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Parmalat enfrenta processo por fraude e tem ações fora da Bolsa de Milão


O norte-americano Bank of América apresentou uma ação judicial nesta terça-feira em Milão por falsificação de escrita privada no caso Parmalat. O advogado do banco encaminhou sua ação ante o tribunal de Milão, onde foi aberta uma investigação judicial por falsificação de balanço, falsos documentos de pessoas encarregadas de receber as contas, fraude e agiotagem (manipulação das cotações).

Na sexta-feira passada, o Bank of America havia contestado a autenticidade de um documento que atestava a presença de 3,950 bilhões de euros na conta de uma filial da Parmalat, a Bonlat, no paraíso fiscal caribenho das ilhas Caiman.

As ações do gigante italiano da alimentação, Parmalat, foram suspensos nesta terça-feira na Bolsa de Milão e a exclusão de sua ação do índice principal da Bolsa italiana Mib30 se tornou efetiva, informou a Bolsa. Os papéis permanecerão suspensos durante todo o dia, à espera de um comunicado.

O conselho diretor da Parmalat se reunirá nesta terça-feira, às 15h30 (hora de Brasília), ao que parece para tomar a decisão de recorrer aos tribunais com o objetivo de beneficiar-se do processo de tutela judicial.

A ação Parmalat perdeu quase todo seu valor depois da descoberta na última sexta-feira de um rombo na contabilidade em torno de quatro bilhões de euros, que chegou a ser cotada a três euros em setembro passado. Ontem estava abaixo de 0,11 euro.

Semelhanças

O caso Parmalat está tomando proporções semelhantes ao do escândalo da quebra da americana Enron, com a descoberta de que o rombo financeiro em suas contas pode chegar a 10 bilhões de euros. A Procuradoria de Milão investiga possíveis fraudes contábeis. Enrico Bondi, presidente do conselho administrativo da Parmalat há uma semana, participou de uma série de reuniões ontem para tentar proteger a empresa de eventuais processos de credores.

Ele tenta manter as atividades do grupo e os empregos dos seus funcionários, cerca de 36 mil pessoas em todo o mundo, quatro mil só na Itália. Bondi se reuniu com o ministro italiano da Indústria, Antonio Marzano, segundo fontes ministeriais. Uma reunião do conselho administrativo da Parmalat foi convocada para terça-feira às 19h30 (horário de Brasília).

Possibilidades

Duas possibilidades se apresentam para a Parmalat. A primeira, chamada "administração controlada" permite continuar a atividade do grupo sob supervisão de uma administração nomeada pela Justiça. Seu objetivo é essencialmente resolver uma crise temporária visando à normalização das atividades.

A outra alternativa é pôr o grupo sob a tutela de um ou vários administradores nomeados por sugestão do ministro da Indústria. É uma solução radical e freqüentemente leva à venda dos ativos da empresa.

Nesta segunda-feira, o promotor-adjunto de Milão, Angelo Curto, responsável pela repressão de crimes financeiros, citou várias manipulações de balanços, avaliando que os balanços da Bonlat não são confiáveis.

A procuradoria de Milão realizou vistorias no sábado nos escritórios de duas firmas de auditoria da Parmalat, Deloitte and Touche e Grant Thornton, e a última certamente será levada ao banco dos réus por ter aprovado vários balanços da Bonlat.

O rombo nas contas da Parmalat pode aumentar para 10 bilhões de euros, afirma nesta segunda-feira a imprensa nacional e internacional. Segundo o "Financial Times", fontes próximas aos negócios do grupo estimam que o verdadeiro montante do rombo nas contas da Parmalat pode superar os sete bilhões de euros.

A Parmalat reconheceu oficialmente que uma soma de 3,95 bilhões de euros, que o grupo contabilizou como crédito da Bonlat, uma filial que fica no paraíso fiscal das ilhas Cayman, desapareceu. A carta que certificava a existência de uma conta da Bonlat no Bank of America (BoA) foi avaliada como falsa pelo estabelecimento bancário americano. Segundo o jornal de maior circulação na Itália, Corriere della Siera, "o rombo que os investigadores já avaliavam como determinado subiu para sete bilhões de euros".

"Existe uma dúvida muito séria envolvendo outros recursos declarados pelo grupo, cujo total gira em torno de três milhões de euros", acrescenta o jornal. De acordo com o veículo, os especialistas da Procuradoria de Milão dizem estar "preocupados" com os "rombos" financeiros apresentados nos documentos contábeis da firma e "impressionados" com as dimensões deste desastre "econômico".

O jornal se pergunta se este rombo de sete a dez bilhões de euros ""é uma soma perdida devido às dívidas do grupo ou a desvios para outras contas; e quem controla estas contas". A Procuradoria de Milão abriu uma investigação por quatro acusações: falsificação de balanço, falso comunicado aos auditores de contas, fraude agravada e ágio.

O escândalo da Parmalat lembra o da empresa texana Enron, que em seus bons tempos era a sétima companhia americana, famosa por suas conquistas financeiras e proezas na internet, quebrou em poucas semanas no final de 2001 quando foram descobertas fraudes contábeis de bilhões de dólares.

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