Proprietários em MG se rendem ao arrendamento de cana
A baixa rentabilidade de algumas culturas fizeram com que o produtor optasse pelo arrendamento de terras
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A baixa rentabilidade de culturas, como o milho e a soja, os elevados custos de produção no setor rural e o grande número de usinas de álcool e açúcar na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba fizeram com que o produtor optasse pelo arrendamento de terras para o plantio de cana-de-açúcar, em vez de investir em produção própria.
Minas Gerais possui atualmente 85 municípios canavieiros. A estimativa é que na safra 2005/06 as 24 usinas do Estado totalizem uma moagem de 29,5 milhões de toneladas de cana. O Triângulo Mineiro responde por 60,7% e o Alto Paranaíba por 1,8%. O plantio foi feito em uma área de 403 mil hectares.
Basicamente, as usinas possuem dois tipos de contrato: parceria e arrendamento. Os parceiros recebem percentuais da produção, que pode variar de 10% a 14% por safra, dependendo da quantidade de açúcar que a cana produzir. Já no arrendamento, os fazendeiros são remunerados com uma quantidade de tonelada por alqueire (cada alqueire corresponde a 4,84 hectares). O pagamento pode ser feito mensal ou anualmente e o valor corresponde de 40 a 100 toneladas por alqueire, independente da produção.
O preço da tonelada de cana-de-açúcar está em torno de R$ 33, mas, como está na entressafra, esse valor pode cair a partir de abril, quando começa a colheita. Dependendo das condições climáticas, ela se estende até novembro. O assessor técnico da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Pierre Santos Vilela, conta que em 2005 a tonelada de cana foi comercializada a R$ 30. Por isso, nos próximos meses, pode acontecer uma estabilização no preço.
Segundo ele, os usineiros mineiros devem antecipar de maio para abril o início da safra, com o objetivo de garantir o abastecimento de álcool no mercado interno. Minas deve produzir mais de 60 milhões de litros de álcool somente nestes dois meses, o que vai representar um aumento de mais de 200% sobre os 20 milhões de litros produzidos no mesmo período da safra anterior.
Pierre Santos explica que isso só é possível, porque o clima favoreceu a maturação da cana, caso contrário haveria perdas no rendimento industrial. O assessor técnico ressalta que o cultivo de cana se tornou um investimento atrativo para o produtor rural, porque é uma cultura relativamente fácil de ser conduzida e possui um ciclo que dura entre seis e sete anos. "O açúcar e o álcool estão se tornando a oitava maravilha do mundo, porque o preço do açúcar está como há muitos séculos não se via. Já o álcool tem uma demanda grande por causa dos carros bicombustíveis. O arrendamento é uma alternativa, porque terra parada é custo", diz.
Negócio acertado
Após herdar uma fazenda no município de Capinópolis, o bioquímico de Ituiutaba, João Jorge Sobrinho, conhecido por Badala, viu-se com um grande problema, pois não tinha interesse em abandonar a profissão para se tornar produtor rural. A alternativa encontrada por ele foi arrendar 30 alqueires de suas terras para a unidade da usina Triálcool Vale do Paranaíba.
Ele se tornou um dos primeiros arrendatários da região, com um contrato de seis anos e 10 meses, e não se arrepende do negócio que fechou. João Jorge diz que a cana-de-açúcar é o melhor investimento que fez, tanto que pretende renovar o contrato. "Há três anos não vou à minha fazenda e não quero saber de outra cultura", diz.
João Jorge recebe o valor correspondente a 65 toneladas por alqueire e, segundo ele, os contratos atuais são de 11 anos e a remuneração dos novos parceiros também é melhor. Os parceiros, ou arrendatários, podem optar por receber o pagamento de uma só vez, adiantado, ou ainda parcelado em 12 meses. Segundo o bioquímico, as usinas trouxeram desenvolvimento para a região e a tendência é que haja uma monocultura de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
Usinas investem na região e geram empregos
Para se iniciar uma lavoura de cana-de-açúcar, o investimento é alto, mas ela não exige grandes cuidados e possui um ciclo de até 10 anos, dependendo da qualidade da terra. Além disso, a cana apresenta menos problemas, porque não depende de condições climáticas para se desenvolver.
Mas os produtores rurais da região que optaram por se tornar arrendatários das usinas não se preocupam com nada disso, até porque são as próprias indústrias que ficam responsáveis pelo plantio, trato da lavoura e colheita. Durante a safra, algumas chegam a empregar até quatro mil cortadores de cana, gerando emprego e renda para os municípios onde estão instaladas.
Mas para se tornar parceiro das usinas é preciso atender a alguns requisitos. O superintendente da área de fornecedores e parcerias da Usina Caeté (Unidade Delta), José Newton Vieira, diz que a procura de fazendeiros interessados em plantar cana é grande, por causa da rentabilidade que a cultura oferece e pela facilidade em manter a lavoura. "Quando a soja está nesse quadro atual, aumenta a procura", conta.
José Newton diz que, antes de firmar parcerias, observa se a fazenda está no raio de distância de 30 quilômetros da usina, porque, se não, inviabiliza o negócio. Também avalia a atividade do imóvel (lavoura ou pasto) e o seu estado de conservação (se está abandonado, se há irregularidades no terreno, erosão ou outros problemas). Ele explica ainda que após a vistoria das terras é calculada a medida de todas as áreas de preservação permanente (APP´s), veredas, reservas florestais e sede. "O arrendamento é discutido em cima da área líquida e de acordo com os três pontos. O valor do contrato pode variar de 50 a 100 toneladas por alqueire", diz.
As duas unidades (Delta e Volta Grande) possuem, juntas, uma área de 70 mil hectares e este ano teve uma expansão de mais 20 mil hectares. A unidade Delta começou a operar em 2000 e tem 1,2 milhão de fornecedores de cana e moagem de 3,4 milhões de toneladas. Já a unidade de Volta Grande, que iniciou suas atividades em 1996, possui outros 700 mil fornecedores e moagem de três milhões de toneladas por ano.
Para a Usina Coruripe, o raio de distância para arrendamento é de 40 quilômetros, mas o engenheiro agrônomo da unidade Iturama diz que quanto mais próxima à fazenda, melhor é o rendimento do proprietário rural. Na região, a usina possui três unidades em funcionamento: Iturama, Limeira do Oeste e Campo Florido. Em 2008, deve entrar em operação a unidade de Carneirinho e, ainda sem data definida, a unidade de União de Minas.
A estimativa de produção nas três unidades é de 5,3 milhões de toneladas. A área total plantada é de 73,4 mil hectares. Só as unidades de Iturama e Limeira do Oeste possuem 80 fornecedores e mais de 400 parceiros.