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Qual é a relação do El Niño com a produtividade em campo?

Dados históricos mostram que os avanços tecnológicos estão acima das variáveis climáticas


Foto: Divulgação

A safra 2023/24 está prestes a se desenrolar em um cenário marcado pela presença do fenômeno climático El Niño. As variações climáticas associadas a esse fenômeno têm despertado preocupações e especulações sobre seu impacto na produtividade agrícola. De acordo com as projeções mais recentes do Centro de Previsões Climáticas (CPC/NOAA), o El Niño está previsto para continuar se intensificando nos próximos meses, atingindo o ápice entre novembro de 2023 e janeiro de 2024. Essa intensificação do El Niño traz consigo incertezas e desafios para o setor agrícola.

Gabriel Rodrigues, metereologista do Portal Agrolink, diz que um dos principais pontos de preocupação é o impacto do El Niño na distribuição de chuvas e temperaturas. Essas variações climáticas podem afetar diretamente o desenvolvimento das culturas e a produtividade no campo. Agricultores e especialistas estão atentos aos possíveis desafios que o El Niño pode apresentar, como secas, chuvas intensas ou temperaturas extremas.

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A expectativa é que a influência do El Niño se estenda até o final do outono de 2024. A neutralidade climática só deve se tornar o padrão mais provável a partir do trimestre de maio, junho e julho de 2024, com uma probabilidade de 53%.

Diante desse cenário, o setor agrícola está se preparando para lidar com as incertezas climáticas e adotando estratégias para mitigar os possíveis impactos do El Niño na safra 2023/24. Acompanhar de perto as projeções climáticas e estar preparado para se adaptar às mudanças é essencial para garantir uma safra bem-sucedida.

Projeção para condições de El Niño ao longo dos trimestres corridos. O Período de maio, junho e julho. Fonte: CPC/NOAA

Rodrigues faz uma análise detalhada dos dados de produtividade média da soja, acessíveis por meio da plataforma de séries históricas de grãos da Conab. Esses dados abrangem um extenso período, desde a safra de 1977/78 até 2022/23 e representam a produtividade média da soja em todos os estados produtores do Brasil.

"Ao mergulhar nesses números, torna-se evidente que um padrão notável se destaca ao longo das décadas. A produtividade média da soja apresenta uma tendência crescente, refletindo os avanços tecnológicos e as melhores práticas de manejo adotadas nos campos brasileiros. Esse fenômeno é um reflexo da constante busca por melhorias na produção agrícola", salientou o metereologista. 

Para contextualizar a evolução, é interessante observar que a série histórica começa com uma produtividade média de 1.251,38 kg/ha em 1977. Com o passar dos anos, essa marca foi superada de forma consistente, atingindo seu ponto máximo nas safras de 2017/18, 2020/21 e 2022/23. Nessas temporadas, os resultados surpreenderam, com produtividades médias de soja superiores a 3.500 kg/ha.

Esse padrão ascendente é um testemunho do empenho dos agricultores, do papel crucial da pesquisa agrícola e da inovação no setor agrícola brasileiro. A busca constante por técnicas e tecnologias aprimoradas, aliada a um profundo entendimento das necessidades das culturas, tem permitido ao Brasil se destacar na produção de soja.

Neste gráfico de análise, apresentamos a variação percentual na produtividade da safra de soja em relação à temporada anterior. As barras coloridas representam as variações em anos de El Niño (vermelho), La Niña (azul) e neutralidade (cinza).

O destaque mais marcante nesse gráfico é a considerável variação observada nas safras anteriores à década de 1990. Em pelo menos cinco temporadas, as variações na produtividade da soja superaram a marca impressionante de 20% em termos absolutos. Essa era uma época em que as incertezas climáticas eram particularmente acentuadas.

No entanto, na segunda metade da série, a partir de 1991, as safras passaram por uma notável estabilização. Mesmo que variações ainda ocorram, as flutuações na produtividade da soja se mantiveram dentro de uma margem máxima de cerca de 15% em relação ao ano anterior. Esse período demonstra uma relativa previsibilidade nas safras de soja.

A análise torna-se ainda mais interessante quando separamos essas variações de acordo com os fenômenos climáticos. O impacto das condições climáticas, como El Niño, La Niña e neutralidade, torna-se evidente. Essa análise superficial destaca a influência significativa do fator climático na produtividade da safra de soja.

Os dados ressaltam a importância de compreender e antecipar os efeitos dos fenômenos climáticos, especialmente em um setor tão sensível às condições ambientais como a agricultura. O monitoramento e a análise desses padrões ao longo das décadas são cruciais para os agricultores, pesquisadores e autoridades envolvidas na produção de soja, contribuindo para uma gestão mais eficaz da agricultura em face das variações climáticas.

A análise cuidadosa dos dados de produtividade média da soja ao longo das décadas revela insights valiosos sobre o papel das condições climáticas e do desenvolvimento tecnológico na agricultura brasileira. Os valores foram calculados após agrupar as safras em cada uma das três condições: El Niño, La Niña e neutralidade.

Uma tendência notável é a influência positiva do El Niño na produtividade da soja, resultando em um aumento médio de 7,4%. No entanto, é importante abordar essa estatística com cautela, pois parte dessa variação favorável é impulsionada pelos dados iniciais da série. Antes de 1990, ocorreram três ocasiões em que houve um boom de produtividade devido ao El Niño.

Curiosamente, os períodos de neutralidade climática podem não ser tão favoráveis para o rendimento da soja no campo. Isso é surpreendente, considerando a variação de produtividade em todos os estados do Brasil. Contrariamente ao que se poderia esperar em anos de La Niña, quando os efeitos da estiagem tendem a ser mais pronunciados.

Ao analisar o gráfico de produtividade, fica evidente a ascensão constante do rendimento ao longo das décadas. O impacto de fatores climáticos na média de produtividade do Brasil diminuiu significativamente. Isso não elimina a presença de flutuações locais, mas destaca que avanços tecnológicos e estratégias de produção diferenciadas entre as regiões agem como um eficaz mecanismo de equilíbrio.

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