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Sistema de produção reúne orientações para o cultivo de maracujá no Acre

Os conteúdos também orientam sobre a adoção de tecnologias para potencializar a produção de maracujá


Foto: Pixabay

Como implantar e conduzir os pomares, técnicas adequadas de manejo dos plantios, produção de mudas de qualidade e cuidados na colheita e pós-colheita, dentre outros conhecimentos gerados pela pesquisa, estão reunidos na publicação “Cultura do Maracujazeiro no Estado do Acre”, lançada pela Embrapa Acre. Disponível em versão digital, a obra visa auxiliar produtores rurais, técnicos extensionistas, professores, estudantes, pesquisadores e outros públicos interessados no cultivo de maracujá.

Além de informações técnicas, os conteúdos também orientam sobre a adoção de tecnologias para potencializar a produção de maracujá. De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre, Romeu de Andrade Neto, um dos editores técnicos da publicação, esse conjunto de conhecimentos tecnológicos, que envolve desde a escolha da área e preparo do solo para o cultivo até as fases de pós-colheita e comercialização dos frutos, consolida o Sistema de Produção do Maracujá, fundamental para o desenvolvimento da cultura no estado.

“Bem utilizada essa ferramenta pode contribuir para o aumento da produção e sucesso da cultura. É possível produzir maracujá com qualidade e rentabilidade, mas é necessário seguir as recomendações técnicas para implantação e manejo dos cultivos. Práticas como escolha do local apropriado, adoção de espaçamentos adequados, correção da acidez (calagem) e adubação do solo, irrigação, podas periódicas, polinização artificial e controle de pragas ajudam a obter alta produtividade nos plantios”, afirma o pesquisador.

Potencial para a cultura

O maracujazeiro ainda é pouco cultivado no Acre, com uma área plantada de 139 hectares, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Dados do órgão também indicam que a cultura está em franca expansão, com um crescimento de 60% na área cultivada, nos últimos cinco anos. O Sistema de Produção traz informações sobre o zoneamento pedoclimático (clima e solo) para a cultura do maracujazeiro em áreas desmatadas, nos 22 municípios acreanos, com indicação das localidades mais aptas para cultivo.

O pesquisador da Embrapa, Eufran Amaral, coordenador desses estudos, explica que a cultura foi avaliada em três níveis de manejo (com baixa, média e alta adoção de tecnologias), a partir das exigências de solo e clima do maracujazeiro. As avaliações do solo consideraram características morfológicas como aparência e drenagem, e aspectos físicos e químicos. Do ponto de vista climático, foram avaliados fatores como temperatura média anual, precipitação anual e estiagem. O cruzamento dos resultados gerou diferentes níveis de aptidão para a cultura.

“Identificamos zonas com clima e solos preferenciais para cultivo e zonas com clima preferencial e solos recomendados para o cultivo, além de áreas onde os solos são preferenciais ou recomendados, porém o clima não é propício, ou que apresentam clima preferencial, mas os solos são pouco recomendados. Essas informações confirmam o potencial do estado para a cultura e são importantes para orientar o produtor rural quanto aos investimentos. Saber onde plantar ajuda a planejar a atividade e evita prejuízos”, afirma.

Terra para diferentes sistemas de manejo

Dados do zoneamento pedoclimático indicam que o Acre possui terra em abundância, com clima e solo favoráveis para o cultivo do maracujazeiro. Para sistemas de manejo com baixa adoção de tecnologia, ou seja, cultivos que dependem predominantemente das condições naturais do solo, foram identificados 157.390 hectares com aptidão para a produção de maracujá. Para o manejo intermediário, com uso de técnicas de adubação, correção da acidez do solo e práticas simples de controle de erosão, existem 360.601 hectares com clima e solos preferenciais. Para uma produção intensiva, com alto nível tecnológico, são 338.888 hectares de terras aptas.

As maiores áreas com clima e solos preferenciais para o cultivo da fruteira com pouca ou nenhuma tecnologia se concentram nos municípios de Bujari, Porto Acre e Rio Branco, localizados na regional Baixo Acre, e em Tarauacá, Jordão e Feijó, na regional Tarauacá-Envira. No Juruá, todos os municípios apresentam clima e solos adequados para a produção de maracujá nesse sistema de manejo.

Para o manejo intermediário da cultura, os maiores volumes de terras aptas se concentram no Alto Acre (Assis Brasil e Brasileia) e Baixo Acre (Bujari e Porto Acre). Nas regionais Purus e Tarauacá-Envira as principais áreas com aptidão para esse sistema estão em Sena Madureira e Feijó. No Juruá, os municípios de Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul detém as maiores áreas recomendadas para o manejo com nível tecnológico mediano.

Já as áreas com aptidão para sistemas de manejo avançado, com uso de irrigação e polinização manual cruzada, entre outras tecnologias, estão distribuídas nas cinco regionais do estado. Entretanto, os maiores volumes de terra para esse tipo de cultivo se localizam nos municípios de Brasileia (Alto Acre), Sena Madureira (Purus), Tarauacá (Tarauacá-Envira) e Cruzeiro do Sul (Juruá). “Ao definir a aptidão para diferentes sistemas de cultivo, por regional e município, o zoneamento pedoclimático permite uma visão espacial do potencial de cada localidade, essencial para o cultivo da fruta e expansão da cultura com segurança”, ressalta Andrade.

O conhecimento sobre o clima e solos do Acre, associado a dados do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura do maracujá, que informa as épocas mais propícias para plantio, aumenta o potencial da cultura no Estado. Atualizado  no mês de julho, por Portaria publicada no Diário Oficial da União, o Zarc Maracujá é resultado de estudo realizado pela Embrapa, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Banco Central. A ferramenta indica os riscos no cultivo do maracujazeiro em todo o País, considerando aspectos climáticos e solos, por município, para minimizar perdas na produção.

Atividade familiar

O Brasil é o maior produtor de maracujá, respondendo por cerca de 70% da produção mundial de frutos. Plantada em todas as regiões do país, a cultura é alternativa de trabalho e renda para milhares de agricultores familiares. No Acre, o último Censo agropecuário apurou que 113 propriedades rurais estão envolvidas com o cultivo comercial da fruta. Os municípios de Senador Guiomard, Rio Branco e Plácido de Castro são os principais produtores.

Segundo Romeu Andrade, existe uma forte demanda por maracujá no estado, tanto para o consumo in natura da fruta, como para processamento da polpa em agroindústrias. A fruta tem mercado garantido, mas por ser uma atividade de base familiar, os plantios comerciais ainda são pequenos, com até quatro hectares, e conduzidos com baixo padrão tecnológico.  Nessas condições, a produtividade da cultura (8,2 toneladas/hectare) é bem inferior à média nacional (14 toneladas/hectare) e a produção insuficiente para atender o consumo interno.

“Para melhorar o desempenho produtivo dos plantios é preciso investir em alternativas tecnológicas sustentáveis, incluindo o uso de variedades melhoradas associado a práticas de manejo como irrigação, principalmente no período seco. As condições locais de clima e solo proporcionam um importante diferencial para a cultura, que é a produção contínua ao longo do ano, enquanto em outros estados a oferta de frutos se concentra em um período anual. Outro aspecto positivo da cultura é a possibilidade de agregar valor à produção. Do fruto é possível gerar inúmeros subprodutos, ainda pouco explorados no mercado local, podendo resultar em mais renda para os agricultores”, ressalta o pesquisador.

Cultura rentável

A Embrapa já recomendou duas variedades de maracujá para cultivo no Acre: a BRS Sol do Cerrado e BRS Gigante Amarelo. A publicação que concretiza o Sistema de Produção para a cultura no estado também reúne informações sobre coeficientes técnicos, custos e indicadores de eficiência econômica, geradas a partir de cultivos com o maracujá BRS Gigante Amarelo.  De acordo com o analista Márcio Bayma, responsável pelos estudos econômicos, os dados mostram que a produção de maracujá é uma atividade rentável.

“Em lavouras tecnificadas, que seguem as orientações preconizadas pela pesquisa, a análise mostrou que para cada real aplicado na cultura retorna R$ 1,71 (um real e setenta e um centavos) de renda bruta para o produtor. Do ponto de vista da geração de receita, seguidas todas as recomendações técnicas, a produção de maracujá no Acre pode render ganho líquido de dois salários mínimos/hectare/mês. Por ser cultivada predominantemente em pequenos pomares, a cultura representa uma alternativa viável para a geração de renda e manutenção das famílias no meio rural”, avalia.

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