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Rastreamento da soja na AM deve iniciar em outubro

Os ambientalistas e a indústria poderão detectar quem infringiu a moratória


Um ano após a formalização de uma parceria inédita para conter o avanço da soja na Amazônia, indústria e ONGs enfrentam o seu "momento da verdade". Duas ferramentas cruciais estarão disponíveis até outubro para a concretização do embargo contra os agricultores que derrubarem a floresta: as mais recentes imagens de satélite dos desmatamentos da região, realizadas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e a liberação de um novo mapa do IBGE, muito mais detalhado sobre os municípios do bioma amazônico.

Com esses dois dados à mão, a indústria de soja e os grupos ambientalistas poderão detectar onde e, talvez, quem infringiu a "moratória da soja", que prevê desmatamento zero na Amazônia. A iniciativa foi criada em julho de 2006, por pressão do mercado externo, para coibir desmatamentos ilegais na maior floresta tropical do país.

A punição, segundo o acordo, será a exclusão do produtor da lista de fornecedores da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) e da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), que juntas representam praticamente 90% do poder de compra da soja brasileira.

"Começamos do zero, sem dados. Estamos criando mecanismos para agir", disse Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, em evento ontem em São Paulo para apresentar os resultados do primeiro ano da parceria com a indústria. Além das indústrias, participam as ONGs WWF-Brasil, TNC, Conservação Internacional e o Ipam (Instituto de Pesquisa da Amazônia).

O grupo de trabalho passou o primeiro ano formulando estratégias e sua própria estrutura de funcionamento. Foram traçadas sete áreas prioritárias para combater o desmatamento - entre elas o norte do Mato Grosso, maior produtor do grão do país, e Santarém, no Pará, onde a chegada da Cargill suscitou temores de uma guinada na expansão da área plantada de soja.

O mapeamento das áreas desmatadas após a declaração da moratória adotará como ponto de partida a cobertura florestal em agosto de 2006, combinando imagens oficiais do Inpe, referente ao período de um ano, e do Imazon, uma respeitada ONG de Belém que faz o acompanhamento mensal por satélite do desmatamento.

O novo mapa da IBGE também deverá dar fôlego à análise. Isso porque o único modelo disponível hoje é o de escala de 1:5.000.000. Na prática, dezenas de cidades "desaparecem" sob os contornos do bioma quando se aproxima o foco do objeto de estudo. "O IBGE prometeu entregar um mapa com escala de 1:250.000, o que ajudará bastante", diz Adario. Enquanto isso, o grupo adota a margem de 5 quilômetros para cada lado dos limites do bioma, excluindo propriedades do crivo da moratória.

Esses dois instrumentos de trabalho são especialmente importantes já que a soja demonstra recuperação, após duas safras ruins, o que colocará à prova a iniciativa.

O maior desafio, porém, não está em localizar o local do desmatamento, mas precisamente quem é o dono da propriedade. Segundo o Imazon, dos 70,3 milhões de hectares do Mato Grosso, somente 21 milhões são propriedades cadastradas. "O caos fundiário é o maior desafio", diz Adario. "Como vamos saber quem é o dono de quê?"

Apesar do discurso afinado entre dois lados que historicamente olharam para direções opostas, ainda há alguns pontos de discordância técnica no grupo. Uma delas é o monitoramento georeferenciado de propriedades. Para as ONGs, a melhor opção seria fazer o procedimento já num primeiro momento, para evitar o desmatamento e também obrigar o cumprimento do Código Florestal, que preserva, por exemplo, mata ciliar. Ocimar Villela, da Amaggi, não concorda. Em uma reunião, teria dito: "quero ver quem será o macho para entrar na propriedade".

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