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Simpósio promoveu debate científico sobre agrotóxicos no oeste goiano

Promovido pelo IF Goiano, evento reuniu em Rio Verde pesquisadores para debater a temática e seus desdobramentos acerca da saúde do homem


Promovido pelo IF Goiano, evento reuniu em Rio Verde pesquisadores para debater a temática e seus desdobramentos acerca da saúde do homem

Entre os dias 24 e 26 de setembro, o campus Rio Verde do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) sediou o I Simpósio Goiano sobre Agrotóxicos, Meio Ambiente e Saúde. Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Agroquímica (PPGAq), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), a iniciativa reuniu importantes pesquisadores brasileiros sobre as três temáticas principais do simpósio. A ideia que originou o encontro partiu do recente episódio de aplicação aérea de defensivos agrícolas, que provocou a intoxicação de alunos e professores de uma escola rural de Rio Verde.


Ao discutir a regulação de agrotóxicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a gerente-geral de toxicologia Heloísa Rey Farza destacou a necessidade de controle dos produtos que são autorizados pela agência. “É indiscutível. São todos tóxicos para a saúde, sem contar os demais danos ao meio ambiente. Alguns produtos têm índice de toxidade tão alta que não podemos autorizar, seria anti-humano”, considera Heloísa.

Ela traça ainda relevantes críticas ao uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ao afirmar que os mesmos não são produzidos nos modelos da população brasileira. “É coisa de primeiro mundo e muitas vezes não são adequados. Por exemplo, a história de passar o macacão uma vez lavado para reestabelecer a hidrorrepelência não é uma realidade do campo brasileiro. Os EPIs não protegem os trabalhadores, apenas mitiga os efeitos dos produtos. Nenhum equipamento é suficientemente espetacular”, afirma a gerente-geral. A única maneira de proteger o homem dentro do seu ecossistema é acabar com o uso de agrotóxicos, acredita Heloísa.

Segundo ela, a saída seria a adoção da agroecologia, como o uso de abelhas para a captura de pragas, assim como de bactérias e demais sistemas alternativos à prática agrícola atual. “Falta no Brasil o mesmo que no mundo inteiro. Outro conceito de agricultura, buscando alternativas para o não uso dos produtos que tanto afetam a saúde humana”, considera.

Neste aspecto, a transição para sistemas mais sustentáveis de produção se faz essencial, e foi este o tema da palestra ministrada por Ricardo Henrique Silva Santos, engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV). “A transição é necessária, não só no Brasil como no mundo inteiro há indicadores consistentes de que nas gerações futuras não vai ser possível fazer agricultura como agora”, afirma Santos. Ele ressalta que o país precisa adotar novas formas de produzir alimentos, considerando principalmente os pontos de vista ecológico, econômico e da distribuição da riqueza gerada pelo sistema: “Precisa ser melhor distribuída, equânime”.

Na avaliação do engenheiro agrônomo, é preciso diminuir a dependência dos produtos pontuais, desenvolvendo uma agricultura mais embasada em processos. “Temos que pensar em benefícios que vão acontecer ao longo de anos, e não somente na próxima safra. Falta adotarmos processos biológicos de nutrição de plantas e deixar de lado os modelos puramente químicos industriais”, considera Santos.

Para o alinhamento dos sistemas agrícolas mais sustentáveis, a carência maior é ainda em pesquisas agropecuárias. “E a própria população pode e deve contribuir, valorizando os produtos que são provenientes de sistemas mais sustentáveis. O resto é detalhe técnico, que os próprios agricultores vão adaptar na produção, com correções e melhorias ao longo do tempo”, explica.


“Falta consciência ambiental em todas as esferas”, diz especialista

Para se chegar a significativas mudanças no sistema de produção agrícola brasileiro, um dos principais aspectos a se considerar é a educação ambiental. Tendo o meio ambiente como tema transversal, a ideia é suprir lacunas e buscar melhorias em todos os segmentos, visando uma nova interpretação sobre o meio, que não é apenas as reservas florestal e animal. “É nossa vida cotidiana, isso inclui calçadas, arborização, gestão de resíduos”, afirma o cientista social Luiz Antônio Cabello Norder, que tem ampla experiência na área da sociologia, com ênfase em sociologia rural.

Pela primeira vez em Rio Verde, Norder pontua que a cidade possui problemas comuns às demais brasileiras quando o assunto é consciência ambiental. “Numa primeira impressão, a questão de acessibilidade por aqui ainda é muito precária, as calçadas têm muito degraus, a arborização também não é das melhores. Tem muito a ser feito”, avalia. Ele cita como exemplo a cidade de Londrina, no Paraná, que em toda a área central conta com faixa tátil, além de um amplo programa de arborização e várias organizações trabalhando em prol do meio ambiente.

Norder critica a falta de consciência por parte dos próprios gestores públicos brasileiros, que muitas vezes apresentam considerações superficiais sobre o meio ambiente. “A formação dos gestores é muito precárias, algumas medidas poderiam ser facilmente adotadas, mas o maior obstáculo hoje na questão ambiental é a falta de informações sobre ações adequadas, que sirvam de exemplo. Precisamos democratizar a informação”, destaca.

Em Rio Verde, o cientista social conta que fez questão de conhecer o Assentamento Pontal dos Buritis, local onde alunos foram atingidos por uma chuva de agrotóxicos despejados por um avião agrícola, em maio deste ano. Para Norder, o caso é sem dúvida um dos mais graves de todo o país. “Esse episódio vai ser lembrado na história da agricultura brasileira. Um risco para a população rural e várias crianças apresentam os sintomas até hoje, sem contar outros problemas futuros”, finaliza.

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