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Produção de mel cairá pela metade

Clima e uso de agrotóxicos influenciam produção


Quando começou a criar abelhas sob influência do pai, o aposentado Dejanir Stecker, 64 anos, assistia aos enxames povoarem qualquer recipiente que se colocasse em campos e matas ao redor de lavouras. Hoje, depois de 50 anos de experiência na atividade, ele olha receoso para o pouco mais de 130 caixas que ainda possui. Os animais não estão mais tão acessíveis e precisam ser estimulados a produzir cada vez mais. No último ano, ele perdeu 70 caixas com a migração de abelhas para locais menores, reflexo da redução drástica do número de abelhas nas colmeias.

A mortandade, conforme Stecker, deve-se ao uso de defensivos agrícolas contrabandeados do Paraguai e Uruguai. “Não tenho como provar isso, mas os fatos me fazem crer, e muito, nessa condição”, salienta. Para amparar seu relato, Stecker diz que nas caixas que têm no Parque da Fejão – local onde não há nenhuma grande lavoura por perto – as abelhas só aumentam. “Para se ter uma ideia, o normal em uma caixa é de 16 mil. Eu tenho caixas por lá que chegam a conter 100 mil abelhas”, conta.

O resultado do definhamento de colmeias é a queda em 50% da produção de mel em Sobradinho (RS). O município produz, em média, 10 mil quilos por ano. “Cheguei a produzir 3.500 quilos. Agora, se conseguir 1.500 tenho que me dar por satisfeito. Que isso sirva de alerta para aqueles que só se preocupam com as próprias atividades”, diz Stecker. O aposentado, integrante da Apigranja, salienta que o trabalho com abelhas é extremamente perigoso. “É necessário conhecer muito bem. Elas são fundamentais para a vida na terra, porém, quando perturbadas são verdadeiras assassinas.”

O presidente da Associação de Apicultores de Sobradinho (Apigranja), com sede em Granja do Silêncio, Ivanei Bavaresco, o popular Chimia, afirma que a produção cairá pela metade – da mesma forma que aponta o maior produtor de Sobradinho, Dejanir Stecker. Com o início da retirada do produto, é possível sentir a regressão nos quilos de mel. “Penso que, realmente, se trata da utilização descomedida de agrotóxicos piratas. Também há a questão do clima, que influencia muito”, avalia.

CAUSAS VARIADAS
De acordo com o biólogo da Prefeitura de Arroio do Tigre, Dione Krise, as abelhas podem morrer por causas diferentes. As principais são ácaros, protozoários, vírus, bactérias e, mais fequentemente, inseticidas usados em atividades agrícolas. Todas são de difícil diagnóstico, pois não existem laboratórios habilitados para identificar a causa da morte. “Se a mortandade for provocada por inseticidas, os apicultores devem redobrar os cuidados quando aplicarem o produto em suas propriedades, ou até interromperem, quando se tratar da principal atividade na propriedade”, aconselha.

Krise frisa, ainda, que a função ecológica das abelhas é fundamental para a manutenção da vida no planeta. Elas são responsáveis pela polinização da grande maioria das plantas, tanto cultivadas como as espécies florestais. Em uma hipotética extinção de todas as abelhas no planeta, as consequências seriam catastróficas. “A maioria das plantas não teria como trocar material genético e consequentemente também não iria se reproduzir, provocando uma extinção em massa, inclusive da espécie humana”, explica o biólogo.

Sobre o uso de agroquímicos, Dione é enfático: “Independente da origem, eles devem ser utilizados seguindo a orientação técnica. Todos os produtos químicos usados em atividades agrícolas podem prejudicar não só as espécies naturais, mas também as próprias pessoas que os manuseiam de forma irracional”.

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