalhando desde a plantação de cana até o polietileno.
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