Safra de pinhão pode ser a menor da história no RS
A média da produção de uma araucária é de 50 pinhas, sendo que este ano algumas árvores apresentaram apenas quatro pinhas
A justificativa para este cenário pode estar atrelada a diversos fatores como observa o agrônomo. “Mas, isso está diretamente relacionado com o processo da polinização, onde as condições climáticas podem contribuir para a redução da produtividade”, confirma ele, esclarecendo que, o vento excessivo é um dos fatores que poderia afetar o processo de fecundação e desenvolvimento das sementes. “Pois o pólen é muito leve, e se o vento é muito forte ele sobe demais e não vai alcançar o estróbilo feminino”.
Melo assegura que o desenvolvimento do pinhão tem duração de dois anos. Sendo assim, o clima que influenciou nos números desta safra é o que ocorreu em 2010. “Neste ano tivemos uma primavera bastante chuvosa, o que acaba por molhar o pólen, que fica pesado e também não alcança o estróbilo feminino”. Outro aspecto que deve ser considerado é que, como a árvore está em constante produção, chega um momento em que ela está ‘cansada’ de produzir. “É um esgotamento natural, sendo que a araucária precisa reduzir a produção para se recuperar”, ressalta. Geralmente, como as árvores são nativas e não recebem adubação, este esgotamento é bastante comum.
Além disso, existe uma praga chamada popularmente de broca do pinhão, conforme Melo, que também pode influenciar na queda da produção. “Esta praga está presente em todas as safras, e uma das formas da planta preservar a sua espécie, se defendendo, é barrar a produção do pinhão, reduzindo drasticamente também a população da praga”, observa ele, lembrando que no ano passado a produção de pinhão teve a presença de uma população muito grande desta broca.
Produção é totalmente extrativista
De acordo com Melo, a produção de pinhão é essencialmente informal e extrativista, sendo que se torna difícil contabilizar esta produtividade. “Mas, existem muitas famílias que dependem e fazem uma boa renda desta atividade, até porque ela entra em um período onde não se tem outra alternativa de recursos dentro da propriedade”, pontua, acrescentando que existem famílias que possuem no pinhão a principal fonte de renda.
Os extrativistas são produtores rurais que realizam a colheita ou terceirizam este trabalho, além de pessoas que apenas vivem no meio rural ou em conglomerados urbanos. Segundo o agrônomo, o Rio Grande do Sul é responsável apenas por 15% da produção do pinhão, perdendo para Santa Catarina, com 35% e Paraná com 50%. Ele salienta ainda que em 2010 a produtividade teve um crescimento de 10,9%, com 5.715 toneladas.
No Rio Grande do Sul, os municípios responsáveis pela produção são: São Francisco de Paula, Fontoura Xavier, Lagoa Vermelha, Caseiros, Muitos Capões, Cambará do Sul e Barracão.
Preço do produto tende aumentar com redução da produção
Caso a expectativa de redução da produção seja confirmada, sem dúvida o preço do produto sofrerá um reajuste bastante considerável. Conforme Melo, no ano passado, o pinhão foi comercializado a aproximadamente R$ 2 o quilo. “Como a safra não iniciou, não temos noção exata de como será a produtividade. Percebemos que as pinhas estão bastante reduzidas, mas não sabemos que produto está ali dentro, pois além do fato de ter reduzido o número de pinhas pode ter reduzido também o número de pinhões”, lembra ele, destacando que, em média, em cada pinha encontra-se de 100 a 120 pinhões.
Já as pinhas que serão colhidas no próximo ano, já são possíveis de serem observadas, e estão em um número superior ao deste ano. “Além da questão do aumento no preço, temos outro ponto a ser observado que é a alimentação da fauna, pois os animais que são costumeiros consumidores do pinhão terão dificuldades de encontrar o alimento, o que influenciará na cadeia produtiva destes animais”.