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Preços da soja subiram 4,9% ontem na bolsa de Chicago


Redução da produção é estimada em 8 milhões de toneladas. Preço sobe 4,9% em Chicago. Há muito tempo, produtores, traders, indústrias e operadores da bolsa não viam as cotações da soja na Bolsa de Chicago atingirem um nível tão elevado. Ontem, os preços do grão subiram 4,9% e fecharam o dia negociados a US$ 5,83 por bushel (US$ 12,85 a saca), a mais alta cotação desde setembro do ano passado. Apenas no mês de fevereiro, as cotações na bolsa americana acumulam alta de 15%.

A justificativa para a alta foi atribuída às novas projeções para a safra brasileira de soja. O mercado trabalhava com uma produção de 63 milhões de toneladas, mas depois que a estiagem se intensificou no Rio Grande do Sul, podendo, inclusive, trazer prejuízos aos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, as novas estimativas giram entre 55 milhões e 57 milhões de toneladas, ou seja, quebra entre 9,5% e 12%.

Com a expectativa de quebra saltando de 2 milhões para 8 milhões de toneladas, os prejuízos financeiros que a seca pode provocar também cresceram. A estimativa é que a estiagem seque em até US$ 1,5 bilhão os cofres dos agricultores brasileiros na safra 2004/05, que começa a ser colhida, principalmente nos estados do Sul do País.

"O mercado sabia da quebra, tanto que a bolsa fechou na sexta-feira com uma estimativa de redução de apenas 2 milhões de toneladas, porém com expectativa que chovesse no domingo. Depois do feriado na segunda-feira, o mercado abriu sabendo que não havia chovido no Brasil e que a quebra poderia chegar a 8 milhões de toneladas", diz Vinícius Ito, operador da Fimat Futures, corretora localizada em Nova York.

A quebra na produção do Rio Grande do Sul já é dada como certa. As projeções mais otimistas apontam para uma redução de 40%, mas o próprio governador do estado, Roberto Requião, declarou que a quebra poderia a chegar a 50%. "No Rio Grande do Sul, o prejuízo já é fato. No Paraná e no Mato Grosso do Sul, no entanto, se chover nos próximos dias o prejuízo não será tão grande", afirma Odinéia Santos, analista da consultoria Safras & Mercado.

E se depender de São Pedro para salvar a safra de grãos brasileira, os agricultores terão que aumentar o número de orações diárias. Isso porque as chuvas, tão esperadas, não devem ocorrer, pelos menos nos próximos dias (ver matéria abaixo). "Estamos esperando os levantamentos de todas as regiões para saber com precisão o tamanho da quebra, já que a situação está delicada. Em alguns pontos do Paraná não chove há 35 dias e já sabemos que haverá queda na produção, porém, não de uma forma tão acentuada como no Rio Grande do Sul", afirma Otmar Hubner, técnico do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral).

Há 20 anos plantando soja no Rio Grande do Sul, o agricultor Ricardo Lang, de Santa Maria, diz nunca ter visto uma seca tão grave como as que aconteceram em 2004 e 2005. "Já enfrentamos estiagens fortes em muitos anos, mas não como as que aconteceram nos últimos dois", conta o agricultor, lembrando que, no ano passado, o câmbio e os preços da soja compensaram as perdas que a seca causaram na lavoura.

De acordo com o agricultor, a quebra média da sua plantação será de 30% este ano, caso volte a chover nos próximos sete dias. "Se não chover, as perdas irão aumentando 10% a cada semana até que a colheita esteja concluída", afirma Lang, acrescentando que em cerca de 10% de sua plantação a queda na produtividade chega a ser de 70%.

Efeito colateral

A forte valorização dos preços da soja em Chicago, no pregão de ontem, acabaram impactando os preços de outros grãos. Os fundos de investimento aproveitaram os baixos preços que os grãos vinham registrando na bolsa para atuar como compradores e puxar os preços para cima. "De fato, a seca no Brasil acabou impulsionando a procura por outros grãos, mas se as chuvas começarem a acontecer, os fundos irão devolver todas as compras que fizeram", afirma André Lazzuri, gerente da mesa agrícola da SLW Corretora.

As cotações do trigo, por exemplo, registraram alta de 5,5% em comparação ao pregão anterior. Os contratos com vencimento em maio foram negociados a 320,75 centavos de dólar por bushel (US$ 117,86 por tonelada). Com o aumento dos preços do trigo nos Estados Unidos, os moinhos brasileiros já esperam por novas altas no grão argentino e, consequentemente, valorização do trigo nacional. Já os preços do milho subiram 3,6%. Os contratos para maio foram cotadas a 215,25 centavos de dólar por bushel (US$ 5,08 por saca).

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