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Rodrigues diz que Brasil pode dominar royalties do álcool

Titular do Ministério da Agricultura no primeiro mandato de Lula diz que País pode ganhar com venda de tecnologia do álcool


O Brasil é líder absoluto em tecnologia e produção do álcool, mas essa condição não é permanente e é necessário grandes investimentos para manter a posição. O ex-ministro Roberto Rodrigues esteve nessa terça-feira (06-03) em Goiânia (GO) para participar de evento da multinacional do setor agrícola Monsanto. Ele falou com exclusividade ao Diário da Manhã que levou à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a sugestão de o governo subsidiar pesquisas na área de produção de etanol. A idéia é alcançar a descoberta e inovações que permitam ao País ter domínio de royalties do álcool no futuro.

Rodrigues diz que a visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil e o etanol como pauta do encontro com Luiz Inácio Lula da Silva é grande oportunidade para divulgar e fazer crescer a produção e consumo de álcool no mundo.

Com o intuito de ampliar o apoio internacional ao etanol, o ex-ministro disse que convidou o ex-primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi para integrar a Comissão Interamericana de Etanol. Rodrigues quer que Koisumi divida com ele, com o governador da Flórida, Jeb Bush, e com o presidente do BID, Luis Moreno, o cargo de co-presidente da entidade.

Sobre a manifestada preocupação da Organização das Nações Unidas (ONU) quanto ao impacto ambiental causado com a produção do álcool, Rodrigues disse que não há com o que se preocupar. “Com a colheita mecanizada, não há mais a queima da cana e a palha seca é matéria orgânica que repõe os nutrientes ao solo”, afirma.

Diário da Manhã - A ONU divulgou um relatório falando sobre os riscos da produção de etanol para o meio ambiente. Essa informação procede ou a usina sucroalcooleira já conseguiu superar isso?

Roberto Rodrigues - Há muito tempo foram superadas essas barreiras. Hoje, com a cana cortada mecanicamente e não sendo queimada mais, ela é uma cultura que incorpora matéria orgânica ao solo - a touceira de cana é muito rica em material orgânico; tem que ser produzida com logística elaborada porque senão não conseguimos a cana. Assim, toda conservação do solo é rigorosa. Enfim, é uma atividade altamente desenvolvimentista e que gera empregos a granel em qualquer país produtor. É uma atividade ambientalmente muito positiva. Não consigo entender qual a razão de se dizer que seja um produto poluente.

DM - Para a produção de etanol, quais as conseqüências esperadas da vinda do presidente Bush ao Brasil?

Rodrigues - Espero que essa reunião dê origem a uma grande promoção do etanol em nível hemisférico e, posteriormente, mundial. Tenho a convicção de que, da mesma forma que no século passado a grande preocupação da humanidade foi a segurança alimentar - em função da fome sofrida na Europa durante a segunda guerra mundial (o que levou a Europa a fazer a política agrícola com vultosos subsídios) - neste século o tema é segurança energética. Não se faz desenvolvimento sem energia. É cada vez mais evidente que a energia do petróleo caminha para o final, mas a tendência é de busca de alternativas. Na energia, no que diz respeito a combustíveis líquidos, seguramente a agroenergia é a que tem maior potencial porque é renovável, qualquer país pode produzir e é ambientalmente mais favorável. E o Brasil é o país que tem condições excepcionais para liderar esse processo por causa do Proálcool, que foi criado há mais de 30 anos.

DM - Então, as expectativas são boas?

Rodrigues - A esperança que eu tenho é que essa reunião produza uma grande divulgação do etanol como alternativa ou aditivo à gasolina, mudando até certa forma a visão em todo o planeta. Isso será muito bom para nós. Primeiro, porque a cana-de-açúcar é a melhor matéria-prima para a produção de etanol. Segundo, porque o Brasil é o país que tem a cana-de-açúcar mais desenvolvida com maior tecnologia do mundo. Então, quanto mais países produzirem etanol a partir de cana, tanto mais chances teremos que o etanol se transforme numa commodity mundialmente aceita. Portanto, países consumidores como os asiáticos e o próprio EUA estarão no mercado disputando a matéria-prima da qual o Brasil tem a liderança do processo.

DM - O Brasil tem a melhor tecnologia do mundo em etanol?

Rodrigues - Temos tanto em etanol e agroenergia. Só que tecnologia é uma coisa dinâmica, não é um processo estático. Hoje você é líder, mas se não investir e o vizinho sim, amanhã o vizinho é campeão e você fica na rabeira. Para mantermos a liderança, precisamos de investir em tecnologia e estamos fazendo isso muito bem.

DM - Seria interessante o Brasil exportar tecnologia para a América Central? E seria exagero imaginarmos uma Opep do Álcool?

Rodrigues - A Opep eu acho indesejável. Qualquer cartel na minha visão é indesejável e a Opep, sem dúvida nenhuma, sempre foi um cartel. Não quero ser estimulador ou participante de um cartel do etanol. Ao contrário, penso que temos que criar um grande processo de produção e consumo. Para a comissão hemisférica da qual sou o co-cherman, estou convidando o ex-primeiro-ministro do Japão Junichiro Koizumi para participar, porque o Japão é um consumidor extraordinário e nunca vai produzir etanol suficiente para eles mesmos. Eu não quero a criação de uma Opep e sim de um mercado aberto, livre, transparente e democrático para que todos aqueles que forem eficientes possam disputar espaço.

DM - Com a adoção da co-geração, esse aumento de produção de álcool leva a uma maior geração de energia elétrica?

Rodrigues - Esse é um tema que tem que avançar tecnicamente, porque é muito possível que a gente consiga, através da hidrólise do bagaço, aumentar a produção de álcool também. Mesmo da folha da cana é possível fabricar álcool. A co-geração de energia elétrica vai depender muito dos avanços tecnológicos na geração de etanol a partir do bagaço. Se isso for mais econômico que a co-geração. As coisas serão definidas a partir da questão econômica. Hoje, a co-geração é importantíssima, até porque o custo operacional dela é muito pequeno e você pode levar uma região não desenvolvida a receber eletricidade de maneira articulada e permanente. Então, a co-geração é muito importante, mas sua permanência dependerá dos avanços tecnológicos.

DM - Goiás está caminhando no rumo certo no que se refere à produção de etanol?

Rodrigues - Goiás é um Estado que tem a agricultura pujante, mais que isso, tem agricultores modernos. Aqui a tecnologia é muito estimulada. De maneira que, mais uma vez, no setor sucroalcooleiro, Goiás está no bom caminho.

DM - Quais assuntos que o sr. e a ministra Dilma Roussef pontuaram para serem tratados na reunião com Bush?

Rodrigues - Esse encontro com a ministra foi uma reunião de cortesia. Sou amigo dela. Fui lá dar sugestões sobre a questão do etanol no Brasil, sobre tecnologia que é essencial. Precisamos investir mais. Tenho lutado muito pela criação de uma sociedade de propósito específico junto à Embrapa, que a lei já permite fazer. A idéia é estimular o avanço desse tipo de ação pelo qual o setor privado possa investir em parceria com o setor público gerando tecnologia e se beneficiando da tecnologia e dos royalties das tecnologias geradas.

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