Segunda maior agroindústria brasileira, atrás da Sadia, a Perdigão prepara-se para dobrar até o final de 2004 a oferta de codornas - ave selvagem que foi adaptada à criação para abate comercial nos últimos dez anos. A produção da companhia, única que abate a ave em escala industrial, concentra-se em Videira, oeste catarinense. A capacidade atual de produção da empresa é de 80 toneladas mensais. "Já temos um projeto aprovado para dobrar a produção nos próximos 30 meses. O trabalho será lento e gradual porque necessita de investimentos de grande porte e expansão controlada", diz Wlademir Paravisi, diretor regional da companhia.
Paravisi mantém em segredo o valor dos investimentos e nem cita os detalhes das ações que serão colocadas em prática para ampliar a capacidade de abate da granja. "Não permitimos filmagens, nem fotografias da área de produção", diz o executivo da Perdigão. Todo o mistério é para despistar a concorrência. As codornas abatidas pela Perdigão pesam em média 640 gramas - mais que o dobro dos animais criados para botar ovos. As aves reprodutoras pesam menos e não interessam à empresa, que possui matrizes próprias.
"Nossas aves não são fábricas de ovos. Graças à alimentação, que estimula o ganho de peso e não a colocação de ovos, e à adaptação de uma linhagem especialmente importada da França, os animais estão prontos para o abate em 60 dias", diz Paravisi. Nesses dois meses, as codornas da Perdigão têm uma vida controlada em detalhes. A umidade e a temperatura dos galpões são mantidas em níveis pré-determinados durante todo o tempo e a alimentação é balanceada. "Só assim é possível mantermos, mesmo em animais criados em cativeiro, a carne com o sabor do bicho selvagem", afirma o executivo.
Para garantir que nada saia do plano traçado pelos técnicos da agroindústria, as codornas ficam em uma granja da própria Perdigão - que preferiu mantê-las em instalações próprias a criar os animais no tradicional sistema de integração, usado para frangos e outras aves.
Os cuidados da Perdigão com seus animais não são obra do acaso. Incluídas na linha "Avis Rara" da empresa, que têm ainda o faisão e a chukar (espécie de perdiz originária do Paquistão), as codornas rendem até R$ 10 por quilo para a companhia. "Vendemos toda nossa produção, sobretudo para o Sul e Sudeste do País. Mas também temos um desempenho expressivo em Salvador (BA), onde a codorna está presente em cardápios de vários restaurantes sofisticados da região", diz Paravisi.
No Nordeste, a codorna é conhecida como afrodisíaco. Além disso, a Perdigão começou a negociar os animais também no mercado internacional. "Já fizemos os primeiros embarques, em pequenos volumes (não divulgados pela empresa) para a Arábia Saudita", afirma o executivo.