Cafeicultores do sul de Minas Gerais acreditam na obtenção de melhores preços com mudança de estratégia. O produtor de café Marcelo Costa Pereira, da Fazenda Bela Vista, situada no município de Três Pontas (MG), acredita que venderá sua produção a preços melhores que os obtidos no ano passado. A aposta do cafeicultor não é sustentada pelo aumento das cotações de mercado em virtude da quebra da safra brasileira, mas sim pela mudança na estratégia de comercialização de café. O produtor é um dos 17 cafeicultores que se integraram ao Consórcio Agrícola da Fazendas Especializadas (C.A.F.E.) recém-formado em Varginha (MG). Com a proposta de produzir um café ecologicamente correto, garantido através da rastreabilidade, o consórcio visa agregar valor ao produto e aumentar as vendas do Brasil no mercado internacional. "No primeiro ano a produção oscilará entre 120 mil e 140 mil sacas, com possibilidade de aumento de 80% na próxima safra", diz Vanúsia Nogueira, superintendente da C.A.F.E. No próximo ano os 17 produtores fundadores do consórcio terão o direito de indicar outros 17 parceiros para integrarem o grupo, o que deverá colocar a próxima safra em patamares próximos de 500 mil sacas.
Origem do consórcio
A iniciativa da formação do consórcio partiu do produtor Cleber Marques de Paiva, presidente do Grupo Unecom, que deve encerrar o ano com faturamento de US$ 130 milhões. O grupo atua na produção e exportação de cafés, além de deter a licença para operar a Estação Aduaneira (EADI) de Varginha. O braço agrícola da Unecom, a Cafezais conta com duas fazendas a Cafezais e a Mato Cubo, que somam 2 milhões de pés de cafés. Já o braço comercial é representado pela trading Exprinsul, que será a responsável pelas vendas do consórcio. No ano passado a Exprinsul comercializou 1 milhão de sacas de café no mercado mundial, volume que deve cair 30% este ano, para algo em torno de 700 mil sacas. "O Brasil precisa divulgar a maneira como produz café, que ainda é desconhecida internacionalmente", avalia Cleber Marques de Paiva. Segundo ele, no mercado externo ainda existe a impressão de que a produção de café no Brasil é conduzida sem cuidados sociais ou com o meio-ambiente. E é este paradigma que o C.A.F.E quer derrubar.
Perfil profissional
"Adotamos mecanismos de rastreabilidade e transparência no processo de produção, bem como uma eficiente estrutura de comercialização", diz Vanúsia. A executiva, ex-sócia da empresa de consultoria Price Watherhouse Coopers, resolveu se desligar da companhia quando foi convidadapara trabalhar na C.A.F.E. "Minha primeira decisão foi visitar todos os compradores de café do Brasil e levantar informações sobre as vendas", diz Vanúsia. A executiva fez uma enquete junto aos maiores compradores de café do mundo, para saber qual o perfil das compras no Brasil: qual o volume adquirido, o que inibe compras, qual a imagem que o importador faz do Brasil, como imagina que funcionam os cafezais e quais os elementos que poderiam contribuir para aumentar as compras. "Descobrimos que existe uma visão muito errada sobre a cafeicultura no Brasil e com base nesta informação resolvemos moldar o C.A.F.E", diz.
A venda de café com ágio é um objetivo comum aos 230 mil produtores do Brasil, principalmente em tempos de preços baixos. No mercado interno a saca de 60 quilos é negociada atualmente entre R$ 135,00 e R$ 140,00, o produto comum e oscila entre R$ 170,00 e R$ R$ 175,00 o café fino. "Um valor extremanente menor que o preço histórico do produto, de US$ 100,00 a saca (R$ 286,00)", avalia Marcelo Costa Pereira. "Comercialização é a especialidade da Exprinsul", avalia Pereira, que pretende entregar à C.A.F.E a maior parte das 4 mil sacas que produzirá este ano. No mercado internacional, a saca de café, contrato de segunda posição, é cotada a 61,10 centavos de dólar por libra-peso, em queda de 10,6% em trinta dias. A tendência para os próximos meses é de que os preços sejam impulsionados pela quebra, de 40%, da safra brasileira do grão.
A troca de informações entre os integrantes do grupo também é essencial para a composição de "blends", além de garantir maior eficiência e a redução de custos nas compras de insumos agrícolas. Com a queda dos preços do café, os produtores estão tendo que buscar alternativas para elevar a remuneração da produção. Além das parcerias, a produção de cafés especiais tem sido bastante explorada. Produtores consorciados ao C.A.F.E acreditam que a produçaõ de cafés "premium" deve oscilar em 15% das 140 mil sacas projetadas para este ano.
"O período de colheita dos cafés especiais é muito curto, de apenas um mês, de 15 de junho à 15 de julho, com isso, a produção de cafés especiais oscila entre 10% e 15% da safra total de um produtor", diz Cleber, que deve colher este ano cerca de 14 mil sacas de café das duas fazendas que mantém no Sul de Minas Gerais. "A criação da C.A.F.E visa utilizar de maneira melhor as nossas potencialidades de produção, armazenagem, comercialização e exportação", diz Cleber.
Sul de Minas
O Sul de Minas Gerais é o mais importante centro de produção de café do Brasil, com safra estimada em 7 milhões de sacas este ano, uma queda de 53% sobre a produção do ano passado, de 15 milhões de sacas. Compreendendo 14 municípios, a região responde por cerca de 30% da produção brasileira de café. O estado de Minas Gerais, que produziu no ano passado cerca de 40 milhões de sacas de café, responde por 80% da produção brasileira de café, que somou 48 milhões de sacas no ano passado. Para este ano, as estimativas apontam para uma safra que deve oscilar entre 30 e 33 milhões de sacas.