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Para ter caixa, cafeicultor vende grão e perde preços melhores

A crise na cafeicultura obriga o produtor brasileiro a vender a saca do grão mais barata


A crise na cafeicultura obriga o produtor brasileiro a vender a saca do grão mais barata, mesmo em um ano com um déficit de produção estimado em 2,2 milhões de sacas. Ao longo da última temporada, o deságio do preço do café arábica brasileiro em relação a cotação na Bolsa de Nova York (NYSE, na silga em inglês) aumentou cerca de 10 centavos de dólar por libra-peso, passando de 16,03 centavos de dólar por libra-peso em agosto passado, para 26,06 na prévia deste mês de junho (até o dia 22). Nas últimas semanas, houve ainda momentos nos quais o deságio em relação ao café colombiano, no qual se baseia o contrato da NYSE, ultrapassou a marca dos 3 mil pontos (30 centavos). A situação se agrava em razão da desvalorização do dólar frente ao real.

De acordo com Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, os fundamentos explicam a valorização do café colombiano, mas não a queda no preço do produto brasileiro. Segundo ele, a Colômbia enfrentou uma quebra na última safra que diminuiu de 12,5 milhões para cerca de 10,5 milhões de sacas, a oferta de café do país. A diminuição da oferta do concorrente fez os compradores direcionarem seus negócios para o Brasil, mas a necessidade de fazer caixa levou os cafeicultores a perderem a janela de oportunidade. "O produtor aproveitou simplesmente para vender mais café e não aumentar o faturamento, e quando percebeu que poderia valorizar o produto, já tinha comprometido 30 milhões de sacas", avaliou Barabach. Com a entrada da safra 2009/2010 no Brasil, o deságio do produto nacional tende a crescer. "Além do aumento da oferta, o comprador já está abastecido de café de origem Brasil e deverá focar mais na compra do produto com origem na América Central", afirmou.

Segundo Sérgio Carvalhaes, sócio do Escritório Carvalhaes, com o cenário de crise mundial, onde há diversos países com graus de dificuldade diferentes, a força de negociação de fundos e grandes empresas se tornou maior que o próprio mercado. "Os compradores sabem da situação crítica do produtor brasileiro e quem está com dinheiro em caixa é que manda no mercado", disse Carvalhaes. O empresário criticou ainda o fato da cotação em Nova York continuar sendo pautada pelo produto da Colômbia. "Os melhores cafés brasileiros hoje não devem nada aos melhores cafés colombianos", afirmou.

Crise

Em busca de soluções para a crise, cafeicultores de todo o Brasil visitam gabinetes em Brasília na tentativa de prorrogar as dívidas da cafeicultura. A inadimplência do setor é de 23% das 23 mil operações movimentadas pelo Agronegócio no Banco do Brasil. A liberação de R$ 1 bilhão do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) - do total de R$ 1,8 bilhão previsto para a safra de 2009 - ainda não aliviou a situação do setor, que acumula dívida de R$ 4,2 bilhões e tenta novamente trocar os débitos por sacas de café, ao preço de R$ 320, recompondo estoques reguladores.

Uma das reclamações dos cafeicultores se dá em relação a morosidade no repasse dos recursos. "Todo pequeno e médio produtor já vai ter vendido até o final do ano", disse Carvalhaes. "Quando o mercado tiver que reagir, o café já não vai mais estar na mão de quem precisa, mas sim com o intermediário", alerta o empresário.

Outro fator de depreciação dos preços que já está sendo combatido pelo Conselho Nacional do Café (CNC) e pelo Ministério da Agricultura é a recente declaração de Néstor Osório, diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), de que o País poderá colher 60 milhões de sacas de café em 2010. Gilson Ximenes, presidente do CNC, quer que Osório apresente a metodologia ou as características fitossanitárias das lavouras cafeeiras do Brasil que sustentem tal estimativa. Isso porque, a florada, na maior parte dos cafezais, ocorre a partir de setembro, sendo esta a primeira sinalização do tamanho da safra a ser colhida. "Solicitamos a pronta intervenção do Brasil junto a esta organização para que o presente diretor executivo da OIC limite suas operações e intervenções às atividades definidas no presente Acordo do Café", afirmou Ximenes em nota.

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