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Silvicultura: Macaco-prego ataca florestas de pinus

Pesquisadores tentam encontrar formas de deter invasões, consequência da falta de alimentos para o primata em florestas nativas


Pesquisadores tentam encontrar formas de deter invasões, consequência da falta de alimentos para o primata em florestas nativas


O macaco-prego, um bichinho ágil e inteligente, descobriu no pinus uma fonte de alimento no inverno. O hábito, que teve os primeiros registros nos anos 50 no Brasil, se intensificou na última década e tem provocado dor de cabeça entre os silvicultores. O ataque chega a causar a morte da árvore e, para um setor que de­­pende da produtividade das florestas plantadas, o primata, que pesa menos de 4,5 quilos, vi­­rou um inimigo.


Mas, nem por isso, o controle pode ser feito sem critérios. O abate, por exemplo, é crime am­­biental. “O macaco-prego é natural da Mata Atlântica e não pode ser chamado de praga para a silvicultura”, afirma o biólogo e su­­pervisor de Gestão Sócio-Am­­biental da Remasa, em Bituruna, Dieter Liebsch.

O Paraná tem 12% de mata nativa, segundo o Instituto Para­­naense de Desenvolvimento Eco­­nômico e Social (Ipardes), e é nes­­sa faixa que as famílias de macaco-prego vivem. Entre os meses de maio e novembro, como lembra Liebsch, falta alimento na floresta nativa e os bichos saem em busca de comida. Para não cor­­rer o risco de ser caçado por uma jaguatirica, o primata evita atravessar a floresta pelo chão. Eles pulam de galho em galho até alcançar o terço superior dos pinus.

A casca do pinus é arrancada com os dentes pelo macaco-prego. Seu objetivo é degustar a seiva, que circula pelo caule para levar alimento à planta. “A retirada da casca pode ser parcial, onde ele retira apenas uma lasca, comumente chamada de janela, ou total, quando o descascamento se dá ao longo de toda a circunferência do caule, causando um anelamento”, acrescenta Liebsch. O biólogo explica que o anelamento é o mais prejudicial ao pinus, pois mata a copa da árvore ou fragiliza a planta, que se torna porta de entrada para pragas florestais, como a vespa da madeira.

Árvores com mais de 4 anos são as preferidas dos primatas. Como o corte florestal pode ocorrer entre 6 e 14 anos, conforme o uso da matéria-prima, o ataque compromete a qualidade e o desenvolvimento da planta. Os danos podem ser vistos claramente em florestas já formadas. Árvores secas entre e fileiras irregulares denunciam as perdas de produvidade causadas pela invasão do primata.



Especialistas tentam entender bandos e medir prejuízos

A série de motivos que leva o macaco-prego a invadir as florestas de pinus ainda está sendo decifrada pelos pesquisadores, bem como os prejuízos causados pelos bandos. O trabalho tem sido mais difícil do que se imaginava.

No caso do projeto Desenvol­vi­­­mento de Propostas de Ma­­nejo para Minimizar os Danos Causa­dos pelo Macaco-Prego a Plan­­tios Flo­­restais, coordenado pela pesquisadora Sandra Bos­­mikich (Embrapa Florestas), os esforços começaram há nove anos. O estudo, relata San­­dra, começou a partir de uma de­­manda do setor produtivo e hoje engloba não so­­mente o Paraná, mas Santa Ca­­tarina e, futuramente, o Rio Gran­­de do Sul e São Paulo, que também re­­gistram ataques.

“Nós vemos o macaco-prego com muita preocupação”, afirma o presidente do Conselho Deli­bera­­ti­­vo da Associação Paranaen­se de Em­­presas de Base Florestal (Apre), Gil­­son Gero­nasso. Ele é admi­­nistrador da Re­­masa Reflo­­restadora, em Bituru­­na, na região Sul do estado.

“Já fizemos uma pré-análise na empresa e notamos que as ár­­vores, em sua grande maioria, não chegam a morrer, mas perdem a capacidade de produzir mais. Esse es­­tresse gerado na planta é propício para o ataque da vespa da madeira”, aponta.

Em Santa Catarina, a situação é semelhante. “Estamos fazendo o balanço e não temos dados concretos sobre isso (os prejuízos)”, lembra o presidente da Associa­ção Ca­­tarinense de Empresas Flo­­res­tais, Epitágoras Oliveira Costa.

Novos hábitos

O su­­pervisor de Gestão Sócio-Am­­­­biental da Remasa em Bituruna, Dieter Liebsch, lembra que o preocupante é que os hábitos desenvolvidos pelos primatas são repassados de geração em geração. Os macacos-pregos são considerados os mais inteligentes entre os primatas. Eles até utilizam pedras como fer­­ra­men­tas. Para o biólogo, o novo com­­por­tamento se explica mais pela inteligência do animal, que busca as áreas com alimentação farta, do que com o desmatamento das florestas originais. Os bandos podem ter descoberto que é mais fácil encontrar alimentação nas florestas de pinus do que nas ma­­tas nativas.

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