Seca chega à feira livre com reajustes de até 40%
Produtores já aumentaram preços e a alta deve ser repassada em breve ao consumidor
Os efeitos da seca que atinge as regiões agrícolas do Sul do país chegam à população urbana pelos supermercados e feiras de alimentos in natura. Da carne de frango ao feijão com arroz, os reajustes já passam de 6% neste ano, conforme pesquisa estadual do governo do Paraná. Aos poucos, o varejo assimila as altas. Se os distribuidores seguirem o movimento do mercado, a alta do preço do feijão carioca deve passar de 40%, fazendo o quilo do alimento superar os R$ 5 onde vinha sendo vendido a R$ 3,50.
Os maiores prejuízos da seca acontecem nas lavouras de milho e soja, mas a alta nos preços se estende a produtos como as carnes, pelo fato de os grãos serem ingredientes básicos da ração de aves e suínos. No caso do feijão e do arroz, a relação é direta. Sobe o preço ao produtor e, quase que simultaneamente, ao consumidor, explica Metódio Groxko, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná.
A equação vem à tona no Mercado Municipal de Curitiba. Na feira de ontem, o produtor e distribuidor Gilmar Vasco Sanson, que cultivou cinco hectares de feijão em Palmeira (Campos Gerais), relatava aos comerciantes do Mercadão que sua colheita está rendendo 12 sacas de 60 quilos por hectare. Ele esperava 40 sacas/ha, mas faltou chuva e houve quebra de 70%. No momento em que sua produção chega às bancas, as tabelas são corrigidas.
O comerciante Isaac de Oliveira explica sem dificuldade o que os economistas chamam de “demanda inelástica ao preço”. “No caso do feijão, as pessoas continuam comprando praticamente o mesmo de sempre sem olhar muito os preços subirem”, diz. Ou seja, a procura é firme e varia bem menos que as cotações, deixando os comerciantes à vontade para empunhar apagador e giz e elevar os preços.
Cotações
A saca do feijão carioca subiu, somente ontem, 8,46% no preço pago aos produtores. A saca passou de R$ 145 para R$ 157 no Paraná, líder nacional no cultivo. Um estímulo à segunda safra, que começa a ser plantada agora e tem a missão de derrubar os preços no varejo. A nova safra, no entanto, também depende de chuva. O pacote de 5 quilos de arroz parboilizado tipo 1 passa de R$ 8 no varejo nos supermercados do Paraná, preço 13% maior que o praticado há duas semanas, refletindo a quebra na produção verificada no Rio Grande do Sul, maior produtor do país.
Entre as carnes, o quilo do frango congelado subiu 4% neste ano. O pernil suíno com osso é outro exemplo de alta. Teve reajuste de 6% nos últimos dias e chegou a R$ 8 por quilo na média estadual.
Relatório otimista rebaixa commodities
O relatório sobre as commodities agrícolas divulgado ontem pelo departamento de agricultura dos Estados Unidos, o USDA, foi bem mais otimista do que o mercado esperava e derrubou os cotações em Chicago, com reflexos em todo o mundo. O documento não assumiu as perdas climáticas projetadas na América do Sul e elevou os estoques e a produção norte-americana.
Depois de recuar 3% no dia anterior, quando foi confirmada a ocorrência de chuvas expressivas na Argentina, a cotação da soja caiu novamente na Bolsa de Chicago. Ante o quadro de oferta ampliada, o bushel (27,2 quilos) nos contratos com fechamento em março (auge da colheita brasileira) foi cotado a US$ 12,03 (1,7% abaixo da véspera). E o milho chegou ao limite de baixa, passando de US$ 6,51 para US$ 6,11 o bushel (25,4 kg) para março.
A queda na produção de soja do Brasil, segundo o USDA, será de 1 milhão de toneladas e a colheita deve somar 74 milhões de toneladas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no entanto, prevê recuo de 3 milhões de toneladas, para 72 milhões. Em relação à produção argentina, os EUA acreditam que a colheita vai cair 1,5 milhão de toneladas, para 50,5 milhões. As consultorias argentinas indicam perda de até 5 milhões de toneladas.
As baixas nos preços foram menores no Paraná: a soja caiu 0,62%, para R$ 43,22 a saca, e o milho chegou a subir 1,05%, para R$ 23,20/saca. A frente fria que beneficia a Argentina não deve passar de pancadas de chuva no estado, conforme as previsões meteorológicas.