Professor alerta para endividamento no setor sucroalcooleiro
A essência das commodities é a ciclicidade
A essência das commodities é a ciclicidade - Foto: Pixabay
O setor sucroalcooleiro volta a encarar um velho roteiro, marcado por margens apertadas e dívidas elevadas. Após anos de bonança, parte das usinas chega ao novo ciclo com alto endividamento e pouca capacidade de reação diante da queda dos preços do açúcar e do etanol. De acordo com o professor de finanças Thiago Gil, o cenário atual combina gasolina mais barata, aumento da produção de etanol de milho e juros ainda elevados, um conjunto que pressiona a rentabilidade e ameaça repetir as renegociações de dívidas vistas em 2015 e 2016.
Segundo Gil, a essência das commodities é a ciclicidade, e a resiliência deveria ser a principal estratégia dos agentes do setor. A alavancagem, no entanto, segue como ponto frágil. Em uma simulação feita pelo professor, uma usina hipotética com dívida de R$ 450 por tonelada de cana, custo de R$ 225 por tonelada e mix de produção 60% açúcar e 40% etanol fecharia a safra 2024/25 no vermelho, mesmo com preços de referência de R$ 2.400 por tonelada de açúcar e R$ 3.000 por metro cúbico de etanol.
Para a safra 2025/26, Gil projetou preços-base ainda menores, de R$ 2.000 por tonelada e R$ 2.800 por metro cúbico, considerando variações de preço e correlação entre os dois produtos. A simulação de Monte Carlo indicou apenas 1,25% de probabilidade de lucro para essa usina altamente alavancada. Já ao reduzir o endividamento para R$ 190 por tonelada de cana, a chance de encerrar o ciclo no azul sobe para 84%, mesmo num ambiente de preços baixos e juros altos.
“Uma conta que não se faz no agro é a opção real de não investir em capacidade produtiva (financiada por capital de terceiros) para arrumar a estrutura de capital e depender mais de caixa e capital própria. Com certeza mudaria a conta do valuation de muitas empresas”, conclui.
