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Redução em tarifa argentina traz perda de R$ 750 milhões

O imposto sobre as exportações de pré-mistura de trigo será de 5%


A redução pelo governo da Argentina do imposto que incide sobre as exportações de pré-mistura de trigo de 10% para 5% terá impacto de até R$ 750 milhões por ano para os moinhos brasileiros. A avaliação é de Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, que tem a maior capacidade de produção da América Latina.

“Para tentar ganhar competitividade, os moinhos brasileiros serão obrigados a reduzir em R$ 5 a saca de 50 quilos. Mas isso será comercialmente desastroso. É preciso que se faça o que o governo chileno fez recentemente, impondo uma taxa de importação de 33% sobre o trigo argentino”, diz ele.

Segundo Pih, os objetivos do Moinho Pacífico em 2007 são fazer parcerias e arrendar alguns moinhos na Argentina: “Estamos analisando plantas de cinco diferentes grupos no país. Mas não queremos fazer investimentos definitivos porque isso vai contra a lógica do negócio. A área de atuação de um moinho não pode passar de 400 km, não é rentável”.

A decisão sobre a pré-mistura, anunciada pela Argentina na semana passada, faz parte de uma série de medidas que o governo argentino vem tomando nos últimos meses. Em outubro, o imposto sobre a exportação da pré-mistura aumentou de 5% para 10%. No mesmo período, o imposto sobre a exportação de farinha de trigo pura foi reduzido de 20% para 10%.

A decisão argentina tomada na semana passada só aqueceu os ânimos nas relações entre os dois países. No ano passado, a indústria brasileira acusou os exportadores argentinos de fraudar o sistema fiscal vendendo farinha de trigo como pré-mistura para pagar menos imposto, o que provocava uma concorrência desleal no mercado brasileiro, que importa trigo da Argentina para fabricar farinha.

Após a denúncia, a alfândega brasileira comprovou a irregularidade, registrando que cerca de 96% de toda a mercadoria vinda da Argentina era adulterada. Atualmente, 95% de todo o trigo consumido no Brasil é importado da Argentina.

Concorrência com o governo

Todo esse confronto deixou os moinhos brasileiros em pé de guerra com o país vizinho. “Não estamos mais concorrendo com os empresários argentinos, mas sim com o governo daquele país. Essa redução fez com que o trigo argentino tenha uma vantagem de US$ 75 por tonelada sobre o trigo brasileiro”, afirma Pih.

Pih ressalta que, caso outros moinhos também comecem a ter atividades fora do Brasil, o setor pode ser comprometido.

“A perplexidade do governo brasileiro frente ao dilema do setor resultará em uma forte migração das empresas nacionais. Isso pode trazer uma queda na produção brasileira de até 30%, além de demissões”, completa ele.

Na opinião de Samuel Hosken, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), esse é o pior momento do setor nos últimos três anos.

“Uma afronta”

“A medida tomada pelo governo argentino foi uma afronta à indústria brasileira. Estamos pleiteando que o Ministério do Desenvolvimento nos ajude a estipular uma taxa de importação de 35% sobre a mistura e 30% sobre a farinha argentina. Isso precisa ser feito para dar possibilidade ao trigo brasileiro de competir igualmente”, afirma Hosken.

De acordo com um levantamento realizado pela Abitrigo, em novembro, as exportações de farina de trigo argentina ao Brasil cresceram 116% se comparadas ao mesmo mês do ano anterior. O único momento em que não houve crescimento, mas sim queda nas exportações, foi em agosto, setembro e outubro, período em que aumentou a fiscalização sobre as cargas argentinas no Brasil.

“Esse crescimento ocorreu por dois motivos: o preço deles é muito melhor e a fiscalização foi reduzida. Caso não haja ação do governo, os moinhos brasileiros irão deixar o país gradativamente, o que fará do Brasil um depósito de distribuição de trigo, nada mais”, completa Hosken.

De acordo com Élcio Bento, analista de mercado de trigo da consultoria Safras & Mercado, a decisão do governo argentino ainda não afetou o preço interno no Brasil. “Antes de tomar qualquer atitude, a indústria nacional de trigo espera que o governo brasileiro interfira no caso e crie medidas que equilibrem a balança de preços no Mercosul”, diz ele.

A previsão de especialistas é a de que em 2007 a produção brasileira de trigo seja de 2,2 milhões de toneladas e o consumo deve chegar a 10,5 milhões de t.

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