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Os próximos saltos tecnológicos do agro

Computação, gestão e genética são as novas fronteiras, diz diretor de P&D da Embrapa


Computação, gestão e genética são as novas fronteiras, diz diretor de P&D da Embrapa
 
Não é só dos campos de teste de novas sementes que sairão os próximos avanços da tecnologia agropecuária. Com mais de 20 anos de carreira na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o agrônomo Mauricio Antonio Lopes bem que poderia puxar a sardinha para o seu lado e ressaltar apenas o papel do melhoramento genético no aumento da produtividade e da sustentabilidade do agro.

Mas Lopes vai muito além. Atual diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, ele ressalta que os avanços da computação tiveram e terão papel fundamental em permitir o desenvolvimento tecnológico do agro. De outro lado, ele alerta que os produtores brasileiros precisam investir em inteligência estratégica “para aproveitar os benefícios da inovação tecnológica”.

Graduado pela Universidade Federal de Viçosa e doutor em biologia molecular vegetal pela Universidade do Arizona, Lopes tem uma visão ampla dos desafios e dos caminhos para a solução. Além de sua experiência no Brasil e do mestrado e do doutorado no exterior, ele já foi articulador internacional da Embrapa.

De abril de 2007 a outubro de 2008, Lopes trabalhou junto à Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, ajudando na criação de uma plataforma global para promoção do uso sustentável da genética das plantas para a alimentação e a agricultura (GIPB/FAO).

A quais as demandas a pesquisa agropecuária precisa responder hoje?
Diversos estudos e análises recentes mostram que a nossa agricultura será desafiada por transformações substanciais ao longo das próximas décadas. A agricultura brasileira precisará demandar à pesquisa agropecuária avanços em diversificação, agregação de valor, produtividade, segurança e qualidade, com velocidade e eficiência superiores àquelas alcançadas no passado. É também chegado o momento de se investir de forma mais agressiva em inovações para agregação de valor às chamadas commodities, criando mais oportunidades para a agroindústria brasileira, em especial em mercados mais competitivos, sofisticados e rentáveis.

Como a tecnologia pode resolver questões de sustentabilidade do agro?
Para se garantir a sustentabilidade futura da agricultura frente às mudanças climáticas e à intensificação de estresses térmicos, hídricos e nutricionais previstos para as próximas décadas, serão necessários avanços substanciais em diversos campos do conhecimento científico e tecnológico. O aumento da demanda por alimentos, fibras e bioenergia exigirá sofisticação tecnológica que racionalize o uso dos insumos ambientais. Isto é, os recursos naturais – água, solo, biodiversidade etc. – e dos serviços ambientais – reciclagem de resíduos, suprimento de água, qualidade da atmosfera etc.

A ciência dará conta de superar todos esses desafios, no tempo necessário?
Os desafios são enormes. Mas conta a nosso favor o fato de que o avanço tecnológico, em diversas frentes, é impressionante. Verdadeiras revoluções estão acontecendo em vários campos do conhecimento. Na biologia, com a genômica; na física e na química, com a nanotecnologia; no campo da informação e da comunicação, com inúmeras inovações que aumentam a nossa capacidade de responder a riscos e desafios. Veja, por exemplo, o que vem acontecendo na Biologia, ao longo das últimas décadas, com os tremendos avanços nos estudos dos genomas, que nos permitem ampliar a compreensão de mecanismos complexos em plantas, animais e microrganismos. Daí surgirão muitas inovações que permitirão à agricultura avançar em diversificação, agregação de valor, produtividade, segurança e qualidade.

Como os avanços da computação afetam a agropecuária?
Inovações nos campos da tecnologia da informação e da comunicação, do sensoriamento remoto, da instrumentação avançada, da automação e da robótica indicam que a agricultura de precisão emergirá como prática comum nas propriedades do futuro. Essas ferramentas e processos nos permitirão utilizar a nossa base de recursos naturais de forma cada vez mais inteligente, garantindo mais produtividade, eficiência e sustentabilidade à nossa agricultura. A nanotecnologia, com inovações na escala do bilionésimo do metro, também promete revolucionar o desenvolvimento de múltiplos produtos, processos e instrumentos. Sensores avançados viabilizarão o monitoramento de sistemas produtivos com grande precisão. Novos materiais nos permitirão construir máquinas e equipamentos mais eficientes, precisos e duráveis.

O que o agro precisa fazer para converter esse conhecimento científico em realidade?
O agronegócio brasileiro precisará investir em capacitação de recursos humanos e sofisticação de processos, métodos e instrumentação para continuarmos competitivos. As tecnologias da informação e da comunicação prometem também revolucionando os métodos de gestão das propriedades, o acesso a mercados, a gestão da logística e a relação com os consumidores. Tais tecnologias são revolucionárias também do ponto de vista das mudanças de comportamento que provocam. Isso exigirá atenção às tendências de consumo e às percepções da sociedade em relação ao agronegócio.

Isso quer dizer que os produtores precisam se adaptar para essa nova realidade?
Liderar o processo de inovação agropecuária em momentos tão dinâmicos e desafiadores demanda estratégias mais aprimoradas de gestão, para antevisão de futuros possíveis e desafios a eles associados. Eu não tenho dúvida de que o agronegócio brasileiro precisará se nortear por uma inteligência estratégica cada vez mais sofisticada se quiser aproveitar os benefícios das mudanças de paradigmas esperadas no campo da inovação tecnológica.

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