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Produtor de leite teme "avalanche uruguaia"

O câmbio atual torna o custo de produção de leite brasileiro em dólar um dos mais altos do mundo


Uma avalanche de leite importado do Uruguai poderá chegar ao Brasil no fim deste ano, quando começar a safra, segundo avaliação de dirigentes das federações de agricultura de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás, que se reuniram ontem em Belo Horizonte. Reunidos, eles respondem por 68% da produção brasileira.

Segundo os dirigentes, o câmbio atual torna o custo de produção de leite brasileiro em dólar um dos mais altos do mundo, o que desestimula as exportações e torna atraente importar.

De acordo com os produtores, em março, pouco depois de sua posse, o presidente uruguaio José Mujica conseguiu do governo brasileiro um acordo que permite a livre entrada de leite do Uruguai no país, em troca do mercado uruguaio de aves. A proximidade do fim do governo Lula dificultou uma reação política dos produtores brasileiros.

O então ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que havia conseguido impor restrições às importações, desincompatibilizou-se para disputar as eleições e seu substituto, Wagner Rossi, deve ficar no cargo apenas por poucos meses.

"Não tivemos resposta da nota técnica que enviamos em maio sobre o tema. O que a gente gostaria é que houvesse uma cota para a importação do leite uruguaio, como existe em relação ao da Argentina. Pelo menos estamos tentando trazer esta discussão à tona. Este ano está demais", comentou o presidente da comissão de pecuária de leite da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rodrigo Sant " Anna Alvim, produtor na zona da mata mineira.

O preço do leite entrou em queda em plena entressafra . Segundo levantamento da CNA, o preço médio pago ao produtor por litro em julho foi de R$ 0,72, abaixo do registrado para o mesmo mês em 2009 (R$ 0,82), 2008 (R$ 0,76) e 2007 (R$ 0,82). Mas em dólar, é um patamar próximo de US$ 0,40, cerca de 25% mais alto do que o registrado no Uruguai e na Argentina.

As importações têm subido de maneira consistente: foram de US$ 152,7 milhões em 2007 para US$ 213,1 milhões em 2008; US$ 264,8 milhões no ano passado e US$ 175,1 milhões apenas no primeiro semestre deste ano. A importação de soro de leite em julho atingiu 4,4 mil toneladas, totalizando 19 mil toneladas no semestre. Isso mesmo com o crescimento da produção deste ano, que subiu 5,3% no primeiro trimestre. Não há dados consolidados do segundo trimestre.

Sem grandes perspectivas de uma ação governamental sobre o tema este ano, os produtores por outro lado não temem a tendência de concentração do setor.

A possível fusão da cooperativa Itambé com outras três centrais cooperativas, a Minas Leite a Centroleite, de Goiás, e a Confepar, do Paraná, formando uma nova indústria do leite é vista como positiva. "Sozinha, a Itambé não tem escala para ser uma protagonista de mercado e se esta nova indústria sair, isto representa o nascimento de uma gigante", comentou Alvim.

Para ele, a saída de uma das cooperativas que inicialmente estava nas negociações, a Cemil, deve acelerar as conversas e viabilizar a criação da megacooperativa ainda este ano. "Se isto ocorrer, será muito interessante porque pode viabilizar o surgimento de novas fábricas, dando sinergia a unidades fortes na captação , como é o caso da Centroleite", afirmou Marcelo Martins, da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), referindo-se a uma das cooperativas que participa da negociação.

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