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PAB lança número temático sobre Solos em evento de Ciência em Goiânia

A conversão de florestas em campos de agricultura exerceu forte pressão sobre os ecossistemas aquáticos e terrestres.


O uso de tecnologias conservacionistas tem permitido que os solos leves - assim chamados por terem a areia como fração predominante em sua textura-, passem a ser utilizados para produção de grãos, fibras, materiais energéticos, cana-de-açúcar, silvicultura e em pastagens cultivadas. As áreas de solos leves, antes consideradas pouco aptas para a agricultura, atualmente, com o uso de novas técnicas agrícolas, registram aumento de produtividade, especialmente na região de Matopiba, a mais recente fronteira agrícola do País, onde 20% do território é formado por solos leves.

Com cerca de 73 milhões de hectares, que abrange todo o estado de Tocantins e parte dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, a região de Matopiba saltou de 2,3 milhões de toneladas de grãos produzidos, em 2010, para uma safra aproximada de 10 milhões de toneladas em 2015. Muitas dessas terras cultivadas são constituídas de solos leves que, por ocasião da abertura dessa nova fronteira agrícola, eram pouco valorizadas, mas a partir do uso de técnicas de manejo conservacionista do solo, vem se tornando agricultáveis.

Entre as técnicas utilizadas estão o Sistema Plantio Direto (SPD), os sistemas integrados de produção, como o de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e o de Lavoura-Pecuária Floresta (ILPF) e o agroflorestal (SAF) que permitem maior produção de matéria orgânica no solo, propiciando maior fixação de nutrientes e mais disponibilidade de água.

As informações são do artigo Caracterização, potencial agrícola e perspectivas de manejo de solos leves no Brasil e é resultado de pesquisa realizada por especialistas em Solo da Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT), Embrapa Milho e Sorgo (Sete lagoas, MG), Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) e Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO). Além de Matopiba, os autores analisaram o potencial dos solos leves também em regiões como Correntina (BA), Campo Verde (MT), Guaraí (TO), Alegrete (RS), e Pirassununga (SP).

O tema integra o conjunto de 71 artigos que compõe a edição temática: O solo como fator de integração entre os Componentes Ambientais e a Produção Agropecuária da Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira – periódico técnico-científico coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)-, que será lançada nesta segunda-feira (17/10), em Goiânia, na FertBio 2016  -  evento que reúne quatro importantes eventos da Ciência do Solo: a XXXII Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, a XVI Reunião Brasileira sobre Micorrizas, o XIV Simpósio Brasileiro de Microbiologia do Solo e a XI Reunião Brasileira de Biologia do Solo.

Serviços ambientais do solo

Outros temas também se destacam nesse número temático da PAB por seu ineditismo, por exemplo, o artigo intitulado Panorama atual e potencial de aplicação da abordagem dos serviços ecossistêmicos do solo no Brasil que apresenta os principais conceitos e classificações dos chamados serviços ambientais do solo – benefícios fornecidos para a sociedade através dos recursos naturais dos ecossistemas. "Nos últimos 50 anos, os ecossistemas foram modificados pelo homem muito mais rapidamente do que qualquer outro período da história. A conversão de florestas em campos de agricultura exerceu forte pressão sobre os ecossistemas aquáticos e terrestres. Manejo inadequado e o uso indiscriminado de agroquímicos tem provocado a degradação do solo, assim como a redução das taxas de produtividade e as perdas da biodiversidade, além de impactos relacionados com alterações climáticas", destacam os autores do artigo ao avaliar o desenvolvimento da agricultura nos últimos anos.

De autoria de cientistas da Embrapa Solos, Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR), Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Cerrados e Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, DF), o trabalho teve como objetivo, além de apresentar conceitos e classificações dos serviços ambientais oferecidos pelo solo, também propor indicadores e métodos de avaliação, modelagem e valoração desses serviços, bem como apresentar aplicações recentes dessa modelagem para avaliar o impacto de práticas de manejo agrícola sobre os serviços ecossistêmicos.

"A expectativa é que essa pesquisa possa contribuir para o desenvolvimento das políticas públicas relacionadas à sustentabilidade agroambiental no Brasil", destaca uma das autoras do trabalho, a engenheira agrônoma e doutora em Ciência do Solo, Adriana Reatto, da Embrapa InformaçãoTecnológica.

A contribuição da PAB na organização de dados sobre Solos

"A insuficiência de informações e as dificuldades de acesso a dados de solos em razão da inexistência de um sistema de dados único ou de uma plataforma que permita a interpretação desses dados por profissionais que necessitam desse tipo de informação são fatores que comprometem o planejamento, a execução e o monitoramento das políticas públicas para o uso sustentável da terra em atividades agropecuárias e florestais", assim enfatizam os pesquisadores Daniel Pérez, Maria de Lourdes Mendonça e José Carlos Polidoro, em texto de apresentação da Revista PAB especial sobre Solos.

Na busca de reduzir essa deficiência de informações, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa estão desenvolvendo mecanismos colaborativos e permanentes que visam a organização e a sistematização dos dados existentes sobre solos e que se encontram dispersos.

É dentro desse espírito de buscas de novos caminhos para estudar e compreender os solos brasileiros que essa edição temática sobre solos se insere. O edital para a seleção dos trabalhos foi lançado em 2015, justamente no Ano Internacional do Solo, assim instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Foi justamente para agregar todas as abordagens sobre Solo em uma única publicação técnico-científica que os editores da PAB temática estabeleceram como tema central "O Solo como fator de integração entre os componentes ambientes e a produção agropecuária" e, a partir desse tema central, dividiram os trabalhos em três seções, de acordo com as grandes áreas de conhecimento abordadas, e com horizontes nacional, regional e local: Solo e Planejamento do uso da terra; Solo e Produção e Solo e Ambiente.

Solo e Planejamento

Nessa seção, composta por 17 artigos, estão organizados os temas que tratam da caracterização dos solos, seu potencial agrícola e manejos sustentáveis, classes e atributos dos solos e sua distribuição espacial na paisagem a partir de técnicas e ferramentas de geoprocessamento, agricultura de precisão, zoneamentos de componentes ambientais e, por último, uma contribuição complementar para o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.

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