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Setor assegura estoque para entressafra maior de cana

Estiagem e queimadas levam usinas a anteciparem fim da moagem


Estiagem e queimadas levam usinas a anteciparem fim da moagem, e redução nas exportações pressiona diminuição na produção de açúcar e etanol; Unica ainda espera safra mais alcooleira

Com os prejuízos ocasionados pela estiagem, diversas usinas devem encerrar o período de moagem mais cedo. Neste contexto, lideranças do setor garantem que haverá mais de um bilhão de litros de etanol em estoque para a próxima entressafra, que será mais longa.

Além disso, o período de 2014/2015 conta com um agravante aos canaviais: o aumento das queimadas.

"A população está acostumada a associar a queima da cana com colheita e isso quase não existe mais. Justamente a mecanização gerou um excedente de palha que, combinada à seca, tornou o canavial mais suscetível a incêndios", explica a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina.

De acordo com a entidade, entre os meses de janeiro e junho o índice de chuvas foi 80% menor do que o esperado para o período, fator que colaborou para a ocorrência de queimadas classificadas pelo diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, como "criminosas". "Estamos no mês de setembro, o mercado está ofertado, a quebra agrícola não vai afetar a oferta", garante o diretor.

Apesar das quedas de preços ocasionadas pela safra, no etanol, os valores deste ano estão levemente superiores no comparativo anual. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram alta de 0,5% no anidro e 2% no hidratado entre os meses de abril e agosto deste ano, porém, queda na rentabilidade por conta dos custos de produção.

Danos

O diretor conta que um incêndio faz com que a cana seja colhida antes do período ideal, prejudicando a produtividade e os níveis de ATR [Açúcares Totais Recuperáveis] da produção. O menor prejuízo fica entre R$ 1.500 e R$ 1.700 por hectare. No caso de soqueiras ou brotos queimados, pode haver impacto para a oferta da cana na próxima safra.

"A decisão do produtor vai depender muito do desempenho do clima entre os meses de janeiro e março", diz Pádua sobre o adiantamento no fim da moagem. Mesmo que as chuvas sejam regularizadas, o setor ainda não estará recuperado para o período de 2015/2016.

"A próxima safra vai começar nessas condições e até mais tarde do que o normal. As usinas terão que recorrer a financiamentos do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Não faltará oferta, mas não há uma linearidade, alguns produtores terão muito estoque e outros não. Em relação a esta safra, pode haver até mais fechamentos de usinas", completa o diretor.

Apesar destas condições, a Unica ainda aposta em uma safra mais alcooleira.

Políticas

Considerando uma entressafra mais longa, Pádua enfatiza a necessidade de políticas que garantam previsibilidade ao etanol e à bioenergia.

Na expectativa de redução das exportações, a Unica projeta diminuição de três milhões de toneladas na produção de açúcar e entre 1,2 e 1,5 bilhões de litros de etanol para o período de 2014/2015.

"Me preocupa o programa da presidente Dilma não mencionar o etanol e declarações de membros do governo dizendo que o Brasil tem suas reservas do pré-sal e a Petrobras vai expandir na produção de petróleo - que continuará sendo um combustível fóssil e poluente - enquanto o Brasil é um dos países com as condições mais favoráveis para a produção de agroenergia, que reduz emissões e contribui imediatamente com a redução de custos na saúde pública", diz Farina em entrevista exclusiva ao DCI.

Para a presidente, a solução da crise depende da condição climática - que há cinco safras não é regular - e de medidas governamentais concretas.

"Acho errada a visão que classifica o etanol como substituto do petróleo. A energia renovável é complementar e estende a vida útil dos combustíveis fósseis", critica.

Bioenergia

Segundo Elizabeth, entre 2013 e 2014 houve um crescimento na oferta de bioenergia e 40% das usinas já exportam para a rede, o suficiente para atender o consumo de oito milhões de residências. Com esta contribuição, no ano passado foi gerada uma economia de 7% para os reservatórios de água.

"Estamos falando de 40%, sendo que ainda temos todos os outros 60%, cerca de 200 usinas que poderiam participar disso se tivessem a oportunidade de entrar nos leilões com preços adequados para viabilizar reformas, modernizações nas caldeiras, de maneira que elas pudessem gerar energia para o abastecimento próprio e também exportar para a rede", explica.

A presidente defende o reconhecimento dos atributos positivos da bioeletricidade e se diz satisfeita com a presença do setor nas discussões de candidatos à Presidência.

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