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Roberto Rodrigues afirma que Alca ainda é uma incerteza


O ministro da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Pesca, Roberto Rodrigues, disse ontem (24-11) ver um cenário ainda cinzento nas negociações para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Para ele, o documento assinado sexta-feira, em Miami (EUA), por autoridades dos 34 países integrantes do bloco só serviu para marcar agenda de compromissos, sem qualquer garantia de que um dia as propostas saiam do papel.

"Apesar dos poucos avanços, a Alca não morreu. O sonho e a ambição de uma grande abertura comercial estão preservados, mas não há nenhuma garantia de que ele se tornará real", disse. O principal entrave para as negociações, segundo Rodrigues, continua sendo o protecionismo americano, principalmente no setor agrícola.

Outro empecilho são as eleições para o novo presidente dos EUA, que acontecem no ano que vem, freando ainda mais as conversas.

Além das barreiras impostas aos produtos agrícolas brasileiros, Rodrigues apontou outros mecanismos de pressão exercida pelos EUA, como a negociação isolada com outros blocos, como o dos países andinos e caribenhos. "Estes acertos deixam pouco espaço para que a Alca seja concebida do jeito que se espera."

Para o ministro, o Brasil entrou nas discussões para o bloco em desvantagem, já que os EUA decidiram não discutir subsídios internos antes de que estes sejam tratados no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC). Rodrigues defende que esta resistência norte-americana seja compensada dentro do setor rural, com o acesso dos produtos brasileiros ao mercado americano. "O governo brasileiro vem mantendo uma mesma postura: ou se faz abertura comercial agrícola, ou não se faz abertura comercial", disse.

Durante palestra para executivos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Rodrigues conclamou a participação da iniciativa privada, principalmente nas áreas de tecnologia e logística. Ele lembrou do problema do escoamento da safra de soja, que ano que vem deverá bater novo recorde de produção.

Para tentar solucionar este problema, o ministério está fazendo um mapeamento da produção agrícola por região. O objetivo é levantar as rodovias e ferrovias mais importantes para a distribuição e realizar um trabalho em parceria com o Ministério dos Transportes.

O ministro enumerou sete pontos, que segundo ele, são chaves para o crescimento da agricultura no país: tecnologia, infra-estrutura, defesa sanitária, negociações internacionais, reforma agrária e comercialização. Em relação à tecnologia, Rodrigues voltou a propor um fundo privado de pesquisa.

"O setor privado também precisa ter consciência destes problemas. No caso da logística, por exemplo, corremos o risco da crise da abundância, que é pior do que a crise da escassez, já que se tem o produto, mas não se consegue escoar", afirmou. Quanto aos transgênicos, Roberto Rodrigues disse que a discussão sobre o tem sido repleta de discursos "lastreados na ignorância e no preconceito, tanto da parte dos que são a favor, quanto dos que são contra".

Já para o ex-ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, as correntes contra os transgênicos são, na verdade, um complô dos EUA e da União Européia contra o Brasil. "Eles querem que o país fique atrasado tecnologicamente. Esta história me lembra a discussão sobre o milho híbrido, há 40 anos", afirmou ele.

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