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Produção de maracujá orgânico em Corumbataí do Sul/PR ganha incentivo


Depois de um período de chuvas de granizo, seguido por outro de fortes geadas, há cerca de 10 anos a Associação dos Produtores Rurais de Corumbataí do Sul, no Noroeste do Paraná, abandonou o cultivo de café, até então fonte de renda a inúmeras famílias. Naquele momento, a produção de maracujá foi considerada a alternativa mais vantajosa. No entanto, foi a partir de 2008 que a atividade ganhou impulso. Um dos 451 projetos do Programa Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), firmou parceria com Aprocor para prestar assistência técnica aos produtores e disseminar a cultura orgânica.

O projeto “Associativismo como alternativa de desenvolvimento da dinâmica das economias contemporâneas”, coordenado pelo professor João Carlos Leonello, da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam), tem como objetivo auxiliar os produtores e fortalecer o associativismo. “Eu já havia desenvolvido alguns trabalhos para a associação. Quando saiu o edital do Universidade Sem Fronteiras, verifiquei que a principal necessidade deles era de assistência técnica, fortalecer o associativismo e tornar mais ágil os trâmites administrativos, burocracia e organização da associação”, lembra Leonello.

A assistência técnica beneficia diretamente aos produtores, proporcionando melhores práticas de cultivo e redução de mais de 50% no uso de agrotóxicos. O presidente da Aprocor, Gerson Rodrigues, ressalta que a diferença entre os engenheiros agrônomos extensionistas e os que anteriormente visitavam as propriedades é o posicionamento em relação ao uso de agrotóxicos. “A universidade abriu as portas e nós conhecemos a cultura orgânica, que é uma mudança de hábito, pois os produtores e suas famílias ganham qualidade de vida. Isso é desenvolvimento sustentável”.

“O empenho que a secretária Lygia Pupatto tem em relação ao projeto é admirável. Somos muito gratos, porque ela não apenas viu o projeto no papel, mas veio até aqui, nos visitou e assistiu de perto tudo que está sendo feito. Costumo dizer que geralmente os projetos sociais do governo dão o peixe e o Universidade Sem Fronteiras ensina a pescar. Isso ajudou a diminuir o êxodo rural, o que resultou em melhora significativa para o município, pois o nosso município é um dos mais carentes do estado”, afirma o presidente da Aprocor.

De acordo com a bolsista Maria Helena Cruz, recém-formada em Engenharia Agronômica, hoje o projeto assessora oito municípios, somando um total de 40 famílias atendidas. “Todo mês é realizada uma reunião técnica com os produtores. Depois disso, vamos a campo, onde é ensinado o plantio, a poda, a produção da cultura durante o ano, como se fosse uma aula mesmo. Os produtores também podem tirar dúvidas conosco durante a entrega do maracujá, porque às vezes o problema não pode esperar até a reunião mensal”, afirma a recém-formada.

Também é realizado controle biológico com iscas, caldas bordalesas, adubos foliares, medida que funcionam como prevenção a doenças do solo. Segundo o presidente da Aprocor, a recomendação é usar agrotóxicos apenas em último caso, o que torna a produção mais barata e com maior qualidade.

Produtor rural há 16 anos, Olavo Aparecido Luciano relata que o projeto trouxe mais tecnologia e a orientação dos engenheiros agrônomos e facilitou o processo de produção. “Com a parte técnica mais presente no campo, teve um aumento na produção e nós aprendemos a usar menos agrotóxicos. Outro fato que acho importante citar é o apoio por parte dos bolsistas de contabilidade. Temos obtido mais rapidez no processo de negociação. Até o pagamento vem mais rápido”, afirma o produtor.

A bolsista graduanda em Ciências Contábeis afirma que através do projeto tem a oportunidade de colocar em prática o que é visto em sala de aula, além de obter um aprendizado maior. “Faço os pagamentos dos produtores. A cooperativa intermedia a venda e recebe uma taxa de 3% sobre a venda, que é destinada à manutenção da cooperativa. Quando tem entrega de maracujá, é feita uma nota. Também sou eu que cuido das notas de entrega, além do atendimento ao produtor e orientação contábil”.

Outras melhorias foram verificadas nas questões internas da associação, no recebimento e na classificação do produto. A classificação é feita manualmente, onde são analisados o tamanho, cor e grau de maturação do maracujá. A associação trabalha com o chamado “maracujá de mesa”, que é aquele que vai direto para a mesa do consumidor. Isso agrega mais valor ao produto, aumentando a renda dos produtores.

Hoje, Corumbataí do Sul é o maior produtor de maracujá do Paraná. Em 2007, os produtores do município tiveram seu produto classificado em uma pesquisa realizada pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) como o maracujá que possui a melhor coloração, tamanho e melhor briks (medição do teor de açúcar do fruto).

POLPA – Como decorrência do projeto, surgiu a necessidade da criação de uma cooperativa para produção de polpa de frutas, como forma de diversificar a produção local e aumentar a renda do produtor de Corumbataí do Sul. O professor João Carlos Leonello inscreveu novamente no edital do Programa Universidade Sem Fronteiras um projeto: “Implantação e desenvolvimento de tecnologia para a produção de polpa de frutas em escala comercial – Aprocor”, dentro do subprograma Extensão Tecnológica Empresarial.

“Quando você tem uma diversificação na propriedade, você amplia a renda do produtor e da família, e este dinheiro é gasto no próprio município. É fundamental a continuidade desse projeto, porque nesses pequenos municípios existem muitas associações completamente desamparadas, necessitando de assistência técnica e orientação para se organizarem e para que consigam caminhar com as próprias pernas”, ressalta o coordenador.

A iniciativa surgiu dos próprios associados, que perceberam que ao vender a fruta ‘in natura’ agrega-se pouco valor ao produto. Em contrapartida, os produtores perceberam que existia mercado para a polpa. Além do maracujá, outras culturas que já estão sendo empregadas na produção de polpa, como o abacaxi, caqui, figo, uva rústica (uva para produção de suco), acerola, manga, entre outros.

Um dos assessores do projeto, o engenheiro químico Heron Lima, afirma que o objetivo primordiário do projeto é a implantação da agroindústria de polpa de frutas no município. Porém, sua amplitude é muito maior, é dar sustentabilidade à associação em termos de gestão e oportunidades de mercado e, em um segundo momento, orientar os produtores quanto ao aproveitamento de subprodutos para obtenção de produtos de maior valor.

“A semente do maracujá pode ser explorada na produção de óleos essenciais para a indústria de cosméticos. É uma forma de aproveitar cada vez mais o produto, aumentar a renda do produtor e diminuir os danos ao meio ambiente. Isso nos abre um leque de oportunidades”, ressalta o assessor.

O produtor rural Olavo Aparecido Luciano salienta as suas expectativas em relação a essa nova perspectiva de produção. “Eu também vou participar da produção de polpas, achei algo inovador. Minha família e eu estamos muito animados com a ideia. Vamos retirar a polpa do fruto e o restante, a casca por exemplo, vamos aproveitar para fazer farinha, esterco e alimentação animal”, disse.

A construção do barracão para a indústria de polpas e os equipamentos são financiados pelo Projetos de Apoio ao Desenvolvimento do Setor Agropecuário (Prodesa), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Criado em outubro de 2007, o Programa Universidade Sem Fronteiras proporciona a oportunidade de aprendizagem prática a quatro mil bolsistas, entre recém-formados e graduandos. É considerado o maior programa de extensão universitária do país.

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