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Produtores compram algodoeiras



Objetivo é assegurar a limpeza da fibra. Usinas custam de R$ 4 milhões a R$ 4,6 milhões. Atento ao exigente mercado externo, rigoroso quando o assunto é limpeza da fibra do algodão, o produtor Carlos Menegati, de Campo Verde (MT), resolveu investir na compra de uma indústria de beneficiamento. Ele e outros 15 cotonicultores se cotizaram e pagaram US$ 4 milhões (R$ 11,5 milhões) por 51% da Algomat, usina de beneficiamento de propriedade da Esteve Irmãos. "Foi um ótimo negócio. Agora, temos controle de todas as etapas: da produção ao beneficiamento", diz. Mais cotonicultores pensam como Menegati. Nos últimos três anos, a venda de algodoeiras disparou. Há 10 anos, nenhum produtor tinha sua própria usina. "Hoje, somente na região de Primavera do Leste (MT), temos 16 algodoeiras particulares, a maioria instalada dentro das fazendas", diz Valdomiro Rocco, presidente da Cooperativa dos Produtores de Algodão do Sudeste do Mato Grosso, mais conhecida como Unicotton, responsável por 9% da produção brasileira de pluma. Uma usina nova custa entre US$ 1,4 milhão e US$ 1,6 milhão (R$ 4 milhões a R$ 4,6 milhões). A auto-suficiência tem suas vantagens. Os agricultores eliminam a figura do atravessador, que apenas beneficia o algodão e, em alguns casos, também o revende, reduzindo a margem de lucratividade. Realizando o serviço em casa, também evitam atrasos no cumprimento dos contratos, além de ter maior controle sobre a qualidade. Tanta preocupação com a limpeza da fibra não é em vão. O estado do Mato Grosso devolve 75% do ICMS para os agricultores capazes de produzir um algodão de qualidade, superior ao tipo 6, padrão de exportação. Outros estados, como Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia fazem o mesmo. Todas as 16 algodoeiras dos associados da Unicotton são certificadas com o ISO 9000. A preocupação com qualidade é tamanha que não é qualquer um que se associa à cooperativa. "Para se tornar membro, o candidato passa pelo crivo dos demais associados e precisa ter tradição na cultura: não aceitamos aventureiros", explica Rocco. O salto na qualidade da fibra brasileira é tamanha que até os australianos - grandes produtores mundiais - vieram buscar no Brasil o algodão para cumprir seus contratos de exportação. A Austrália, vítima de severa estiagem, não vai colher 30% da produção inicialmente prevista. "Nosso principal concorrente veio comprar a nossa mercadoria. Essa é a prova definitiva do quanto evoluiu o algodão brasileiro", diz Hélvio Fiedler, da Unicotton. O Brasil, que até os anos 80 era grande importador mundial - em 1996/97 o Brasil gastou US$ 865 milhões em importações -, virou a mesa nos anos 90 até alcançar a auto-suficiência e se transformar em importante exportador, o que está deixando os americanos e australianos de cabelo em pé. Em 1999, o País embarcou 3 mil toneladas de pluma. Na safra 2002/03, a previsão é que sejam embarcadas 185 mil toneladas. "O algodão é uma das culturas que mais evoluiu no Brasil", diz Djalma de Aquino, analista de mercado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). "Basta lembrar que, em 1996/97, a produtividade era de 1,3 mil quilos de caroço por hectare e hoje é de 3 mil quilos", diz o analista. Na safra 2002/03, que está sendo colhida, o Brasil plantou 740 mil hectares. "Ainda não temos previsão para a próxima safra, mas certamente o plantio será maior", acredita Aquino. Na região de Primavera do Leste, por exemplo, os produtores, que plantaram 48 mil hectares, devem cultivar uma área 7% maior, de quase 52 mil hectares em 2003/04. Em Campo Verde (MT), a projeção é ampliar o plantio entre 10% e 12% na região. Satisfeitos com o que viram no Brasil, os compradores internacionais estão antecipando suas compras de algodão. Em Campo Verde, 18% da safra 2003/04, que começa a ser plantada em outubro, já foi vendida. As estimativas dão conta de que esse número pode chegar a 40%. Com os contratos futuros, o produtor tem seu faturamento garantido e, embora só receba o pagamento na entrega da mercadoria, pode planejar as compras de adubos e defensivos. "Nos contratos futuros, o lucro médio é de 20%", diz um corretor. Mas não é só na exportação que os produtores estão de olho. No mercado interno, o preço da arroba, que chegou a R$ 62 em março, caiu para R$ 50. Apesar da queda, a cotação ainda é superior ao preço mínimo, de R$ 33,90. "Graças aos bons preços, o governo não precisará intervir no mercado para dar sustentação às cotações", diz Aquino.

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