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Produção de grãos e formação de pastagem para a entressafra (Parte I)


Até bem pouco tempo, a exploração da região tropical no Brasil estava alicerçada, fundamentalmente, nos cultivos de soja, milho e gado zebuíno. Com a globalização e a conseqüente aproximação de mercados e sistemas produtivos, rapidamente, observou-se o quanto era frágil e pouco competitiva a nossa monozebuínocultura, em decorrência da falta de investimentos em qualidade das pastagens, defesa sanitária e recursos genéticos.

As monoculturas vegetais, no ambiente tropical, por sua vez, também têm se mostrado pouco sustentáveis, a exemplo da soja com o surto catastrófico do cancro-da-haste, em 1994/95, e do oídio, em 1996/97. Esta última considerada, até então, como doença fúngica secundária. Sistemas intensivos irrigados de produção de grãos nos Cerrados também se têm mostrado de pouca sustentabilidade, a exemplo do alto custo atual de produção de feijão irrigado, provavelmente, devido à pouca eficiência das rotações de grãos em aumentar o teor de matéria orgânica do solo e de quebrar o ciclo dos inóculos das principais pragas e doenças.

Além dos aspectos negativos em termos econômicos, advindos desse modelo de exploração, diversas formas de deterioração do relacionamento do homem com a biosfera têm sido questionados: assoreamento dos grandes rios com conseqüente redução do volume de água; contaminação das fontes de água; poluição dos mares e oceanos; manejo inadequado do solo, causando grandes perdas de terra fértil; destruição de florestas com as chuvas ácidas; extinção de espécies animais e vegetais; surtos catastróficos de pragas e doenças decorrentes de desequilíbrios ambientais, contaminação do ar; grandes áreas em processo de desertificação; dentre outros.

Produzir de forma sustentável é reduzir custos e evitar desperdícios de energia e de matéria-prima. É aumentar a produtividade e a competitividade do capital e do trabalho e abrir novos mercados, criando empregos de qualidade e incrementando a lucratividade.

De nada adianta exaltar a função do setor produtivo de suprir a sociedade com bens de consumo, se, durante o processo de produção, são distribuídos prejuízos ambientais e sociais. Os setores produtivos devem estar cada vez mais cientes da importância do ambiente como fonte de recursos e também como demandante de novas tecnologias, o que exige sistemas eficazes de gestão e produção.

A sustentabilidade do setor agropecuário deverá estar diretamente relacionada com a evolução do sistema de produção, tal qual o Sistema Plantio Direto e a integração lavoura-pecuária. O Sistema Plantio Direto, devido as suas prerrogativas básicas, é mais importante para as regiões tropicais, graças aos efeitos na proteção do solo, rotação de culturas, economia em máquinas, equipamentos e mão-de-obra. O Brasil já deu mostras da grande adoção deste sistema, pois se estima que já se cultivam 11 milhões de hectares, sendo mais de 5 milhões nos Cerrados.

A integração lavoura-pecuária, por outro lado, proporciona benefícios recíprocos, eliminando ou reduzindo as causas de degradação física, química ou biológica do solo, resultantes de cada uma das explorações. Além disso, as gramíneas forrageiras são altamente resistentes à maioria das pragas e doenças, além de constituírem uma excelente barreira as suas disseminações, e, por isso, podem quebrar o ciclo dos agentes bióticos nocivos às plantas cultivadas, resultando em menor uso de defensivos agrícolas.

A sustentabilidade nos Cerrados só será plena mediante a superação, pela pesquisa e produtores de dois grandes desafios: redução no custo de produção das lavouras e produção agrícola na entressafra, particularmente, com forrageiras. Só nos Cerrados, são cultivados mais de 10 milhões de hectares com as principais culturas anuais (soja, arroz, feijão, sorgo e milho), sendo que numa pequena parcela pratica-se a safrinha, que é um segundo cultivo na mesma área em seqüência a safra de verão. A área irrigada por aspersão compreende cerca de 300 mil hectares.

A área onde se cultiva apenas durante o período de verão, ou acrescida da safrinha, hoje ociosa no outono/primavera, poderá abrigar parte representativa do rebanho bovino no período de seca, inclusive para a produção de novilho precoce a pasto. Além disso, para o Sistema Plantio Direto, é fundamental que haja uma cobertura morta em quantidade suficiente e de maior estabilidade, sendo que a braquiária parece suplantar as outras espécies nesses quesitos.

Do ponto de vista da sustentabilidade, os benefícios da integração lavoura-pecuária podem ser sintetizados como:

 Agronômicos, por meio da recuperação e manutenção das características produtivas do solo;

 Econômicos, por meio da diversificação de oferta e obtenção de maiores rendimentos a menor custo e com qualidade superior;

 Ecológicos, por meio da redução da erosão e da biota nociva às espécies cultivadas, com a conseqüente redução da necessidade de defensivos agrícolas;

 Sociais, por meio da diluição da renda, já que as atividades pecuárias e agrícolas concentram e distribuem renda, respectivamente. Deve-se considerar também a maior geração de tributos, de empregos diretos e indiretos, além de fixação do homem ao campo.

Autores: João Kluthcouski e Homero Aidar

Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão

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