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Preço da erva-mate sobe 20% em um ano

Hoje muitos produtores conseguem obter mais lucros com as folhas do que com soja e milho


Manter o tradicional hábito gaúcho de tomar um chimarrão tem ficado cada vez mais caro no Estado. Entre março de 2012 e fevereiro de 2013, a erva-mate subiu 19,86% nos supermercados de Porto Alegre, conforme dados do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Somente nos 30 dias encerrados em 22 de março, conforme o IPC-S, o aumento chegou a 4,61% na Capital.


A inflação do mate não passou despercebida pelos seus consumidores, que têm buscado evitar os gastos maiores trocando suas marcas preferidas por outras mais baratas. Esse é o caso da funcionária pública Lúcia Helena Gama, que tem o costume de comprar erva para chimarrão a cada quinzena. "Os preços tiveram uma alta considerável, por isso, nos últimos tempos, tenho deixado de escolher aquelas que sempre comprava para levar outras mais em conta", comenta. Essa foi a mesma reação da funcionária pública Margarete Vieira. "Compro erva-mate uma vez por mês e, com certeza, está mais caro. Têm marcas que estão mais de R$ 10,00 o quilo, e estou tendo que pegar outras que não costumava comprar por causa do preço."

Para as empresas ervateiras, a elevação, em alguns casos, pode ter sido até superior ao índice medido pela FGV. "No nosso entendimento teve marcas que subiram mais de 30% neste ano", aponta Alfeu Strapasson, presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Rio Grande do Sul (Sindimate).

A principal razão apontada para a inflação no produto é a queda da oferta de matéria-prima. De acordo com Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro-agrônomo da Emater de Passo Fundo, a forte estiagem que ocorreu no Estado em 2012 ocasionou perdas significativas de folhas nos ervais. As plantações também enfrentaram um aumento na população de pragas. "Muitos produtores, vendo que a produção de folhas iria se reduzir com a seca, procuraram compensar com adubação, mas isso cria um estresse nas árvores que favoreceu o desenvolvimento de parasitas."

Segundo Melo, esses fatores chegaram a provocar uma diminuição de até 25% na produção gaúcha de erva-mate. Como as árvores possuem um ciclo produtivo de 18 meses (ou seja, a colheita é feita a cada ano e meio), muitas plantas que estão sendo colhidas agora ainda sofrem os efeitos da seca e das pragas do ano passado.

Os empresários do setor acreditam que a tendência de alta será mantida em abril, quando deverá ocorrer um novo reajuste. A estabilização só deve começar a partir de maio, quando a oferta de matéria-prima volta a crescer com o aumento das colheitas antes do inverno. No entanto, os ervateiros não apostam em queda. "O consumidor já paga caro, e deverá pagar ainda mais. E minha preocupação é que os compradores se retraiam", comenta Sérgio Antônio Picolo, presidente da ervateira Barão, de Barão do Cotegipe. A redução do consumo devido aos preços altos também é uma possibilidade admitida por Sérgio Dall Acqua, diretor da ervateira Ximango, de Ilópolis. "Nosso receio é que a cuia perca o topete, e as vendas diminuam se a erva ficar muito cara."

Entretanto, Alfeu Strapasson lembra que, mesmo com a inflação, o chimarrão ainda é uma alternativa barata de bebida em comparação com outros produtos no mercado. "Com um quilo de erva se preparada dez cuias, que rendem 20 mates cada. Mesmo que um pacote de um quilo custe R$ 10,00, ainda assim o mate valeria R$ 0,50. Não existe copo de refrigerante a este preço", comenta o presidente do Sindimate.


A redução da oferta da erva-mate também tem gerado mais lucros para quem cultiva a planta. Após passar várias décadas sofrendo com preços baixos, o que fez com que diversos ervais fossem derrubados para dar lugar ao plantio de grãos em regiões tradicionais da cultura como o Alto Uruguai e o Noroeste do Rio Grande do Sul, hoje muitos produtores conseguem obter mais lucros com as folhas do que com soja e milho.

Conforme o dirigente do Sindimate, em um ano a cultura dobrou de preço do produtor para a indústria. "Não estamos conseguindo repassar esses valores com a mesma velocidade para o varejo", alerta Alfeu Strapasson. O presidente da ervateira Barão lembra que, em outubro do ano passado, a empresa comprava erva cancheada (triturada) a R$ 1,60 o quilo. "Hoje estamos pagando R$ 3,50 o quilo", comenta Sérgio Antônio Picolo. Segundo o empresário, muitos produtores estão aproveitando essa tendência de alta para segurar seus estoques e vender o produto com mais lucro.

Conforme o engenheiro-agrônomo da Emater Ilvandro Barreto de Melo, um erval de boa qualidade pode ter uma rentabilidade até quatro vezes maior do que uma lavoura de soja. "Um hectare de soja, com produção de 55 sacos, a um preço médio de R$ 55,00, teria um faturamento de R$ 3.025,00. Um bom erval, colhendo 1,5 mil arrobas por hectare, vendendo a produção a R$ 12,00 a arroba, rende R$ 18 mil. Considerando que as árvores produzem a cada 18 meses, em um ano esse produtor conseguiu R$ 12 mil com a erva."

Essa possibilidade de lucro tem causado uma reversão na tendência de redução da área ocupada pela erva-mate no Estado. Em 2001, havia 42 mil hectares com ervais no Rio Grande do Sul. Dez anos depois, as plantações atingiam 32 mil hectares, uma queda de 24%. "Hoje há muita procura por plantas, e já faltam mudas disponíveis nos viveiros", comenta Melo.

No entanto, o agrônomo destaca que, devido à alta necessidade de mão de obra, muitos encontram dificuldades para conseguir pessoal suficiente para trabalhar nas plantações. "Enquanto as lavouras de grãos são completamente mecanizadas, a erva-mate depende de colheita manual. Com a escassez de pessoal no campo, atualmente, muitos produtores simplesmente escolhem pela alternativa mais fácil de ser administrada." Conforme Melo, o custo histórico da mão de obra chega a 35% do valor da arroba.

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