As variedades transgênicas já estão disponíveis em vários países e os primeiros animais transgênicos breve também estarão. Os benefícios destes produtos para a sociedade têm sido enfatizados pelos defensores da biotecnologia. O potencial até agora vislumbrado é pequeno em relação aquele que poderá ser realizado no futuro próximo. Por outro lado, os contrários à biotecnologia têm apresentado uma lista de preocupações que apresentam forte apelo para a sociedade. Algumas das críticas aos transgênicos incluem: só atendem a interesses das multinacionais; não favorecem a agricultura auto-sustentável; só são direcionados ao grande produtor; e criam dependência de outros produtos das multinacionais.
Frente a estas críticas, o mundo científico aguardava esperançosamente por um produto desenvolvido pela engenharia genética que não pudesse ser alvo destes questionamentos. Finalmente em 2000, o Instituto Suíço de Ciência Vegetal em Zurique lançou a variedade transgênica `arroz dourado` (golden rice), que rapidamente conquistou a simpatia da sociedade e atraiu a atenção da mídia internacional. Esta variedade foi resultado do trabalho conjunto de pesquisadores suíços e alemães, sob o patrocínio da Fundação Rockefeller, União Européia e do Instituto Tecnológico da Suíça. Golden rice consiste de uma série de linhagens que apresentam elevados teores de caroteno, precursor da vitamina A. Esta variedade de arroz foi desenvolvida para ajudar a combater a cegueira decorrente da deficiência de vitamina A, problema especialmente crítico em países em desenvolvimento na África.
Quando crianças ingerem uma quantidade diária adequada de vitamina A, uma série de doenças pode ser prevenida ao longo da vida. Considerando que o arroz é um alimento ingerido por quase metade da população mundial, o Golden rice pode contribuir para o adequado balanço nutricional da dieta, especialmente, dos menos favorecidos.
Com a aprovação geral pelo público, até mesmo os menos otimistas esperavam que as ONGs notadamente críticas ao OGMs aprovariam a chegada do Golden rice. Para surpresa geral, várias ONGs estão fazendo de tudo para impedir que Golden rice seja levado aos pequenos produtores dos países onde a cegueira por deficiência de vitamina A é problema.
Golden rice não foi desenvolvido por multinacional, não preconiza a aplicação de outros agrotóxicos, não foi desenvolvido para grandes produtores e não é incompatível com a agricultura auto-sustentável. Como poderia este produto despertar tanta rejeição? A menos que estas ONGs não estejam exercitando seu senso crítico, não se pode entender tal rejeição diante da realidade dos dados da Unicef, que relatam que 1 a 2 milhões de mortes poderiam ser evitadas anualmente entre crianças de um a quatro anos, se uma suplementação de vitaminas A fosse a elas fornecidas. Ainda, 1.369 crianças perdem a visão diariamente por deficiência de vitamina A.
É utópico, entretanto, pensar que seja possível reconciliar grupos com ideologias tão contrastantes. Seria irresponsável advogar que todos os produtos da biotecnologia apresentam tão somente benefícios e nenhum risco. É importante que a sociedade com as suas múltiplas formas de expressão, incluindo as ONGs, esteja vigilante e que questione os avanços tecnológicos. Mesmo com as diferenças ideológicas, existem objetivos comuns entre as pessoas: a produção em abundância de alimentos com elevada qualidade nutricional, a preços acessíveis e sem causar danos ao meio ambiente.
Embora seja verdade que as empresas investem prioritariamente em produtos que lhe tragam retorno econômico, é também verdade que elas estão cientes de que a sociedade não vai tolerar produtos prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente. Enquanto os ambientalistas considerarem as multinacionais apenas como suas inimigas, eles estarão cegos para o fato de que estas corporações podem também ser um aliado na busca de alternativas para a solução dos problemas da humanidade.
Aluízio Borém - Engenheiro agronônomo, pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, PhD. em Genética e Melhoramento de Plantas pela Universidade de Minnesota (EUA)
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