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Pesquisas: objetivo é elevar a produção de trigo


O Brasil ainda está longe de alcançar a auto-suficiência na produção de trigo, cultura de extrema importância para o país. A estimativa para a safra deste ano, de acordo com a Conab, é de 6 milhões de toneladas para um consumo aproximado de 11 milhões de toneladas. O restante é importado da Argentina e de países europeus. Mesmo com a redução de área plantada, que passou de 3 milhões de hectares no final da década de 80 para os atuais 1 milhão de hectares, a situação das duas últimas safras já indica aumento de produção.

Para este ano, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima queda nas compras de trigo em razão do aumento da produção nacional, o que colaboraria, entre outros fatores, para que o país atingisse a meta de superávit comercial de US$ 30 bilhões, contra US$ 25,8 bilhões em 2003. Um dos principais motivos para o aumento no volume produzido é a produtividade elevada em razão do avanço nas pesquisas agrícolas.

De acordo com o chefe-geral da Embrapa Trigo localizada em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Erivélton Roman, a produtividade média hoje supera os dois mil quilos por hectare, chegando a registrar cinco mil quilos e até oito mil quilos por hectare em algumas regiões do cerrado brasileiro sob irrigação. Nos anos 70, o rendimento desta cultura não passava de 800 quilos por ha. Hoje a produção do cereal, que começou no Rio Grande do Sul e já ocupa áreas do cerrado, abrange o Paraná e Santa Catarina. Roman destaca que, das 100 mil linhagens pesquisadas anualmente, somente duas ou três estão aptas para o mercado. Em 30 anos de história, a Embrapa já lançou 67 cultivares do cereal. Além do trigo, a Embrapa Trigo também desenvolve cultivares de soja, triticale, cevada, centeio, milho e ervilha forrageira.

O pesquisador destaca ainda que as pesquisas são feitas basicamente para encontrar cultivares resistentes a doenças, apresentarem alta produtividade e boa qualidade. Para as próximas safras, a Embrapa vai concentrar esforços para encontrar sementes com maior resistência na germinação da espiga. O pesquisador afirma que “quando chove no período da colheita, o trigo começa a germinar e com isso diminui a qualidade”. Outra preocupação, segundo Roman, é conseguir exemplares com maior resistência a uma doença fatal que ataca as lavouras de trigo, a giberela (Gibberella zeae), que causa perdas no rendimento e na qualidade de grãos. Os grãos infectados e seus derivados podem ser tóxicos, tanto para o ser humano quanto para animais devido à presença de micotoxinas.

Outro órgão de pesquisa também procura desenvolver cultivares de trigo com as características semelhantes às pesquisadas pela Embrapa Trigo. O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), localizado em Londrina, que tem como parceiros outros órgãos como a própria Embrapa e a Fundação Meridional, lançou em novembro a cultivar IPR 118 após três anos de pesquisa. Essa exemplar, que estará disponível no ano que vem no mercado, é indicada para as regiões Norte, Centro-Oeste, Oeste e Sul do Paraná. O Iapar já solicitou extensão de cultivo para Santa Catarina, Mato Grosso e São Paulo.

Para o pesquisador do Programa de Melhoramento de Cereais do Iapar, Carlos Ried, o potencial de produtividade da IPR 118 fica entre 4 e 4,5 mil quilos por hectare, sendo resistente à ferrugem da folha (Puccinia recondita f. sp. tritici) e moderadamente resistente à ferrugem do colmo (Puccinia graminis tritici) e à brusone (Pyricularia grisea). Ried explica que anualmente são pesquisadas em torno de 400 linhagens diferentes para disponibilizar no mercado entre uma e duas cultivares. O pesquisador também aponta a doença da giberela como foco para as futuras pesquisas. “Para o ano que vem deveremos lançar cultivares de trigo resistente à giberela”, complementa. Ried ressalta que o Iapar tem como foco quatro pontos principais para a pesquisa: alta produtividade, qualidade do produto, resistência a doenças e tolerância ao stress do solo. Além de cultivares de trigo, o Iapar também trabalha com o desenvolvimento de sementes de triticale, algodão, feijão, milho, arroz e café.

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