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Preços das terras disparam com a alta da soja


Na região de Vilhena (RO), as cotações subiram mais de 80% nos últimos doze meses para R$ 3,8 mil o hectare. O produtor Nivaldo Jacinto dos Santos, de Vilhena (RO), já conversou com todos os corretores de imóveis da região mas não encontrou um único palmo de terra à venda. "Com os preços da soja altos como estão, ninguém quer vender terra. Aqui, todo mundo é comprador", afirma o agricultor, dono de 4,1 mil hectares.

A situação de Santos não é a exceção: é a regra. Os preços da terra dispararam nas principais regiões produtoras, transformando-se num empecilho para aqueles que, embalados pelos altos preços da soja, planejavam aumentar a área para a safra 2003/04. Em Vilhena, localizada na fronteira com o Mato Grosso, a 701 quilômetros de Porto Velho, Santos disputou, num leilão informal, a compra de 1,3 mil hectares de terra agricultável. Ele entrou no leilão usando a moeda do agricultor: ofereceu 120 sacas de soja por hectare, o equivalente a R$ 3,720 mil.

Na reta final, no entanto, a área foi arrematada por um concorrente que pagou 125 sacas o hectare, ou R$ 3,875 mil. Pelos 1,3 mil hectares o concorrente desembolsou R$ 5 milhões. "Há seis anos, esse mesmo pedaço de terra custava 60 sacas (R$ 420) e não tinha comprador", afirma. Ou seja, em reais, o preço é nove vezes maior.

"Os preços da terra na região Centro-Oeste estão altos e a tendência é de que subam ainda mais", acredita o consultor Anderson Gomes, da Céleres/M.Prado, de Uberlândia (MG). Para o consultor, a tendência é de que, com o aumento da procura, os preços do Centro-Oeste se equiparem aos de locais como o Paraná, onde o hectare é negociado atualmente a 300 sacas, ou seja, R$ 9,3 mil.

Um bom termômetro da demanda é o interesse por terras que eram consideradas impróprias para a agricultura. "Há dez anos, ninguém plantava em solo com menos de 30% de argila. Hoje, tem gente plantando em solo semi-arenoso, com 15% de argila", diz Paulo Beer, presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis (MT). Isso, diz, só foi possível graças ao avanço da tecnologia. "Hoje o produtor é muito mais profissional. Ele sabe usar a tecnologia a seu favor", diz. A febre da soja na região de Rondonópolis, a 215 quilômetros de Cuiabá, é tamanha que locais onde tradicionalmente o gado era criado, como o Vale do Guaporé, estão sendo convertidos em lavouras da oleaginosa.

Na região de Mineiros, no sudoeste goiano, o hectare da terra pronta praticamente dobrou, passando de 140 sacas (R$ 4 mil) no ano passado para até 280 sacas (R$ 9 mil) neste ano, segundo o Banco do Brasil. "Aqui não sai negócio há muito, muito tempo", diz Paulo César Fernandes, agrônomo do BB.

Quando o agrônomo João Bosco Rezende chegou em Sapezal (MT) para assumir a área de avaliação técnica do BB, em outubro de 2000, o hectare era negociado a 100 sacas, ou R$ 1,4 mil. Hoje, não sai negócio por menos de 180 sacas (R$ 5,040 mil), um valor, em reais, quase três vezes maior. "Os preços das terras estão uma loucura - eles subiram em sacas e em reais", diz.

Para agricultores como Santos, que investe na compra de terras há quase 10 anos, a escassez de áreas disponíveis transformou-se numa frustração. "Eu compro terras para ganhar escala e poder de barganha na hora de comprar insumos ou de vender a safra. Desde a desvalorização do real em 1999, no entanto, as vendas têm sido cada vez mais raras", afirma o produtor rural.

Santos, um paranaense, comprou seu primeiro pedaço de terra (96 hectares) em 1994. Hoje, sua área é 43 vezes maior, de 4.100 hectares. "Minha meta é ter 5 mil hectares plantados com soja", diz. Hoje, ele cultiva em terras próprias, 2.665 hectares. O restante é ocupado com lavouras de milho e arroz.

Santos está de olho em uma terra vizinha à sua, que ele já arrenda para o plantio do grão. "Meu interesse é tamanho que eu nem disfarço mais", diz. "Mas o dono disse que não vende de jeito nenhum. Ele tem fé que a terra vai se valorizar muito. E o pior é que ele tem razão", diz.

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