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Os desafios da soja na várzea

A soja vem ganhando áreas de arroz mas ambas as culturas podem conviver em harmonia gerando renda


Foto: Marcel Oliveira

De acordo com a Conab a safra de arroz nacional 2017/2018 teve uma redução de 5,5% na produção, com 225,6 milhões de toneladas. Nesta safra o número projetado também é de queda mas, principalmente, por redução de área plantada. Outro fator vem chamando a atenção: áreas de arroz estão convivendo com o avanço da soja na planície. 

Na Metade Sul gaúcha já são cerca de 330 mil hectares com a oleaginosa, o que representa que 70% dos orizicultores também convivem com a soja na sua propriedade. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) aponta que a soja e o arroz podem caminhar juntos para baratear os custos da lavouras em até 15%, com aproveitamento de nutrientes e facilidade no preparo de solo. Entre outros fatores que podem reduzir custo está a diminuição na resistência de plantas daninhas, exigindo menos defensivo. O contraponto está na capacidade de drenagem da área. 
 
O analista da AgroDados Inteligência em Mercados de Arroz, Cleiton dos Santos, avalia que a soja entrou na cultura do arroz para fazer uma limpeza de áreas muito comprometidas com daninhas como o arroz vermelho e demais invasoras. Essa seria a vantagem em relação ao manejo. Do ponto de vista econômico ele aponta que quando o produtor fica há dez safras seguidas sem geração de renda no arroz , onde ele produziu e vendeu na média, a soja entra como um mecanismo importante porque é um novo momento de comercialização. “A soja tem liquidez permanente então o orizicultor passou a incorporar a soja não só pelos benefícios agronômicos e maior produtividade na resteva mas porque vende a soja no primeiro semestre para ter fôlego e segurar o arroz para venda no segundo semestre quando, em geral, os preços estão mais altos”, explica.

Ele ainda ressalta que muitos produtores também estão agregando a soja em área de coxilha, em regiões mais altas, e esses produtores começaram a observar as duas culturas como aliadas. “A soja é uma cultura de alto risco. Em várzea é preciso dominar as tecnologias, ter muito conhecimento. Não é um arroz diferente. É uma leguminosa. Nossas várzeas são muito rasas e compactadas para segurara água no cultivo de arroz. Agora além de irrigação precisa da drenagem muito eficiente e saber que em episódios de seca, a várzea seca mais rápido. A vantagem é que se colher bem, vende tudo”, completa. 

O Portal Agrolink também conversou com o coordenador do Irga Zona Sul, André Matos, sobre essa questões:

Portal Agrolink: como estão percebendo o desempenho da soja na várzea?
André:
a adaptação da soja a rotação com arroz passa por vários fatores mas creio que o principal seja a drenagem, macro e micro drenagem, e neste quesito estamos acompanhando evolução principalmente com a adoção de geotecnologias que vem aprimorando esta operação. A produtividade média ainda é baixa, aqui na Zona Sul região do IRGA que coordeno e tem a maior área e soja na rotação nas ultimas 9 safras estamos com 40 sc/ ha de média, em alguns anos chegamos a 50 e em outros ficamos ao redor de 20, isto mostra que seguimos buscando a estabilidade produtiva.

Portal Agrolink: é um bom negócio para o produtor de arroz?
André:
a soja vem sendo trabalhada em rotação com arroz a alguns anos na busca de melhorarmos o manejo de plantas daninhas visto que na soja tenho a possibilidade de utilizar herbicidas que não utilizo no arroz e desta forma combater a resistência de plantas daninhas, além disso o fato de realizar a semeadura direta do arroz na resteva da soja traz o beneficio de não revolver o solo minimizando o fluxo de emergência de plantas invasoras e reduzindo custo com preparo de solo, estes e outros fatores a tornam uma opção de negócio ao orizicultor. Porém como já mencionado ainda com instabilidade produtiva, principalmente por excesso e déficit hídrico.

Portal Agrolink: como o orizicultor pode começar nesse consórcio? Aconselha-se ILP junto para mais ganhos ou só a produção de dois grãos é satisfatória?
André:
cada propriedade, modelo de negócio e região possuem particularidades. Aqui na Zona Sul enxergamos vários modelos com bons resultados. A ILP com certeza traz uma série de benefícios técnicos ao sistema produtivo como a ciclagem de nutrientes, por exemplo, quando bem implementada. Porém como falei a realidade de cada região e de cada propriedade precisam ser levadas em consideração.

Portal Agrolink: como vem expandindo a área de soja por produtores de arroz? 
André:
nosso exemplo regional aponta para 7 em cada 10 arrozeiros realizando semeadura de soja na rotação. Já são 85 mil há de soja por aqui, sendo a maior área do estado de soja em rotação. No RS nesta safra chegamos a 327 mil ha maior área já semeada de soja em rotação. A safra ficou marcada pelos efeitos da estiagem severa que prejudicou o desempenho e trouxe pesados prejuízos.

Portal Agrolink: O Irga avalia como fundamental essa associação para saúde financeira do orizicultor? 
André: soja em propriedades onde a cultura se adapta pode ser uma alternativa muito interessante, porém safras como a atual onde sofremos com uma estiagem severa nos mostram que sempre estamos expostos ao risco de uma cultura não irrigada.

Portal Agrolink: é aconselhável investir em pivô central? O que o produtor deve pensar em termos de manejo, tecnologia, caso queira produzir os dois? 
André:
onde existe a convergência de fatores como propriedade adaptada e produtor com capacidade de investimento o pivô se apresenta como alternativa para irrigação e garantia de oferta de água a cultura da soja. Quanto ao arroz ainda não temos exemplos aqui na região, sendo hoje a Campanha e a Fronteira Oeste referencias no Arroz sob pivô .
 

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