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Safra e exportação recordes de café ainda não beneficiaram produtor


O diretor-superintendente do CNC (Conselho Nacional do Café), Manoel Bertone, destacou em artigo que o Brasil, apesar de estar obtendo recordes de produção e exportação de café, continua não propiciando remuneração significativa para os produtores.

O Brasil está comemorando o maior volume de café exportado em um ano civil em todos os tempos. Esse feito demonstra bem a pujança de nosso país e a competência dos setores que compõem a cadeia produtiva do café, em especial, neste caso, os setores produtor e exportador. A produção demonstrou toda sua força ao renovar o parque cafeeiro com tecnologias modernas e que proporcionaram maior produtividade e melhor qualidade. Os estímulos de renda proporcionados em 98/99, quando bons preços foram associados à produção de ciclo alto de 1998, geraram uma fantástica produção em 2002. O setor exportador, por sua vez, também demonstrou toda sua competência, participando do financiamento, estocando, comercializando, processando, e embarcando volumes recordes do produto. São feitos que realmente devem ser comemorados. Comercializar esse volume de café exige credibilidade comercial, agressividade positiva, coragem e eficiência no uso de mecanismos financeiros de cobertura de riscos, além do necessário suporte financeiro, que não existiria caso essas empresas não fizessem por merecer. O comércio, ou seja, aqueles que fizeram fluir nossa safra recorde, aí incluídos exportadores, corretores de físico e de bolsas, a própria BM&F e os agentes financeiros que nele atuam, foram de fundamental importância nesse feito notável. Também o governo teve atuação importante, uma vez que criou mecanismos que ajudaram a administrar o fluxo comercial da produção de forma bastante razoável.

Mas o que faltou para que todo esse sucesso não seja considerado completo? Faltou renda ao produtor, o que gerou pobreza, desemprego, inadimplência, queda no nível de desenvolvimento econômico das regiões

cafeeiras, aumentos dos custos sociais governamentais com saúde, alimentação, seguro desemprego, custos dos financiamentos que subsidiaram os produtores e queda na qualidade de vida de produtores e trabalhadores rurais. A euforia dos centros comerciais infelizmente não se repete nos centros produtivos. Aqui está imperando a incerteza, as quebras, as vendas de propriedades, as ações na justiça, os títulos protestados, coisas que quando são por nós mencionadas são ouvidas com pouco caso por parte daqueles que viveram apenas a parte boa de nossos recordes.

Exportamos 28 milhões de sacas de café e faturamos 1,4 bilhão de dólares. A Colômbia exportou 11 milhões de sacas e faturou um bilhão de dólares. Fomos além do necessário na tentativa de "quebrar" nossos concorrentes, mesmo porque eles vergam, mas não quebram. A competitividade brasileira, infelizmente, foi em grande parte fundamentada na vulnerabilidade dos produtores, que vivendo de uma atividade perene, de ciclo longo, não têm como administrar com a agilidade necessária sua produção. Fica sempre a dúvida se poderíamos ter feito algo mais para minimizar esse problema. Particularmente acho que poderíamos. Essa pressão sobre os concorrentes não gerou uma diminuição de sua produção compatível com nossas perdas econômicas, e também nós apresentaremos redução significativa no futuro imediato. O histórico dos últimos 13 anos deveria ter nos ensinado mais do que conseguimos aprender. As perdas de divisas foram incompatíveis com os ganhos de market share que podem ser voláteis se não modificarmos nossa forma de agir. Faltou diálogo! Sem culpas específicas. Faltou amadurecimento. Sem críticas a quem quer que seja. O setor como um todo deve encarar seus desafios, tendo em vista os objetivos da nação. Dentre esses objetivos devem estar também a qualidade de vida de seus cidadãos. Exportar muito a preços competitivos, mas com lucro para quem produz, é um desafio a ser enfrentado pelos setores responsáveis por esse recorde que hoje comemoramos com orgulho. Não é possível que não tenhamos competência para isso. Acho que falta apenas tentarmos! Juntando forças, coordenando nossas competências, reconhecendo, cada um de nós, as necessidades e as características do outro. Produtores, exportadores e industriais têm a responsabilidade de assumir esse desafio.

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