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Preço agrícola volta a níveis pré-crise da Ásia


Puxados por uma retomada na demanda mundial, os preços em dólares de produtos agrícolas aumentaram 10,5% no ano passado e, em alguns casos, ensaiam os mesmos níveis nominais do período pré-crise asiática em 1997.

O primeiro semestre daquele ano serve de paradigma a produtores e analistas porque se registraram picos históricos de preços para uma série de commodities. Eram meses de demanda mundial grande, resultado de expansão das economias dos EUA, da Europa, dos países asiáticos e, em menor proporção, da América Latina. A bonança foi abortada pela crise cambial da Ásia - e agravada entre 2001 e 2002, pela depressão deflagrada no 11 de setembro.

De acordo com dados da Funcex (Fundação de Estudos de Comércio Exterior) e da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), na média anual, comparados dezembro de 1997 e dezembro de 1998 (ano imediatamente pós-crise), os preços dos produtos básicos (numa cesta que incluía minério de ferro) haviam despencado 16%. Se considerados somente os agrícolas, a queda no mesmo intervalo havia sido de 18%. O pior momento dos preços das commodities ocorreu no primeiro semestre de 2002. Para os produtos agrícolas, a perda chegava a 35%, se comparados ao mesmo período de 1997.

Os preços observados ao longo de 2003 demonstram o quanto significativa foi a recuperação das commodities _e explicitam o peso da melhora da economia mundial e do fenômeno de demanda na China. Quatro anos atrás, as importações chinesas do complexo de soja somavam 7 milhões de toneladas. Neste ano, ficarão entre 20 milhões e 25 milhões de toneladas. Segundo maior exportador mundial em volume (atrás dos EUA), o Brasil acabou como um dos grandes beneficiados: vendeu no mercado mundial, em 2003, 21 milhões de toneladas do produto, 28% a mais que em 2002. Em receitas, recebeu US$ 7,8 bilhões, número que, nesta safra, deve chegar a US$ 8,9 bilhões.

A expansão da demanda levou o preço médio por tonelada exportada da soja a subir 13,4%, entre janeiro e novembro passados, de acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior) de US$ 197 para US$ 223,3. Em bushel (unidade de medida que, na soja, equivale a 27,2 quilos), os preços no mercado internacional estão em US$ 8,97 nominalmente iguais aos de março de 1997.

No caso do milho, os preços nominais estão em US$ 103,94 por tonelada no mercado externo. Em janeiro de 1997, eram de US$ 105. Entre janeiro e novembro de 2003, os valores, por tonelada do produto, subiram 9,9%.

Outra commodity que experimentou aumento no valor de comercialização no ano passado foi o algodão. Em 2001, de acordo com a MS Consult, o preço médio por tonelada do algodão em pluma em Nova York ficou em US$ 43.

Recuou para US$ 41,4 no ano seguinte e subiu para US$ 59,8 no ano passado --aumento de 44,4%. Agora, em janeiro, a cotação média está em US$ 74,6. Historicamente, os preços mundiais oscilam na casa dos US$ 70.

""A China sempre foi um grande produtor e consumidor do produto. Mas, com o salto da economia, o país passou a ser importador"", diz Marco Antonio Aloisio, gerente da trading Esteve e diretor da Anea (Associação Nacional dos Exportadores de Algodão).

China e EUA produzem, cada um, cerca de 4 milhões de toneladas do produto por ano. Num degrau abaixo aparecem a Índia e o Paquistão, com 2,5 milhões de toneladas. O Brasil deve produzir cerca de 1,2 milhão, o que, segundo Aloisio, permitiria um excedente exportador de 400 mil toneladas. Em 2003, a produção foi de 840 mil toneladas, e o excedente, que foi exportado, de 150 mil.

Desvalorização do dólar

O economista Fábio Silveira, da MS Consult, diz que a recuperação de alguns preços deve-se, para além da demanda global, de eventos como estiagem em algumas regiões e dos baixos níveis de estoques mundiais de uma série de produtos, à desvalorização do dólar ante o euro.

""Como os produtos são cotados em dólar, têm os valores aumentados, com a depreciação ante o euro."" Na avaliação de Silveira, a tendência é que a médio prazo os preços comecem a ceder, mas a média do ano, ainda puxada pela soja, será maior que a de 2003.

Silveira ressalta que a recuperação não ocorreu de forma simétrica. Um exemplo: o preço médio da tonelada de açúcar neste início de ano é 30,8% menor que em 2001. No ano passado, apenas o Brasil produziu 24,2 milhões de toneladas. Mas pôde enviar para o mercado externo não mais que 14,1 milhões, o máximo permitido pelo ""protecionismo"" nos demais mercados.

O fato, no entanto, é que no caso deste produto existe um aumento da oferta no mundo, o que, conseqüentemente, derruba os preços.

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