Dentro de sua chácara em Vila Rica, bairro de Itaboraí, norte do Rio, Eduardo Filgueiras prepara-se para levar o seu invento para a Asia Pacif Leather Fair, em Hong Kong, na China, uma das principais feiras de moda do mundo: pele de rã com um metro de comprimento por sessenta de largura, sem nenhuma costura, ligadas por um processo de cola e solda, guardado em absoluto sigilo, onde são usadas, em média, 80 rãs.
O registro de patentes do processo já foi pedido e está sendo analisado pelos técnicos do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), no Rio.
Será a primeira vez que o pequeno Rancho Kaeru, com ranário próprio com capacidade para produzir 600 quilos de rã por mês, que também faz curtimento de outras peles exóticas, como de avestruz - cada pele pode custar entre US$ 200 a US$ 1.000 -, de cação e de coelho, vai mostrar as peles de rã touro gigante, as únicas que o Ibama permite criar em cativeiro. As peles foram desenvolvidas para a confecção de bolsas, sapatos, cintos e outros artefatos. Cada uma deve custar entre US$ 250 a US$ 300. Já está sendo desenvolvida no Rancho uma outra tecnologia que permitirá a produção de peles a metro para a confecção roupas.
No Brasil, a pele de rã já é usada pela empresa carioca Bull Frog Confecções Ltda., que produz coletes, casacos e saias com peles de rã fornecidas pelo Rancho Kaeru. A produção toda artesanal, ainda tímida, da ordem de 30 peças por mês, é vendida na Itália, Portugal e Canadá. Os preços variam de US$ 400 a US$ 1.500, dependendo da peça. "Cada pele é costurada manualmente. É um trabalho de artesão, demorado e paciente. Para fazer uma jaqueta, por exemplo, uso 300 peles de rã", diz Ramiro Campos dono da Bull Frog que vai enviar 20 peças para o desfile do Rancho Kaeru na Asia Pacific.
A idéia de desenvolver um processo de curtimento que preservasse as qualidades da pele da rã - textura, cores e resistência -, surgiu da necessidade de se criar peles maiores que pudessem ser usadas como o couro bovino. "Até agora, o que se tem são peles de rã que precisam ser costuradas para formar uma área maior", diz Filgueiras, diretor do Kaeru e técnico em curtimento que desenvolveu o novo processo.
Com parcos recursos e com remotas chances no mercado interno, pelo alto custo da pele de rã e "pelo preconceito da população", conta Gabriella Machado, gerente-geral, o Rancho Kaeru investiu na internet para ser conhecido. Fez um site onde apresentou a pele que despertou o interesse dos organizadores da Asia Pacif, que acontece entre 4 a 6 de outubro.
"Fomos convidados. Como não tínhamos dinheiro, ganhamos um desconto de 90% no estande. Vamos fazer um desfile e uma palestra sobre o nosso produto. Tudo isso, praticamente sem custos", fala Gabriella. Com uma capacidade limitada de produção da ordem de 300 peles por mês, todas feitas artesanalmente por pessoas da comunidade de Vila Rica, o Kaeru recebe peles de outros ranários que estão sendo instruídos sobre a melhor forma de retirar a pele, sem danificá-la. Atualmente, os ranicultores do Brasil só aproveitam a carne, jogando fora a pele da rã.
"O sucesso da nossa pele pode abrir um novo mercado para os ranicultores brasileiros. O de venda das peles, hoje consideradas lixo", diz Filgueiras.