CI

Soja sofre deságio no porto de Paranaguá


O produtor brasileiro está recebendo até US$ 51 (14,3%) a menos por tonelada do que o norte-americano em razão dos problemas no porto de Paranaguá, principal canal de escoamento da safra de grãos brasileira. Segundo Flavio França Júnior, analista da empresa de consultoria Safras & Mercado, ontem o produtor que exporta por Paranaguá estava recebendo US$ 305 por tonelada (preço FOB) contra US$ 356 por tonelada pago no Golfo do México aos exportadores americanos.

Segundo os analistas, o prêmio negativo de Paranaguá, que bateu recorde nesta semana, se acentuou em função da pouca liquidez do mercado e da demora nas operações, causada principalmente pelos testes de transgenia. O deságio chegou a US$ 1,40 por bushel e ontem estava em US$ 1,10/bushel. "O que significa que sobre o preço da soja, de US$ 9,40 por bushel, base Chicago, há um desconto de US$ 1,10 se exportado por Paranaguá", afirma.

Segundo França Júnior, em condições normais, nessa época do ano, a diferença entre o preço pago por tonelada entre as duas localidades ficaria entre US$ 15 e US$ 20. "Hoje está mais que o dobro". A preocupação dos exportadores e dos compradores da soja brasileira é em relação principalmente à demora no fluxo de carregamento dos navios provocado pelos testes e barreiras montadas contra carregamentos de soja modificada em Paranaguá.

Ontem 13 caminhões supostamente carregados de soja transgênica, identificados na última quarta-feira, continuavam retidos no pátio de triagem do porto. "A situação só não é pior, ironicamente, porque houve quebra de safra", avalia França Júnior.

Segundo estimativa da Safras & Mercado, por causa da seca no sul e da chuva na região Centro-Oeste, o volume colhido no Brasil deve ser inferior a 56,5 milhões de toneladas, contra uma previsão inicial de 60 milhões de toneladas. "Mas ainda sim será maior do que a produção do ano passado, de 51,5 milhões. A preocupação é que ritmo de escoamento deve se acentuar nos próximos dias com o avanço da colheita", afirma. Ao todo, cerca de 30% das lavouras brasileiras já foram colhidas.

Ontem o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), Eduardo Requião, admitiu que os problemas existem, mas garantiu que devem ser superados com medidas de emergência como o início da construção do cais oeste e a concretagem das vias de acesso aos terminais de embarque de cargas. "Problemas existentes hoje em Paranaguá são verificados em todos os portos brasileiros. Temos consciência das nossas necessidades. Oscilações sobre risco fazem parte do nosso dia-a-dia", afirmou.

Segundo ele, o porto vai dobrar o carregamento diário de mercadorias para atender a crescente demanda das exportações. A movimentação média está em cerca de 50 mil toneladas ao dia. "Estamos montando uma estratégia para atingirmos a capacidade máxima, de 100 mil toneladas diárias", disse. Para ampliar a ação, explica o superintendente, o porto começa a dar prioridade para o carregamento de navios de grande porte. Outra medida é estabelecer um cronograma de embarque entre exportadores e importadores.

Perda subestimada

Os contratos futuros da soja voltaram a subir no pregão de ontem da bolsa de Chicago, contrariando as tendências de mercado, que eram de queda das cotações após a publicação do relatório mensal sobre oferta e demanda por parte do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), uma vez que o Usda não considerou em suas estimativas a possibilidade de queda das safras da América do Sul, que foram influenciadas pelo clima.

"O mercado desprezou o relatório", diz um trader. Com isso, os contratos futuros da soja, do farelo e do óleo foram negociados em alta. A soja, para entrega em maio, foi negociada a 944 centavos de dólar por bushel, em alta de 2,2% sobre o fechamento anterior. Já os contratos do óleo subiram 2,4%, para 33,19 centavos de dólar por libra-peso, com entrega para igual período, enquanto as cotações do farelo encerraram em alta de 2,1%, com os contratos de maio negociados a US$ 286,60 por tonelada curta. Com as compras especulativas por parte dos fundos, os contratos foram negociados em alta após o Usda informar um volume de exportações norte-americanas em patamares superiores aos previstos pelo mercado.

Segundo o relatório semanal sobre as exportações norte-americanas, as vendas de soja somaram 264,3 mil toneladas na semana encerrada em 04 de março, mas analistas da indústria apostavam em números mais volumosos, com oscilação de 100 mil toneladas para cima ou para baixo durante o período.

Entretanto, as previsões para chuvas na região Sudeste do Brasil podem favorecer o desenvolvimento da safra brasileira, que sofreu com o longo período de estiagem e possivelmente derrubar os preços. "Eu acredito que já é tarde para as chuvas exercerem alguma influência sobre o desenvolvimento da soja", diz um analista.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.